O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), marcou para amanhã um anúncio sobre seu futuro político. Segundo deputados estaduais e integrantes da Executiva estadual que se reuniram com Leite na noite de segunda-feira, em Porto Alegre, o governador deve anunciar sua renúncia ao governo do Estado para disputar as eleições de 2022 fora do cargo, mas não a sua desfiliação do PSDB, que já escolheu em prévias o governador de São Paulo, João Doria, como seu pré-candidato à Presidência.
Lideranças do partido, como o deputado federal Aécio Neves (MG) e o senador Tasso Jereissati (CE), ainda tentam convencer Doria a ceder lugar ao gaúcho. Segundo os deputados estaduais gaúchos, Leite teria afirmado que pretende disputar a Presidência da República. A alternativa para fazê-lo fora do PSDB seria filiar-se ao PSD, que já o convidou. O prazo final tanto para desincompatibilização quanto para troca de partido é 2 de abril.
“Ele estava muito angustiado [na reunião]. Não quer deixar o PSDB de jeito nenhum. Mas a única alternativa para isso é o [João] Doria desistir”, disse o deputado estadual Pedro Pereira, que faz parte da Executiva estadual do partido e esteve presente à reunião de segunda-feira.
Outro membro da Executiva, o deputado estadual Faisal Karam confirma a renúncia. “Viabilizar a possibilidade da terceira via é uma oportunidade muito grande para ele neste momento”, resumiu.
Segundo as fontes ouvidas pelo Valor, Leite vai esperar até o último momento por uma definição do PSDB, partido ao qual se filiou há mais de 20 anos e do qual não gostaria de sair.
O anúncio de Leite vai anteceder a assembleia geral dos prefeitos gaúchos, que começa amanhã no balneário de Torres. O vice-governador Ranolfo Vieira Junior (PSDB) representará Leite.
O atual vice deverá acompanhar Leite numa eventual troca de partido. Filiado ao PSDB há seis meses, Ranolfo já declarou que não se sentiria confortável de frequentar outro palanque que não o de Leite nas eleições presidenciais.
Outros dois deputados estaduais, dos quatro tucanos na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, devem acompanhar o governador em caso de migração para o PSD.
O deputado estadual Mateus Wesp disse confiar na permanência de Leite e espera que a solução passe pela aliança com MDB e União Brasil. “As prévias não são apenas para entregar uma opção de candidato, mas de um candidato com viabilidade de ganhar a eleição”, afirmou. O presidente estadual do PSDB, deputado federal Lucas Redecker, não quis comentar a decisão do governador.
Em Brasília, a saída de Leite do partido é considerada agora o cenário menos provável. Em caráter reservado, interlocutores de Leite reconheceram que a carta assinada por lideranças tucanas pedindo pela permanência dele na sigla o deixaram balançado. No documento, destacaram a trajetória dele no PSDB e disseram não admitir perdê-lo em um momento crucial para o país.
Assinada por 28 correligionários, a carta recebeu no fim de semana o apoio público do governador de São Paulo, João Doria, que derrotou Leite nas prévias que definiram o nome que representaria o partido na corrida presidencial. O documento foi assinado pelo presidente do PSDB de São Paulo, Marco Vinholi. O aceno do governador paulista foi visto como uma tentativa de reunificar o partido presidido por Bruno Araújo.
O alerta feito por dirigentes do PSDB, endossado por lideranças de MDB, Cidadania e União Brasil, de que ele ficará isolado se migrar para o PSD e que seria mais fácil apoiá-lo futuramente caso permanecesse no atual partido também podem contribuir para que o gaúcho reavalie o cenário.
O possível recuo de Leite já reflete no comportamento de aliados do gaúcho da bancada federal. Parlamentares que já haviam sinalizado que deixariam a legenda estariam recalculando rota e avaliando ficar no PSDB. Um dos casos é o ex-líder Rodrigo de Castro (MG), que estava de malas prontas para o PSD até dias atrás.
*Para o Valor