Rio

Milícia dobra taxa de segurança cobrada de moradores na Praça Seca

Valor passou de R$ 50 para R$ 100 em endereços no 'alsfalto'
Moradores afirmam que foram ameaçados Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Moradores afirmam que foram ameaçados Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo

RIO - Há cerca de dez dias, moradores da Praça Seca, na Zona Oeste do Rio, receberam o aviso: os milicianos da região decidiram aumentar o valor da taxa de segurança exigida para quem vive no bairro. A quantia dobrou, passando de R$ 50 para R$ 100. A justificativa dada pelos criminosos é custear algumas “perdas” com apreensões e prisões feitas pela polícia.
Os primeiros a receberem a notícia do aumento foram aqueles que residem em algumas ruas do entorno da Avenida Cândido Benício, principal via do bairro. Os criminosos intimidaram e ameaçaram os moradores, avisando que quem não pagar o valor sofrerá as consequências.
— Apareceram uns caras novos, avisando sobre o novo preço. Disseram que quem não pagar terá a casa invadida e será expulso — disse um morador que pediu para não ser identificado.
Por enquanto, o aumento atingiu apenas quem vive no “asfalto”. Até a última quarta-feira, moradores das Favelas Bateau Mouche e da Chacrinha, ambas controladas pela milícia, ainda não haviam recebido qualquer aviso. Os valores cobrados aos comerciantes também não foram reajustados.
— Por enquanto, eles não falaram nada. Ainda estamos pagando a mesma coisa aqui — disse um morador da comunidade da Chacrinha.
A cobrança de taxas para moradores do “asfalto” começou na Praça Seca em março do ano passado. Na ocasião, os integrantes do grupo paramilitar foram de casa em casa para entregar uma espécie de boleto. O papel tinha que ser preenchido com o nome do responsável por cada residência, o endereço completo do imóvel, o mês vigente da cobrança e o valor mensal estipulado pelos criminosos.

Ecko deu apoio para invasão da região

Um dos suspeitos de participar dos negócios do grupo paramilitar na Praça Seca é Edmilson Gomes Menezes. Ele é apontado pela polícia como um dos líderes da milícia que atua na região e que domina as comunidades do Morro da Barão, do Fubá, Jordão, Campinho, Chacrinha e Bateau Mouche. Contra Edmilson há quatro mandados de prisão em aberto por crimes como homicídio e organização criminosa. O Disque-Denúncia oferece R$ 1 mil por informações sobre o paradeiro do bandido, que está foragido.

De acordo com as investigações da 28ªDP (Praça Seca) e da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado e de Inquéritos Especiais (Draco), os paramilitares que atualmente dominam a Praça Seca contaram com o apoio de Wellington da Silva Braga, o Ecko, acusado de chefiar a maior milícia do estado do Rio. O criminoso enviou homens e armas para reforçar a quadrilha.

Ecko também está foragido e tem contra ele nove mandados de prisão pendentes por crimes como homicídio, formação de quadrilha e extorsão. Por informações sobre o criminoso, o Disque-Denúncia oferece R$ 10 mil, a maior recompensa disponibilizada atualmente pelo órgão. Quem tiver informações sobre os dois criminosos pode fazer contato pelo telefone (21) 2253-1177 e pelo WhatsApp (21)98849-6099.

Em outubro, policiais da 28ª DP (Praça Seca) prenderam um homem suspeito de integrar a milícia da Praça Seca. Com ele, foi foi encontrado um carro clonado. Segundo as investigações, o veículo era utilizado nas extorsões contra comerciantes na região. Na mesma delegacia há uma investigação em andamento que apura denúncias da atuação da milícia no bairro.

Armados e bem vestidos

Em Maricá, na Região Metropolitana do Rio, os milicianos adotaram uma prática inusitada e que vem chamando a atenção de moradores e comerciantes. Na última semana, vestidos com blazers, os criminosos anunciaram o início da cobrança de taxas de segurança em comércios de pontos de Itaipuaçu, distrito da cidade. Armados, espalharam medo na região.

Investigados por uma série de assassinatos, incluindo as mortes de dois jornalistas, de um vereador e de cinco jovens, eles estão cobrando R$ 50 de cada loja.

— Vim para Maricá há alguns anos, fugindo justamente da cobrança de R$ 200 de uma milícia, em uma outra cidade. Agora, apareceram aqui também. São bem apessoados. Vieram de carro importado, e estavam vestindo blazer. Disseram todos estavam colaborando, e que se eu não fizesse a mesma coisa, iria saber depois como ficaria. Estou apavorado! Não procurei a polícia por medo de sofrer consequências — contou um comerciante.

Outro homem que sobrevive do comércio e que também foi extorquido pelos milicianos disse que irá embora da cidade. Um policial e civil e cinco PMs são investigados por suspeita de integrarem a milícia que atua em Maricá.

— Um deles estava com uma pistola e disse que iria iniciar um esquema de segurança particular e que a taxa seria de R$ 50. Eles têm visitado um monte de comerciante, sempre bem vestidos. Estou com medo. Estou pensando em ir embora daqui para montar um comércio em outro lugar. Aqui em Itaipuaçu está difícil — lamentou.