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Três estados voltam às aulas presenciais obrigatórias; secretário de São Paulo já vê aumento de alunos

Mato Grosso e Bahia também adotaram a medida, já implementada por Santa Catarina, Amazonas, Paraná, Espírito Santo, Goiás e Distrito Federal
Aluno na volta às aulas em São Paulo Foto: CARLA CARNIEL / REUTERS
Aluno na volta às aulas em São Paulo Foto: CARLA CARNIEL / REUTERS

SÃO PAULO E RIO - O motorista José Ronaldo Tiago dos Santos Júnior, de 31 anos, levou ontem os filhos para a escola pela primeira vez desde o início da pandemia, no primeiro dia de aulas presenciais obrigatórias na rede pública do estado de São Paulo. Morador do Jabaquara, na Zona Sul da capital paulista, Ronaldo conta que já queria que os filhos Pietro, de 10 anos, e Maria Júlia, de 11, tivessem voltado para o ensino presencial, mas os dias e horários de revezamento não batiam com os do seu trabalho.

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— Hoje, quando deixei os dois, senti um alívio muito grande. Também um pouco de medo, por causa da pandemia, mas sobretudo alívio por saber que as coisas estão se encaminhando. Eles estavam desde ontem com mochila pronta e roupa separada. Gostam de ir à escola, sentiam falta — contou José, que buscou os filhos por volta das 18h. — Dá para ver que estão felizes, já chegaram em casa contando histórias do primeiro dia de aula.

O secretário estadual de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, disse que foi notada ontem uma melhora aparente na adesão dos alunos, que na última semana ficou em 70%. Rossieli prevê que mais estudantes deverão retornar nos próximos dias. Bahia e Mato Grosso também voltaram completamente às aulas presenciais ontem, após um ano e meio de revezamentos entre o ensino remoto e o híbrido.

— Ainda não temos os números, mas a percepção é boa. Pela nossa experiência de outros momentos, sabemos que a volta é contínua, então esperamos que ao longo da semana ela aumente ainda mais — afirmou Rossieli.

Com cerca de 3,5 milhões de estudantes, a rede pública de São Paulo só deve eliminar totalmente as aulas híbridas em novembro, porque ainda há salas onde não é possível garantir o distanciamento dos estudantes. Santa Catarina, Amazonas, Paraná, Espírito Santo, Goiás e Distrito Federal já haviam adotado a volta às aulas presenciais. Em Brasília, a média de presença já chegou a 90%, patamar similar ao anterior à pandemia.

Na Bahia, onde ainda não há dados sobre a adesão ao ensino presencial, o secretário da Educação Jerônimo Rodrigues disse que o estado registrou escolas movimentadas novamente, com os estudantes motivados no retorno às salas:

— As aulas 100% presenciais dizem muito sobre a necessidade de fortalecer a aprendizagem dos estudantes na escola, que é este ambiente de aprendizagem, mas também de acolhimento e de afeto.

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Na rede estadual do Paraná, a frequência está hoje próxima dos 70%. O estado informou que as escolas continuam fazendo a busca ativa para atingir 90% de presença, índice de antes da pandemia.

Pesquisador da Universidade Federal de Alagoas que trabalha com dados de Covid-19 nas escolas, Sérgio Lira lembra os cuidados que ainda são necessários contra a doença:

— Num ambiente fechado como a sala de aula, além do distanciamento, é importante a ventilação. Além disso, é preciso disponibilizar a testagem para alunos e professores e protocolos de quarentena temporária de turmas que tiveram casos suspeitos ou confirmados.

Resistência

Presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, Bruno Eizerik diz que é pequena a resistência ao retorno obrigatório nas escolas particulares. Eizerik criticou a decisão de estados que mantêm o ensino híbrido:

— A Fenep defende que o lugar do aluno é na sala de aula. É óbvio que a pandemia é um momento sério e nós não estamos livres dela, mas a volta presencial ser facultativa é um equívoco, já que sabemos que as perdas de aprendizagem no modelo remoto são muito grandes — afirmou.

Para Éverton de Almeida, pesquisador da educação na Universidade Federal de Santa Catarina, o retorno obrigatório tem sido feito de forma precipitada, sem um plano debatido com profissionais da educação. Além disso, os protocolos precisariam ser mais bem traduzidos, especialmente aos alunos com ações pedagógicas:

— Como há uma polarização em relação a pandemia, parte nega os efeitos da Covid. A segurança não pode ser garantida, já que os comportamentos individuais não correspondem aos protocolos.