Política Coronavírus

Secretário fica na Saúde: 'Vamos trabalhar juntos até o momento de sairmos juntos', diz Mandetta

Wanderson de Oliveira integra a linha de frente no combate à epidemia do novo coronavírus
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o secretário de Vigilância, Wanderson de Oliveira 15/04/2020 Foto: Jorge William / Agência O Globo
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o secretário de Vigilância, Wanderson de Oliveira 15/04/2020 Foto: Jorge William / Agência O Globo

BRASÍLIA — O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, não aceitou o pedido de demissão do Secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira . Segundo a assessoria de imprensa da pasta, o secretário atendeu a um apelo do chefe da pasta, voltou atrás e continuará na equipe enquanto o ministro, ele próprio cotado a deixar o posto, permanecer à frente do Ministério da Saúde.

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—  Hoje teve muito ruído por causa do Wanderson, por causa de toda essa ambiência. Ele falou lá paro setor dele que iria sair. Aquilo virou uma... Chegou para mim. Já falei que não aceito. Wanderson continua. Acabou esse assunto. Vamos trabalhar juntos até o momento de sairmos juntos do Ministério da Saúde. Por isso eu fiz questão de vir aqui nessa coletiva de hoje — disse Mandetta, no começo de entrevista coletiva no Palácio do Planalto.

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Wanderson de Oliveira  continuará no cargo enquanto Mandetta permanecer à frente da pasta. Mas o próprio ministro pode deixar o posto em breve: ele entrou em choque com o presidente Jair Bolsonaro em razão de divergências na estratégia de enfrentamento à epidemia do novo coronavírus , que já infectou 28.320 pessoas no país, matando 1.736 até esta quarta-feira.

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Na coletiva, Wanderson disse que ninguém é insubstituível e que não tinha a intenção de publicizar a mensagem que mandou para sua equipe falando da possibilidade de deixar o cargo.

- Sou um servidor público de carreira, do Hospital das Forças Armadas desde 2009. Cargos eletivos [comissionados], já passei por vários no Ministério da Saúde. Nenhum de nós é insubstituível. A equipe da Secretaria de Vigilância em Saúde é uma equipe extremamente qualificada. E o trabalho vai sempre ser continuado - disse Wanderson, concluindo:

- Os cargos eletivos são passageiros. Estamos trabalhando para quem quer que venha dê continuidade ao trabalho da melhor maneira possível

Questionado por que pediu demissão, Wanderson disse estar muito cansado.

- Olha, estamos muito cansados. Estamos muito cansados. Eu não pedi demissão diretamente ao ministro. Eu falei para a minha equipe. A mensagem que está com minha equipe é: vamos nos preparar para sair juntos com o ministro Mandetta. Esse processo vem sendo discutido já há algumas semanas. Chega um ponto que nós estamos entendendo que vários do processos já estão bem adiantados. O ministro citou aqui a questão do laboratório, da informação. Essa etapa agora é muito mais da assistência do que da vigilância. Mas eu não vou deixar o ministro. O ministro já falou aqui Estamos juntos. Não teve um motivo específico. É isso. Nós estamos cansados - disse Wanderson.

Clima de despedida

Na noite de terça-feira, Mandetta chegou a avisar auxiliares e assessores próximos que sua demissão deve ocorrer em breve. Após os últimos embates com Bolsonaro, com quem vem se contrapondo publicamente nas últimas semanas, o ministro desabafou com a equipe da pasta de que seu tempo na cadeira estava chegando ao fim.

A conversa fez retornar ao Ministério da Saúde o clima de despedida. Na última segunda-feira, quando o Planalto chegou a iniciar internamente os atos formais para a demissão de Mandetta, suas gavetas foram esvaziadas. Mas o ministro foi mantido no cargo principalmente por pressão da ala militar do Planalto.

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O cenário agora é outro. Segundo interlocutores, Mandetta entendeu os sinais de que sua exoneração está próxima na reunião de ministros ontem, na qual se manteve quieto. Na ocasião, Bolsonaro teria deixado claro que seus auxiliares precisam ouvi-lo. O presidente tambem teria indicado, ainda que de forma indireta, que não toleraria comportamento diferente.

Mandetta está convencido de que a entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, no domingo, atrapalhou de vez a relação com Bolsonaro. No programa, Mandetta disse que a população não sabe se segue o presidente ou o ministro em relação às orientações de distanciamento social contra o novo coronavírus e que isso provoca uma "dubiedade", cobrando uma discurso unificado . Também criticou pessoas que ficam "grudadas" em "padaria" e "supermercado", classificando de "equivocado" tal comportamento.

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A aliados, o ministro disse, logo após a exibição da entrevista, ainda no domingo, que tinha decidido falar pelo "conjunto da obra do fim de semana", referindo-se principalmente à visita às obras do hospital de campanha que a União está erguendo em Águas Lindas, cidade de Goiás na vizinhança do Distrito Federal, no sábado. Lá, Bolsonaro provocou aglomerações e cumprimentou apoiadores. Mandetta se manteve distante. Na quinta-feira passada, o presidente esteve numa padaria.