Bolsas e índices

Por Naiara Bertão, Valor Investe — São Paulo


Um terço do ano já se foi e o Ibovespa continua patinando, com queda de 0,10% no acumulado do quadrimestre e com um mês tradicionalmente difícil se aproximando (maio tem histórico de ser um mês ruim para a bolsa; entenda melhor aqui). O principal índice do mercado de ações chega ao fim de abril no positivo, com alta mensal de 1,94%. É pouco, mas é sempre importante pensar que poderia ter sido pior.

A média de rentabilidade das 10 piores ações do Ibovespa foi menor em abril do que em março: -8,7% em abril contra -15,8% no mês anterior. Levando em consideração os 20 papéis com pior desempenho em abril, a média foi de queda de 6,3% contra -8,8% de março. Em abril, mais ações saíram com prejuízo: dos 82 papéis que compõem o Ibovespa, 42 tiveram perdas – em março haviam sido 21 baixas.

Movimento das ações que compõem o Ibovespa em 2021

Comportamento das ações Janeiro Fevereiro Março Abril
Altas 21 27 60 40
Baixas 60 54 21 42
Estáveis 0 0 0 0
Não negociadas 0 0 0 0
Total de papéis no índice 81 81 81 82

Quem mais se destacou, negativamente, foi a BRF, produtora de proteína animal, cuja ação perdeu 17,57% em abril. Segundo Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos, o principal fator que pesou contra a companhia foi a alta do preço dos grãos, em especial do milho, insumo importante para os frangos.

Segundo dados do Indicador do Milho ESALQ/BM&FBOVESPA, o grão acumula valorização de 19,3% desde o início do ano até o fim de abril. O motivo é o atraso no plantio de soja, que atrasou a colheita, consequentemente o plantio de milho, que é produzido na entressafra. O clima menos chuvoso também prejudicou, assim como a demanda mundial por grãos que eleva também os preços.

“Tínhamos o papel e tomamos a decisão de vender no final do mês passado porque ficamos preocupados que o forte aumento dos insumos poderia afetar o custo dela. Não temos os números do balanço ainda, mas acreditamos que já a afetou. Não é algo que compromete a empresa no médio e longo prazo, mas no curto prazo sim. É uma empresa boa, que gostamos, e eventualmente vamos voltar, mas por enquanto estamos fora do papel”, explica Cavalheiro.

Conheça as 10 piores ações do Ibovespa no mês de abril de 2021

Classficação Papel Código de negociação Variação no mês (%) Cotação no dia 30/04
1 BRF ON BRFS3 -17,57 20,79
2 ENEVA ON ENEV3 -12,16 14,67
3 QUALICORP ON QUAL3 -10,87 27,05
4 BB SEGURIDADE ON BBSE3 -7,92 22,33
5 CIELO ON CIEL3 -7,26 3,45
6 LOJAS AMERICANAS PN LAME4 -6,71 20,86
7 CCR ON CCRO3 -6,16 12,04
8 WEG ON WEGE3 -6,09 35,01
9 MULTIPLAN ON MULT3 -5,96 23,03
10 BR MALLS PART ON BRML3 -5,93 9,52

BB Seguridade

Outro nome que figurou entre as piores foi a BB Seguridade. O papel perdeu 7,9% no acumulado de abril, fechando o mês valendo R$ 22,33. Não houve nenhum fator interno que deixou a ação menos amistoso aos olhos do mercado, mas sim um externo e que nada tem relação com ela: a concorrência, mas pelo dinheiro do investidor.

Como sua competidora Caixa Seguridade abriu capital na bolsa de valores essa semana, Bruno Madruga, responsável por renda variável no escritório de assessoria financeira Monte Bravo, acredita que os investidores podem ter se desfeito de papéis da BB Seguridade para comprar a concorrência.

“Além de ela estar em um setor, o de seguros, que é vinculado à taxa de emprego, surgiu uma grande concorrente na bolsa. Até então ela era única e quando se abre concorrência, os investidores ficam divididos entre qual pode ser a melhor opção. Muitos podem ter saído da BB pra entrar na Caixa”, diz Madruga.

Além disso, não há um grande fluxo de entrada de dinheiro no mercado, com estrangeiros receosos com os riscos do Brasil, políticos e econômicos. Por isso, as empresas listadas acabam competindo pelo mesmo dinheiro praticamente.

A liquidez menor do que gostaria também fez diversas empresas desistirem de abrir o capital na B3, pelo menos por ora. Privalia, um dos maiores outlets online do Brasil, e a Vittia Fertilizantes foram as últimas a cancelarem as ofertas públicas protocoladas no sistema da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O motivo são as tais condições menos favoráveis nos mercados.

Realizações de lucros

Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de ações e derivativos do BTG Pactual digital, comenta que as empresas com mais correlação com a economia local, das quais ele cita exemplos como Renner e CCR, sofreram no mês provavelmente pelo agravamento da pandemia. “As que tem viés de exportação sofrem bem menos, como JBS e Marfrig”, afirma.

Ele também vê na queda da WEG um movimento de realização, sem outros fatores de atenção no período. “Vinha de uma alta muito forte, e o investidor pode ter feito alguma rotação. Nós aqui no banco seguimos com recomendação neutra para o papel, com preço-alvo acima de R$ 45”, comenta. O papel da WEG caiu 6% em abril (R$ 35,01).

Segundo ele, ainda podemos ver uma eventual piora na situação da pandemia em maio. “Existe uma expectativa de melhora no segundo semestre, e maio será o mês de teste para isso”, diz.

Para o executivo da Monte Bravo vale ainda destacar o movimento de queda em shoppings. A Multiplan perdeu 6% e figurou entre as maiores quedas do Ibovespa, por exemplo.

“O setor como um todo foi um dos destaques de março. O que pode estar acontecendo no mês de abril é a realização de lucro no setor. É esperado que, com a diminuição das restrições, os shoppings se beneficiem do movimento”, diz Madruga.

Renner

Outro nome que surpreendeu negativamente foi a Renner. Até o penúltimo dia, ela estava na indesejada lista de maiores quedas, mas acabou se recuperando um pouco nesta sexta-feira e acabou em 12ª das piores. Enquanto sua rival Hering liderou as altas da bolsa, a ação da varejista caiu 5% em abril (R$ 40,40). O motivo foi uma potencial aquisição.

“Ela fez chamada para aumento de capital para levantar recursos, provavelmente mirando comprar alguém. Há sempre o risco de ela fazer uma aquisição cara, que prejudique seus números. E mais: já se especulou algumas possíveis compras, mas até agora nada. Até a Hering o mercado achou que ela ia comprar e agora as apostas estão mais na Dafiti, para aumentar a exposição em comércio eletrônico”, diz Cavalheiro, da gestora Rio Verde.

A Hering saiu da jogada porque já foi arremata pelo grupo Soma, depois de ter sido disputada também pela Arezzo.

“Sabemos que a Renner não vai fazer loucuras, são sérios e fazem bem os cálculos, mas há sempre maior risco e o mercado precifica isso”, diz o gestor. Ele completa dizendo que o mesmo movimento, de percepção de risco maior, foi visto pelos papéis da Soma, a empresa compradora da Hering, que despencaram na bolsa esta semana.

Para Madruga, pesa um pouco também uma certa frustração das expectativas dos investidores, que esperavam que ela fosse anunciar algum negócio, o que não se concretizou. “É natural que a empresa se desvalorize quando decide fazer uma compra. Naturalmente há uma diminuição no preço dela”, diz, ao citar a incerteza e da indefinição como fatores importantes.

Expectativas para maio

Para maio, a notícia que deve ser acompanhada de perto logo na primeira semana é a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o juro básico do país. A expectativa é que o órgão decida subir em 0,75 ponto a taxa Selic, a colocando-a em 3,5% ao ano.

“Setores que tem mais vínculo com aumento da taxa Selic podem ter impacto negativo porque em maio teremos, provavelmente, um novo aumento de juro. Mas o que vai fazer a diferença vai ser o comunicado do Banco Central com sinais para o que deve vir nos próximos períodos, especialmente como estão enxergando a inflação. É possível que o BC diminua o ritmo”, comenta o executivo da Monte Bravo.

Ele aponta que podem sair prejudicados com o aumento da Selic os setores de varejo e construção civil, por exemplo, que dependem de crédito e com o juro maior, o apetite dos consumidores também diminui, naturalmente.

É por causa da dinâmica de juros que o time de gestão da Helius Capital prefere ficar, por ora, de fora de papéis de construção civil, utilities (saneamento básico e elétrico) e concessões. “Estamos evitando tudo que seja muito ligado a juros”, diz ao Valor Investe William Leite, gestor da Helius.

Para o gestor, as empresas desses setores têm, de um modo geral, fluxo de caixa previsível, ou seja, não têm grandes mudanças de um período para o outro. Porém, para fazer as previsões futuras, os analistas e gestores usam uma taxa de desconto para descontar os fluxos de caixa já previsíveis e, com a taxa maior, maior o desconto e isso se reflete no apetite da ação.

Cavalheiro, da Rio Verde, adiciona à lista de ações que podem se dar mal no mês que vem as empresas que se beneficiam de um real desvalorizado (e consequentemente sofrem com o dólar desvalorizado). Em abril, o dólar caiu 3,49% e fechou cotado a R$ 5,4310. O prejuízo teria sido pior se não fosse a alta de 1,76% só nesta sexta-feira, último pregão do mês.

"Taticamente, os investidores podem realizar um pouco de lucro nas commodities, especialmente se o câmbio se valorizar mais e dólar cair para R$ 5,10. Não que o negócio ficou inviável, mas realiza lucro, diminui posição. Se confirmar o cenário de dólar desvalorizado, e pelo tanto que subiu empresas de commodities, pode ter realizações no setor", explica.

Para ele, também não é indispensável acompanhar o desenrolar da CPI da Pandemia, que pode trazer instabilidade.

"Do lado que preocupa de curto prazo, a CPI da Pandemia é uma delas porque não sabemos qual vai ser a profundidade; pode gerar ruído. Se vir noticia ruim da CPI, é possível que o pessoal entre realizando. Há um cenário otimista para maio, mas cauteloso", finaliza.

E tudo isso, sem contar a temporada de balanços do primeiro trimestre que só começou e deve trazer volatilidade ao Ibovespa em maio. Ou seja, é melhor se preparar psicologicamente para o mês que se inicia.

 — Foto: Getty Images
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