O presidente Jair Bolsonaro chamou de “cara de pau” e “sem caráter” os signatários da carta pela democracia. Organizado pela Faculdade de Direito da USP, o manifesto também defende o sistema eleitoral e já ganhou apoio de quase 700 mil pessoas, incluindo ex-ministros do Supremo Tribunal Federal, intelectuais, empresários e artistas.
“Esse pessoal que assina esse manifesto é cara de pau, sem caráter. Não vou falar outros adjetivos porque sou uma pessoa bastante educada”, afirmou o presidente, ontem, em entrevista à “Rádio Guaíba”, de Porto Alegre.
Desde que foi lançado, o manifesto tem sido alvo de ataques do presidente. No início da semana, Bolsonaro já havia classificado os empresários que apoiam o texto como “mamíferos”, sugerindo que eles sugam o Estado.
A carta será lida no dia 11 de agosto. Como estratégia para rebater a mobilização, Bolsonaro deve se reunir com empresários no mesmo dia em São Paulo, em sabatina na Fiesp.
Na entrevista, Bolsonaro também atacou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, defendendo que o ministro deveria ser investigado no inquérito das “fake news” por afirmar que o Brasil possui um dos sistemas eleitorais mais seguros do mundo.
Sem apresentar nenhum indício de fraude, o presidente tem feito reiteradas críticas às urnas e insiste que as Forças Armadas façam uma auditoria no sistema.
“Que maravilha de sistema esse que ninguém quer”, disse Bolsonaro. “Com todo respeito ao Fux, de vez em quando nós trocamos algumas palavras, ele é chefe de Poder, mas no mínimo, para ser educado, [a fala é] equivocada ou ‘fake news’, que deveria estar o Fux respondendo processo no inquérito do Alexandre de Moraes, se fosse um inquérito sério e não essa mentira.”
O inquérito ao qual o presidente se refere foi aberto pelo STF para investigar a propagação de notícias falsas, além de ataques e ameaças às instituições da qual o próprio presidente foi protagonista.
Sobre o voto impresso, cuja adoção foi rejeitada em votação no Congresso, o presidente voltou a criticar o ministro Luís Roberto Barroso, que à época da apreciação da proposta no legislativo presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), chamando-o de “criminoso” por ter se encontrado com dirigentes políticos antes do Legislativo votar sobre o tema.
O ministro rebateu as acusações pelas redes sociais. “Mentir precisa voltar a ser errado de novo. Compareci à Câmara dos Deputados, como presidente do TSE, para debater o voto impresso, atendendo a TRÊS CONVITES OFICIAIS. E foi a própria Câmara que derrotou a proposta de retrocesso. Mas sempre haverá maus perdedores”, escreveu Barroso, nas redes sociais.
Mais uma vez sem apresentar provas de fraudes ou de ineficiência do atual sistema de auditagem coordenado pelo TSE, Bolsonaro defendeu que haja uma filmagem de parte das urnas no momento da votação para que a higidez do sistema seja colocada à prova.
“As pessoas vão votando e sabendo que estão sendo filmadas. ‘Olha, você vai ser filmado agora, você quer votar aqui aleatoriamente em quem você quiser, independente da sua vontade, esse ou aquele candidato'. A pessoa topa, são filmadas e no fim do dia, com esse filme pronto, você vê se quem a pessoa digitou [apareceu na urna]”, explicou.
Segundo Bolsonaro, o TSE ainda não respondeu sobre esta sugestão. O tribunal tem rechaçado qualquer possibilidade de ocorrerem fraudes. De acordo com a corte, o sistema eleitoral brasileiro é transparente, seguro e auditável.
A proposta do presidente fere o princípio do sigilo do voto, que está consagrado no Brasil desde os anos 30. É inclusive matéria constitucional, expresso no artigo 14, tratando-se ainda de cláusula pétrea, de acordo com o parágrafo 4 do artigo 60.