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Balanço; contas; finanças (Foto: Pexels)

Para tentar recompor o orçamento, especialistas recomendam renegociar financiamentos antigos, fechados com juros maiores, pedir portabilidade da dívida e até recorrer à moratória (Foto: Pexels)

Com a paralisação da atividade econômica, quem tem dívidas ou financiamentos teme não conseguir honrar suas obrigações. Para tentar recompor o orçamento, especialistas recomendam renegociar financiamentos antigos, fechados com juros maiores, pedir portabilidade da dívida e até recorrer à moratória.

Pouco antes da pandemia, o engenheiro Clevis Antonio Franca fez as contas e decidiu fazer a portabilidade de dois financiamentos para a start-up financeira Bcredi. Foi na hora certa, pois a demanda por seus serviços caiu bastante:

- Troquei duas parcelas que somavam cerca de R$ 6 mil mensais para um pagamento de R$ 3 mil, com taxa de 0,99% ao mês. Foi uma decisão acertada, pois consigo ter mais conforto para lidar com as contas da família. Hoje não conseguiria acomodar a dívida antiga.

Franca optou pelo crédito com garantia de imóvel, também conhecido como home equity. Nessa modalidade, a pessoa contrata um financiamento — ou faz a portabilidade de uma dívida — dando seu imóvel como garantia.

- É vantajoso para quem precisa de dinheiro para realizar investimentos ou que pretende trocar dívidas de outras modalidades de juros mais altos e prazos menores - diz o diretor de Operações da Bcredi, Henrique Cantagesso.

A Caixa Econômica Federal anunciou, no início deste mês, que mutuários com até duas prestações em atraso poderão renegociar os contratos, suspender o pagamento das parcelas por 90 dias ou pagar apenas parte delas, pelo mesmo período. Logo após o início da pandemia, a suspensão só era válida para quem estava em dia.

Já Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander prorrogaram por 60 dias os vencimentos de dívidas de clientes pessoas físicas e micro e pequenas empresas, inclusive no crédito imobiliário. A Serasa Experian, por sua vez, realizou feirões on-line de negociação, que, só em março, resultaram em dois milhões de acordos, com descontos de até 98%.

O analista-chefe da Toro Investimentos, Rafael Panonko, observa, porém, que essa suspensão temporária de pagamentos é pouco significativa em uma situação extrema, como o desemprego:

- Pode ser que o trabalhador autônomo consiga se restabelecer em dois meses, mas quem ficar desempregado pode levar de três a quatro meses para conseguir um novo trabalho. E terá de recorrer a medidas mais drásticas, como a moratória.

A coordenadora de Projetos da Construção do Ibre/FGV, Ana Maria Castelo, defende, em caso de perda de emprego, a renegociação da dívida, pois uma moratória vai apenas adiar os pagamentos:

- Ainda não sabemos qual será a dimensão dessa crise nem seu impacto. Quem já foi afetado deve negociar. Se a pessoa desistir do imóvel, vai perder parte do que já pagou. É melhor recorrer a uma negociação para estender o prazo de pagamento. A moratória é um recurso para ser acionado caso a pessoa não tenha outra opção, pois não significa deixar de pagar.

Rafael Scodelario, especialista do setor imobiliário, ressalta que a mudança de patamar dos juros — a taxa básica Selic está hoje em 3,75%, contra 6,5% há um ano — traz a oportunidade de renegociação ou portabilidade de dívida:

- Quem financiou um imóvel em 2014, por exemplo, com uma taxa em torno de 11%, hoje tem um cenário completamente diferente. É possível pedir a portabilidade dessa dívida, reduzindo as taxas e ampliando o prazo de pagamento.

Para Panonko, a crise ressalta a importância da educação financeira:

- O brasileiro tem o sonho da casa própria, mas não se preocupa em ter uma reserva de emergência.