Por Raoni Alves, g1 Rio


Na Câmara, Gabriel Monteiro diz que não vê problemas em gravar vídeos após oferecer dinheiro para pessoas cometerem crimes

Na Câmara, Gabriel Monteiro diz que não vê problemas em gravar vídeos após oferecer dinheiro para pessoas cometerem crimes

Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara do Rio, que durou mais de duas horas, o vereador Gabriel Monteiro falou sobre as acusações de estupro, assédio e por forjar vídeos na internet.

Segundo o presidente do colegiado, o vereador Alexandre Isquierdo, o parlamentar afirmou que não vê problemas em oferecer dinheiro para pessoas que possam cometer crimes em vídeos na internet.

O vereador classificou como um "experimento social" a ação onde sua equipe grava homem em situação de rua sendo orientado a furtar a bolsa de uma mulher na Lapa, em troca de R$ 400.

Vereadores do Conselho de Ética se reúnem para ouvir o também parlamentar Gabriel Monteiro — Foto: Raoni Alves/g1

"Segundo ele, era um experimento social com a temática do feminicídio. A ideia era mostrar que pessoas se vendem por qualquer valor que seja para cometer um ato de feminicídio. Ele alega que alguns dos funcionários que participaram daquele vídeo não eram assessores", disse o presidente do conselho.

Isquierdo também comentou sobre as explicações de Gabriel em relação aos vídeos com crianças menores de idade. Em uma das filmagens o vereador leva uma menina menor ao shopping e diz o que ela deveria falar durante a gravação.

Em outro vídeo, uma criança é levada a um salão de beleza. Esse vídeo foi denunciado ao conselho por que, supostamente, teria praticado algum tipo de abuso, ao tocar o corpo da jovem.

Nos dois casos, Gabriel Monteiro diz que os vídeos mostram ações sociais em benefício das próprias crianças. As imagens teriam como objetivo comover as pessoas a doarem dinheiro para as meninas.

"A ação dele foi de ajudar, segundo ele. A manipulação do vídeo tinha o intuito de ajudar (...) Ele diz que o objetivo era orientar a menina de tal forma que ela pudesse relatar a verdade e esse vídeo pudesse comover, para que elas (as crianças) pudessem ter uma ajuda com a vaquinha (doações)", disse o vereador.

Em outro momento, Isquierdo também lembrou que Gabriel voltou a dizer que a jovem gravada praticando sexo com ele mentiu a idade e, portanto, ele não sabia que se tratava de uma menor.

"O vereador se defendeu de forma muito específica sobre aquilo que ele foi acusado no conselho. Ele disse não saber a verdade sobre a idade dela. Ele disse que ela omitiu pra ele e confirmou na delegacia, que durante todo o relacionamento ela disse ter mais de 18 anos. O vereador até externou emoção ao contar esse fato por ter sido enganado", completou.

Relator aponta contradições de Gabriel Monteiro

De acordo com o relator do processo, o vereador Chico Alencar (Psol), Gabriel caiu em algumas contradições ao logo da oitiva.

"Observamos algumas contradições nesses depoimentos. Especificamente hoje, na fala do vereador, ele diz que os assessores não trabalham na sua empresa de YouTube, mas afirmou que os pagava por fora. Segundo, isso de oferecer vantagens para pessoas comuns (vídeo com o morador de rua), vem ao caso se a pessoa era uma pessoa escolhida aleatoriamente na rua sem a ciência do que se estava sendo proposto. No início, ele atribuiu a terceiros de sua equipe a contratação ou oferta, mas disse que não considerava nada anti-ético oferecer dinheiro em nome de um bem social maior. Claramente, os fins ai justificariam os meios", disse Chico.

"Ele disse que não contrata ninguém pra sair como vilão. Efetivamente, os vídeos mostram que tem vilões e herói, no singular".

Segundo Alencar, Monteiro também disse que não foi ele que vazou o vídeo tendo relações sexuais com uma menina menor.

"Ele nega qualquer ciência da idade dela. Mas é bom lembrar que a Polícia Civil e o MP vão por outro caminho. Eles dizem ter elementos para provar que ele sabia da idade dela", completou.

"Outra coisa que chama atenção é que ele disse que filmava relações sexuais para se precaver de possíveis denúncias de estupro. Isso é bastante singular. Ele não vê problemas éticos nessas filmagens".

Investigado por denúncias de estupro, assédio e por forjar vídeos na internet, o ex-policial militar e youtuber pode ter o mandato cassado ao final do julgamento político.

Ouvir o vereador é a última etapa do processo antes do recesso parlamentar, que acontece durante o mês de julho.

Até o momento, o Conselho de Ética trabalhou nesse caso por 73 dias, com 12 testemunhas ouvidas, sendo 8 de defesa e 4 de acusação.

Sobre a apresentação do relatório final, Chico Alencar disse que tudo será avaliado com base no código de ética da Câmara.

"A gente não está aqui avaliando todo esse processo em cima do código penal, mas sim do código de ética e decoro parlamentar. Esse é nosso norte e nós vamos avaliar. Por fim, se houver pedido de punição vai para o plenário, que é soberano para decidir. Temos que ter o resgate da boa prática política, transparência e honestidade", comentou.

O colegiado deve fazer a leitura do relatório final no primeiro dia útil de agosto, quando o documento será apreciado pelos membros do conselho.

Antes da votação do grupo, a defesa terá cinco dias úteis para apresentar suas alegações finais. Após esse prazo, o documento será votado pelos membros do conselho.

Caso seja aprovado, o relatório que pode recomendar a cassação do mandato do vereador só deve ser votado em plenário na segunda quinzena agosto. A previsão é que isso aconteça no dia 10 daquele mês.

À direita, relator do processo, o vereador Chico Alencar — Foto: Raoni Alves/g1

Segundo o relator do caso, o vereador Chico Alencar (Psol), o colegiado deve fazer a leitura do relatório final no primeiro dia de trabalho de agosto, quando o documento será apreciado pelos membros do conselho.

Caso seja aprovado, o relatório que pode recomendar a cassação do mandato do vereador só deve ser votado em plenário na segunda quinzena agosto. A previsão é que isso aconteça no dia 10 daquele mês.

Vereador cometeu crime, disse delegado

Na terça-feira (23), o delegado Luís Maurício Armond Campos, da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), confirmou ao Conselho que Gabriel cometeu crime sexual.

O policial é responsável pelo inquérito criminal que apura um vídeo do vereador fazendo sexo com uma menor de idade, entre outras denúncias.

O ex-policial militar e youtuber é investigado por denúncias de estupro, assédio e por forjar vídeos na internet.

Conselho de Ética da Câmara se reúne para ouvir delegado que investiga caso Gabriel Monteiro — Foto: Raoni Alves/g1

De acordo com o delegado, o vereador também pode ser acusado por exposição de pessoas em vulnerabilidade, coação no curso do processo, peculato e utilização de servidores em funções diferentes do que deveriam ter.

Na opinião do vereador Chico Alencar (Psol), relator do processo ético-disciplinar por quebra de decoro contra Monteiro, o depoimento do delegado foi bastante positivo.

O relator do processo ainda chamou de "gol contra" a estratégia dos advogados de defesa de Gabriel, que decidiram convocar o delegado responsável pelas principais investigações criminais desse caso.

"Os melhores times também fazem gol contra. O delegado agiu com muita isenção na oitiva", comentou Chico Alencar.

PM também foi ouvido

PM que participou de abordagem será ouvido na investigação do Conselho de Ética sobre Gabriel Monteiro — Foto: Raoni Alves/g1

O segundo depoimento do dia foi do policial militar Pablo Foligno, que falou sobre sua participação em um vídeo com uma pessoa em situação de rua.

Na gravação, outro funcionário de Gabriel Monteiro aparece orientando um morador de rua a simular um furto e depois sofrer abordagem do vereador.

Pablo Foligno surge no vídeo após Gabriel abordar o homem em situação de rua. Nas imagens, o policial empurrar o homem no chão e faz diversas ameaças.

Aos membros do conselho, Pablo confirmou que a equipe de Gabriel ofereceu R$ 400 reais ao morador de rua para que ele participasse da ação que o vereador definiu como um "experimento social".

Para o presidente do conselho, o vereador Alexandre Isquierdo, o fato da ação ser batizada como experimento social não retira a possibilidade de constatar um crime.

"Apesar deles alegarem ser um experimento social, é notório ali um constrangimento. Como disse o delegado, uma motivação de um crime, isso a gente já percebeu. Inclusive com pessoas vulneráveis, pessoas necessitadas, como aquele morador de rua, onde é oferecido R$ 400 para ele forjar um crime. Como disse o Pablo, policial, o objetivo era forjar um crime para que o vereador Gabriel Monteiro pudesse abordar aquele cidadão e, talvez, dar uma lição de moral", comentou Isquierdo.

O delegado Maurício Armond também comentou o vídeo e reforçou o entendimento dos vereadores do conselho.

"O embasamento em si (experimento social) não vai afastar uma ilicitude do fato. (...) Não é todo experimento que é permitido. Nem todos os personagens, pelo que está sendo apurado, estariam conscientes dessa questão. Então não seria uma só encenação, haveria a possibilidade de acontecimentos imprevisíveis", completou o delegado.

Conselho de Ética ouve dois últimos depoimentos de testemunhas do caso Gabriel Monteiro

Conselho de Ética ouve dois últimos depoimentos de testemunhas do caso Gabriel Monteiro

Na terça-feira passada (14), foram ouvidas outras testemunhas de defesa indicadas pelo vereador: o assessor de marketing Rafael Murmura Ângelo, o ex-PM Miqueias Arcênio.

Os dois integravam a equipe de Gabriel Monteiro na Câmara. Para o presidente da Comissão de Ética, vereador Alexandre Isquierdo, esses depoimentos pouco acrescentaram ao processo.

O que diz a defesa do vereador

Em nota, os advogados de defesa do vereador Gabriel Monteiro comentaram sobre o vídeo do parlamentar com uma menor de idade e sobre outras denúncias.

"Os advogados do vereador Gabriel Monteiro afirmaram que o delegado Luis Maurício Armond declarou que a menor que aparece no vídeo confirmou em depoimento que disse ao parlamentar ter 18 anos e que há uma investigação em curso onde já se provou a ligação de Rafael Sorrilha com os ex-assessores que acusam Gabriel Monteiro, deixando claro que todas as denúncias foram motivadas pela prisão efetivada contra o empresário quando ele ofereceu dinheiro ao vereador para não divulgar a máfia dos reboques".

"Já a testemunha Pablo Foligno afirmou que agiu em legitima defesa ao empurrar um homem que estava com uma pedra na mão durante gravação de vídeo de experimento social contra o feminicídio, e que, nesse momento, conforme demonstram as imagens, o parlamentar não estava mais presente no local."

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