Política

Saiba quem é Ítalo Marsili, médico sugerido por bolsonaristas para assumir Ministério da Saúde

Admirador do escritor Olavo de Carvalho, ele já afirmou que 'é fácil convencer mulheres a votar, é só seduzi-las'
Para o médico bolsonarista Ítalo Marsili, direito feminino ao voto representou derrocada da democracia Foto: TV Brasil/ Reprodução
Para o médico bolsonarista Ítalo Marsili, direito feminino ao voto representou derrocada da democracia Foto: TV Brasil/ Reprodução

SÃO PAULO — A ala ideológica do governo de Jair Bolsonaro pode ganhar um membro de peso. Um dos cotados para substituir Nelson Teich, que se demitiu na última sexta-feira do Ministério da Saúde, é o médico carioca Ítalo Marsili. Admirador do escritor Olavo de Carvalho, ele associou, em vídeo veiculado em seu canal do YouTube no início do mês, o direito de voto das mulheres à crise na democracia e afirmou que basta "seduzir uma mulher para convencê-la a votar".

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O médico chegou a Brasília na tarde desta segunda-feira e se  encontraria com Bolsonaro, apesar de a reunião não constar na agenda oficial do presidente. Nos últimos dias, bolsonaristas e deputados como Caroline de Toni (PSL-SC) e Filipe Barros (PSL-PR) se engajaram em uma campanha nas redes sociais para cacifar o nome de Marsili. Ele é bem visto pelos filhos do presidente.

As declarações machistas do médico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) são de uma transmissão virtual com fundadores do estúdio revisionista Brasil Paralelo, da qual ele foi o entrevistado. Marsili compartilhou o vídeo em 2 de maio nas suas próprias redes.

"Quando Platão falava sobre democracia... Mulheres que estão aqui com a gente. Ofendam-se, porque é isso que vocês são. Na única democracia no mundo que funcionou, que foi a democracia grega, não estava previsto o voto feminino, ok? O fato observável é que quando o voto passa a ser pleno, ou seja, as mulheres e todo mundo podem votar, a gente vê que tem uma crise na regência do Estado. Porque é óbvio, é muito fácil você convencer uma mulher de votar. É só você seduzi-la", declarou ele na ocasião.

Marsili acrescenta que o ex-primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, "obviamente não seria eleito" nos dias de hoje por não ser sedutor ao eleitorado feminino. Para ele, Fernando Collor foi eleito em 1989 por ser "bonitão".

SEM REGISTRO

Marsili se declara psiquiatra em perfis no Twitter e Instagram. A Associação Brasileira de Psiquiatria, no entanto, informou ao GLOBO que ele não integra seu quadro de associados. O registro dessa especialidade também não consta em sua ficha de inscrição no Conselho Federal de Medicina.

A admiração por Olavo de Carvalho é tanta que sua experiência com o escritor foi parar em seu currículo Lattes, plataforma de currículos acadêmicos virtual. Enquanto pesquisadores reservam o espaço para descrever seus trabalhos científicos e projetos acadêmicos, Marsili incluiu a informação de que "morou com Olavo de Carvalho" entre 2007 e 2008 no estado americano da Virgínia. Diz ainda ter feito "diversos cursos e participou de vários encontros acadêmicos".

Marsili passou o fim de semana numa campanha por sua nomeação para substituir Nelson Teich. Em seu Instagram, pediu aos seguidores para ajudá-lo a ser nomeado "enchendo a caixa (de e-mail) dos parlamentares" e respondeu a dezenas de perguntas de seguidores. Comparou Bolsonaro a Jesus Cristo, evitou falar do uso da hidroxicloroquina e fez promessas caso assumisse a pasta.

Ele reservou comentários pouco amistosos à imprensa. Disse que "não vai ter carinho com a mídia" e que montaria "um dossiê de cada jornalista, com o nome dos puteiros que frequentam, das amantes, das clínicas de aborto que assassinam seus bebês, dos fornecedores de cocaína e maconha, de cada um deles, seria lindo".

Carlos Bolsonaro publicou em seu canal de YouTube, em 30 de abril, uma transmissão entre seu irmão Eduardo e Ítalo Marsili. No bate-papo, eles criticaram os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente Alexandre de Moraes, em razão de sua decisão de suspender a nomeação de Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal. Na tarde desta segunda-feira, Eduardo também endossou uma publicação de Marsili em que o médico enaltece suas credenciais para assumir o Ministério da Saúde.

Apesar de o cargo estar vago, no entanto, o general Eduardo Pazuello pode ficar como ministro interino por tempo indeterminado, segundo o colunista do GLOBO Lauro Jardim. O objetivo seria não repetir o que aconteceu com Nelson Teich, quando Bolsonaro definiu com rapidez seu nome para o lugar de Henrique Mandetta, mas o presidente não conseguiu se afinar com ele.