Mundo Coronavírus

Índia registra recorde de casos e mortes por Covid-19 após relaxar medidas de distanciamento

Foram mais de 2 mil óbitos e quase 300 mil infectados nas últimas 24 horas; país é o terceiro em vítimas fatais, depois de EUA e Brasil
Indianos usam máscara em Siliguri, na Índia: país vive pior dia da pandemia com recorde de mortes e novos casos Foto: DIPTENDU DUTTA / AFP
Indianos usam máscara em Siliguri, na Índia: país vive pior dia da pandemia com recorde de mortes e novos casos Foto: DIPTENDU DUTTA / AFP

NOVA DÉLHI — A Índia, segundo país mais populoso do mundo, registrou nesta quarta-feira o seu pior dia da pandemia, com recorde de mortes e casos confirmados de Covid-19: foram mais de 2 mil óbitos e 295 mil infectados nas últimas 24 horas. O país de 1,3 bilhão de habitantes sofre com uma nova variante , a B.1.617, que possivelmente tem maior transmissibilidade e fez explodir o número de casos, levando o sistema de saúde a entrar em colapso.

O país chegou ao total de 182.553 mortos pela Covid-19 desde o início da pandemia, atrás apenas do Brasil, que contabiliza mais de 378 mil mortes, e os EUA, onde o número de vítimas fatais, que vem caindo desde janeiro, é de quase 569 mil.

A média móvel de casos diários registrada hoje na Índia, de 248 mil, é quase quatro vezes maior da que o do Brasil, com cerca de 63 mil.

Para tentar controlar a transmissão do vírus, a capital, Nova Délhi, decretou quarentena por seis dias. O estado de Maharashtra, onde fica Mumbai e uma das zonas mais afetadas pela aumento de casos, também planeja medidas de restrições para controlar o avanço nos casos. O primeiro-ministro Narendra Modi, no entanto, tem se recusado a adotar uma nova quarentena nacional e pediu à população um esforço maior para enfrentar a pandemia.

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A Índia viveu um pico de mais de 93 mil casos por dia em média durante a primeira onda, no ano passado. Mas, após adotar uma quarentena severa, as infecções diminuíram abruptamente: entre o fim janeiro e o começo de fevereiro, a média chegou a menos de 10 mil novos casos e cerca de 100 óbitos por dia.

No início de março, o ministro da Saúde indiano, Harsh Vardhan, chegou a declarar que o país estava na "fase final" da pandemia e as autoridades da Índia anunciaram eleições em cinco estados. A campanha começou a todo vapor, sem protocolos de segurança nem distanciamento social. Também foram autorizadas partidas de críquete, esporte popular no país, com a presença de público, reunindo mais de 130 mil torcedores, a maioria sem máscara.

O resultado é que o país enfrenta agora o pico da segunda onda, e hospitais da capital, Nova Délhi, começaram a ficar sem oxigênio. Há também relatos de falta de ambulâncias para transportar os doentes aos hospitais e funerais lotados.

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Vacinação avançada

Modi, que enfrenta críticas por ter permitido festivais religiosos, partidas e comícios quando as infecções diminuíram, fez seu primeiro discurso desde a explosão da segunda onda de contágios no país. Ele sugeriu, em lugar de uma quarentena, a criação de zonas de contenção.

— A situação estava sob controle há algumas semanas e a segunda onda veio como um furacão. A demanda por oxigênio aumentou —  alertou, em um discurso transmitido pela televisão estatal, na noite de terça-feira. — Estamos trabalhando com rapidez e sensibilidade para garantir oxigênio a todos que precisam. Todos estão trabalhando juntos.

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O país, que está entre os maiores produtores mundiais de imunizantes, já vacinou 10% da população, num total 130 milhões de pessoas, e é o terceiro país do mundo em números absolutos de doses administradas na população, mas o país ainda fica atrás na proporção da população que tomou ao menos uma dose, 8%. Na segunda-feira, o governo anunciou que todas as pessoas acima de 18 anos estarão elegíveis para receber a primeira dose a partir do dia 1º de maio.

Em janeiro, a Índia começou a enviar imunizantes para países estrangeiros como parte de sua muito alardeada "diplomacia de vacinas". Agora, diante do aumento de casos, o país suspendeu temporariamente todas as exportações da AstraZeneca Oxford e permitiu a importação de vacinas estrangeiras. O Instituto Serum, o maior produtor indiano, pediu aos EUA que permitam a exportação de matérias-primas de vacinas para aumentar sua produção.