Coronavírus

Por Lara Pinheiro, G1


Agente segura amostra para ser testada para Covid-19 em Nova Déli, na Índia, nesta terça (7). — Foto: Sajjad Hussain / AFP

Em meio à corrida por vacinas e remédios contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, a luta por mais testes diagnósticos é outra que vários países, inclusive o Brasil, estão travando.

Nesta reportagem, você pode tirar dúvidas sobre os testes diagnósticos para o novo coronavírus:

  1. Quais são os tipos de testes que existem?
  2. Qual o melhor tipo de teste?
  3. Que tipos de testes o Brasil tem?
  4. Se eu tiver sintomas de Covid-19, posso pedir um teste em um posto de saúde ou hospital?
  5. Quem pode fazer o teste?
  6. Onde as amostras dos exames são analisadas?
  7. Quem trabalha na saúde tem que ter prioridade para ser testado?
  8. Por que o Brasil não consegue testar mais gente?
  9. Por que é importante testar mais pessoas?
  10. Como a Coreia do Sul e a Alemanha conseguiram testar tantas pessoas?
  11. Outros países têm tido problemas?

Nas outras reportagens da série publicada pelo G1, entenda como o corpo luta contra a doença, o que se espera dos remédios no futuro e como está a busca pelas vacinas.

1. Quais são os tipos de testes que existem?

Existem, basicamente, dois tipos de testes. No primeiro deles, o PCR, é colocado um cotonete na boca ou no nariz da pessoa que vai ser testada. Depois, essa amostra é examinada em laboratório, e o teste consegue dizer se o vírus está ou não ali. Ele leva cerca de 4 horas para mostrar o resultado.

Os outros tipos de testes são os de anticorpos, os chamados "testes rápidos". Esses são mais fáceis de fazer: com uma picada no dedo da pessoa que vai ser testada para retirar a amostra de sangue (como na foto abaixo).

Agente de saúde faz teste rápido em criança para a Covid-19 em Antananarivo, Madagascar, no dia 3 de abril. — Foto: RIJASOLO / AFP

Essa amostra é colocada em uma máquina que vai mostrar, em poucos minutos (de 10 a 30, a depender do fabricante), se a pessoa tem anticorpos para o vírus. Esses anticorpos são produzidos pelo próprio corpo para se defender da doença: se a pessoa tem, significa que ela já foi infectada.

2. Qual o melhor tipo de teste?

Depende da época em que o exame é feito.

O teste PCR é considerado o melhor tipo para diagnosticar a Covid-19, porque consegue detectar o vírus logo no começo da doença. Além disso, ele é capaz de encontrar o material genético do vírus, por isso, é difícil que a pessoa receba um resultado errado se estiver nos primeiros dias da Covid-19.

Por outro lado, se a pessoa faz o PCR muito tempo depois de ter a doença, o exame pode não achar mais o vírus. Cerca de 12 dias depois da infecção, por exemplo, o resultado já pode vir negativo, explica o médico Carlos Eduardo dos Santos Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial.

Conheça as vantagens e desvantagens do teste PCR para detectar o coronavírus

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É aí que entram os testes de anticorpos. Eles são bons para descobrir se a pessoa já tem os anticorpos para o vírus, ou seja, se já consegue se defender dele. O problema desse tipo de teste é que o corpo demora para produzir os anticorpos. Por isso, o exame só consegue achá-los a partir do sétimo dia da doença, ou seja: antes disso, existe a grande chance de que alguém, mesmo que tenha a Covid-19, receba um resultado negativo.

Os especialistas recomendam que cada laboratório comprove a qualidade do teste rápido que vai usar, porque ela varia de acordo com o fabricante, explica o médico Carlos Eduardo dos Santos Ferreira.

3. Que tipos de testes o Brasil tem?

Os dois tipos. A Fiocruz, no Rio de Janeiro, produz os testes do tipo PCR e envia ao Ministério da Saúde, que distribui para os estados. Esses são usados na rede pública (SUS). Alguns hospitais e laboratórios privados também produzem os testes do tipo PCR.

Além disso, o governo recebeu testes rápidos de fora do país para serem usados em profissionais de saúde. A Fiocruz também planeja produzir esses tipos de exames.

4. Se eu tiver sintomas de Covid-19, posso pedir um teste em um posto de saúde ou hospital?

No geral, não. Se você tiver apenas febre ou tosse, por exemplo, a orientação é que fique em casa, em isolamento (veja dicas de como isolar uma pessoa doente em casa sem contaminar outras).

Mas atenção: se sentir falta de ar, deve procurar uma unidade de saúde imediatamente.

Mesmo na rede privada, a orientação também é que os exames só sejam feitos se um médico pedir.

5. Quem pode fazer o teste, então?

Na rede pública (SUS), os testes são feitos só em pacientes internados (casos graves). A equipe de saúde no hospital coleta a amostra e a envia para um laboratório, que faz a análise e dá o resultado.

6. Onde as amostras são analisadas?

No começo, essa análise era feita nos 27 laboratórios centrais do país (um em cada estado e no Distrito Federal) ou nos três laboratórios de referência: o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, o Evandro Chagas, no Pará, ou o Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, ligado à Fiocruz.

Mas, como muitos exames aguardam na fila, vários laboratórios e universidades estaduais estão sendo capacitados para conseguir analisar as amostras também.

7. Quem trabalha na saúde tem que ter prioridade para ser testado?

Sim – assim como policiais e bombeiros. Isso porque essas pessoas têm atividades consideradas essenciais e, além disso, podem transmitir a doença a muitas outras.

O Ministério da Saúde, ao anunciar a compra de 500 mil testes rápidos, disse que a intenção era que fossem usados, com prioridade, em profissionais da saúde e agentes públicos de segurança.

8. Por que o Brasil não consegue testar mais gente?

Primeiro, porque os testes (do tipo PCR) precisam de materiais importados para serem fabricados e esses estão em falta em todo o mundo, para vários países (como a Holanda, por exemplo).

Outro motivo: a fila das análises. Depois que a pessoa passa pelo exame do cotonete, essa amostra precisa ser analisada em laboratório. Mas os laboratórios não têm conseguido fazer isso rápido o suficiente. Até a última quinta-feira (2), a fila de exames para serem analisados era de pelo menos 25 mil no Brasil inteiro (16 mil deles só em São Paulo).

9. Por que é importante testar mais pessoas?

Existem vários motivos:

  • Diminuir a infecção

Se o Brasil conseguisse testar mais pessoas, daria para descobrir, exatamente, quantos doentes existem no país (até aqueles sem sintomas). Com isso, fica mais fácil isolar quem está infectado, buscar as pessoas com quem esse doente esteve e tentar diminuir o espalhamento do vírus. Isso ajuda a enfrentar e conter a doença.

  • Impedir complicações

Também fica mais fácil tentar impedir as complicações pela doença. Por exemplo: hoje, no Brasil, só os casos graves são testados. Os leves ficam em casa. Mas, se a pessoa que está com sintomas leves passa a ter dificuldade de respirar, ela precisa ir para o hospital e pode precisar de uma UTI e de um respirador mecânico.

Mas, quando os médicos conseguem testar essas pessoas antes de elas terem problemas para respirar, podem acompanhar de perto e tentar ajudar mais rápido — colocando no respirador mecânico quando o caso ainda não é tão grave, por exemplo. Isso está sendo feito na Alemanha, explicou o médico Hans-Georg Kräusslich, da Universidade de Heidelberg, ao jornal "The New York Times".

  • Letalidade

Se você testar mais pessoas, vai descobrir que tem mais doentes do que pensava. Isso pode parecer ruim, mas não é.

Isso porque existe a chamada taxa de letalidade. Essa taxa é um número que diz quantas pessoas que ficam doentes morrem por causa de uma doença. Por exemplo: se uma doença tem 1% de taxa de letalidade, significa dizer que, a cada 100 pessoas que ficam doentes, uma morre.

No caso da Covid-19, esse número ainda é desconhecido. Na China, por exemplo, ele está em cerca de 4% — 4 pessoas morrem a cada 100 infectadas. Já na Alemanha está em 1,78%. O número pode mudar muito porque, se um país não faz testes suficientes, pode parecer que muitas pessoas morrem mesmo que o lugar tenha poucos doentes.

Por esse motivo, quanto mais pessoas são testadas e mais casos são descobertos, mais fácil fica descobrir quantas pessoas morrem, em média, pelo novo coronavírus.

  • Anticorpos

Se um país já tem muitos casos detectados de Covid-19, a chance é que muitas pessoas já tenham os anticorpos para o vírus, ou seja: elas conseguem se defender dele. Isso pode ajudar a definir como será o isolamento em algumas regiões.

Por exemplo: a Itália, que é o país com maior número de mortes pelo vírus no mundo, está pensando em criar uma "autorização de circulação" para as pessoas que já têm os anticorpos para Covid-19. Elas poderiam retomar suas atividades e não precisariam mais ficar em isolamento.

(Mas essa estratégia ainda não funcionaria no Brasil, porque o país ainda tem poucos casos em relação ao número de habitantes, explica o patologista Carlos Eduardo Ferreira. "Se fizer isso [testar muitas pessoas para anticorpos], não vai ter muitos positivos, pode estar jogando dinheiro fora nessa fase de doença também", avalia).

10. Como a Coreia do Sul e a Alemanha conseguiram testar tantas pessoas?

1º de abril: equipe médica usando equipamentos de proteção individual (EPIs) testa amostras para detectar a Covid-19 no aeroporto de Incheon, a oeste de Seul, na Coreia do Sul, depois que o primeiro avião fretado enviado pelo governo sul-coreano chegou ao país com 309 cidadãos vindos da Itália. — Foto: Jung Yeon-je / AFP

Tanto a Coreia do Sul como a Alemanha têm sido apontadas como exemplos de países que conseguiram testar muitas pessoas.

Na Alemanha, por exemplo, têm sido feitos 500 mil testes do tipo PCR por semana. Isso porque o país tem uma vasta rede de laboratórios, grandes e pequenos, que conseguem fazer os testes. Logo no começo da pandemia, em janeiro, um hospital em Berlim criou e divulgou um protocolo para fazer os exames diagnósticos, que foi copiado por vários outros laboratórios e universidades. Isso ajudou a aumentar a capacidade de testagem.

Na Coreia do Sul, o governo agiu rápido: também em janeiro, reuniu empresas para criar testes diagnósticos para o vírus e facilitou que eles fossem colocados no mercado. Logo, foi possível fazer testes de dentro de carros (drive-through) e milhares de pessoas começaram a ser testadas diariamente. No meio de março, 100 laboratórios sul-coreanos já eram capazes de fazer o diagnóstico, segundo reportagem da agência Reuters.

11. Outros países têm tido problemas?

Equipe médica prepara medicamentos para paciente em uma ala de Covid-19 em Haia, na Holanda, que também tem tido problemas com testes. — Foto: Remko De Waal / ANP / AFP

Sim. A Itália, por exemplo, conseguiu fazer testagem em massa na região de Veneto, mas não implementou a mesma medida na Lombardia, região mais atingida pelo vírus. Lá, só os casos mais graves eram testados, e de pessoas internadas, segundo reportagem da agência Reuters.

Na Holanda, o problema é a escassez de materiais, como os produtos químicos necessários à detecção do vírus e outros itens de laboratório, segundo o jornal holandês "De Volkskrant".

A virologista Chantal Reusken, do Instituto Nacional da Saúde e do Meio Ambiente do país, disse em entrevista ao jornal no dia 22 de março que "no começo do surto, muito do estoque foi para a China, e, depois, medidas de quarentena fizeram com que várias fábricas de equipamento de laboratório fechassem.

A capacidade de testagem da Holanda, que até aquela data havia feito cerca de 23 mil testes, é de cerca de 9 mil exames por dia, que são feitos em 34 laboratórios. "Mas isso se não houver escassez", disse Reusken.

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