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Por Projeto Especial - ESG


Hidrelétricas são responsáveis por 64,9% de toda a eletricidade consumida no Brasil — Foto: Getty Images
Hidrelétricas são responsáveis por 64,9% de toda a eletricidade consumida no Brasil — Foto: Getty Images

A diversificação é tida como chave do equilíbrio nas mais diferentes áreas. Na alimentação, por exemplo, a recomendação é sempre ter um cardápio variado. Nas finanças, também é mais prudente manter um portfólio de investimentos diversificado. No fornecimento de energia elétrica não deveria ser diferente. Mas, no Brasil, isso não ocorre.

Apesar de ter uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, com 83% da sua energia proveniente de fontes renováveis - contra uma média mundial de apenas 25% -, a geração ainda é muito concentrada nas hidrelétricas, responsáveis por nada menos do que 64,9% de toda a eletricidade consumida no Brasil, o que torna o país altamente dependente das chuvas, que têm se tornado cada vez mais irregulares com as mudanças climáticas.

O Brasil enfrenta atualmente a pior crise hídrica dos últimos 91 anos. Os reservatórios localizados no Sudeste e no Centro-Oeste, que concentram 70% da geração de energia do país, estão hoje com somente 23% da sua capacidade de armazenamento, nível inferior ao registrado em 2001, ano em que os brasileiros foram submetidos a um racionamento de energia pela última vez.

Buscando evitar o esgotamento da água nos reservatórios das hidrelétricas, o governo vem acionando as usinas termelétricas, que geram energia a partir da queima de combustíveis fósseis, que além de poluentes são mais caras. O resultado dessa estratégia foi um aumento de mais de 20% na conta de energia nos últimos 12 meses além de uma ameaça real de "apagão" entre setembro e novembro desse ano.

"Se não tivéssemos crescido tanto na produção de energia eólica e solar nos últimos dez anos, a situação seria muito pior", afirma Lucas Araripe, diretor de novos negócios da Casa dos Ventos, empresa pioneira no setor de energia eólica no Brasil. "O Brasil sempre foi muito dependente das hidrelétricas, mas hoje sabemos do potencial de geração a partir do vento."

Energia eólica em expansão

De acordo com o executivo, a energia eólica tem avançado rapidamente no país por dois motivos: a qualidade dos ventos disponíveis, especialmente no Nordeste, e a complementariedade com as hidrelétricas, já que os melhores ventos são obtidos justamente nos períodos de poucas chuvas. Não menos importante é a viabilidade econômica dessa tecnologia. Caras até bem pouco tempo atrás, hoje as usinas eólicas entregam uma das energias mais baratas do Brasil.

O resultado disso é que, de acordo com o Balanço Energético Nacional, a energia eólica já representa 8,6% da matriz elétrica brasileira, perdendo somente para a hidráulica (64,9%) e o gás natural (9,3%). Já a energia solar ainda engatinha no país, representando cerca de 1% do total gerado.

Outro fator que vem estimulando o crescimento das eólicas no Brasil é a demanda crescente por parte de grandes empresas interessadas na compra de energias renováveis no mercado livre. Os contratos diretos permitem uma maior previsibilidade nos custos, já que não há oscilação nos preços, além da garantia do fornecimento de uma energia limpa, que em muitos casos geram créditos de carbono aos compradores.

"Tem um viés econômico interessante, mas também tem a questão da sustentabilidade. As grandes empresas estão querendo reduzir as suas emissões. A cada ano, o volume de contratos corporativos aumenta", afirma Araripe, destacando que em muitos casos esses contratos longos de fornecimento são decisivos para a viabilização de um novo empreendimento eólico ou solar.

Visão de negócio

A necessidade de diversificação também já vem moldando as estratégias de negócios de muitas empresas do setor energético. Fundada em 2015, a Aliança Energia é uma joint venture da mineradora Vale e a Cemig, que desde a sua criação opera com uma matriz 100% renovável - antes totalmente originada em hidrelétricas.

"Quando falta chuva, a gente fica em uma situação muito difícil. Em uma crise hídrica, como agora, custa muito caro adquirir a energia adicional. Com a diversificação, esse risco é diluído", afirma Paulo Cruz, diretor de Operação da Aliança, que hoje conta com 10% de sua matriz energética proveniente de um parque eólico no Ceará e deve aumentar esse percentual até 2022, quando outros dois projetos semelhantes entrarão em operação.

De acordo com o executivo da Aliança, a diversificação da matriz é um caminho sem volta para o Brasil. Além das dificuldades inerentes à construção de novas barragens, o tempo necessário para realizar esse tipo de obra também impede que essa seja uma alternativa para a nossa crise atual.

A implementação de uma usina eólica, por outro lado, é bem mais simples e rápida. "Para se ter uma ideia, um parque eólico de porte médio pode ser construído de 15 a 18 meses. Já uma hidrelétrica com capacidade equivalente pode demorar entre três e quatro anos para começar a gerar energia", explica Cruz.

A atual crise hídrica nos mostra que não basta ser referência em energias renováveis. É preciso, acima de tudo, usar todo esse potencial com sabedoria. No caso brasileiro, o futuro deve ser cada vez mais eólico e solar, deixando a energia hidráulica como uma reserva de segurança, tal quais as termelétricas são hoje. As tecnologias necessárias já estão disponíveis a custos competitivos. Neste momento, é preciso ter visão de futuro para que o fantasma do apagão se torne, em algum tempo, algo do passado.

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