Por G1 Rio


João Pedro, morto em operação em São Gonçalo — Foto: Reprodução/TV Globo

O estudante João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, morreu na última segunda-feira (18) durante uma operação conjunta das polícias Federal e Civil do RJ no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana do RJ.

A família e testemunhas afirmam que policiais chegaram atirando à casa onde João e amigos estavam, na Praia da Luz, em Itaoca. O rapaz foi atingido na barriga e levado para um helicóptero.

Parentes passaram a noite procurando o adolescente em hospitais e só acharam o corpo 17 horas depois, no Instituto Médico-Legal do Tribobó.

A morte é investigada pela Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo.

A seguir, as respostas para algumas perguntas sobre o caso:

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O que os policiais foram fazer em São Gonçalo?

A operação na comunidade era da Polícia Federal, com apoio de policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), e suporte aéreo da Polícia Militar.

As equipes tentaram cumprir dois mandados de busca e apreensão em investigação de chefes do tráfico na região. Segundo a polícia, Ricardo Severo, conhecido como Faustão, é um dos chefes do Complexo do Salgueiro.

Faustão não foi encontrado, e ninguém foi preso.

Mapa mostra onde João Pedro morreu e para onde foi levado — Foto: Infografia: Juliane Monteiro/G1

O que a família de João alega?

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João brincava com amigos quando a operação chegou até a Praia da Luz. Um dos amigos do rapaz afirmou que policiais entraram no terreno e jogaram duas granadas, que detonaram. Na sequência, atiraram nas janelas. Veja aqui o relato da testemunha.

As paredes da casa ficaram crivadas de balas (veja abaixo).

O pai e a tia de João Pedro estavam trabalhando ali perto e correram quando ouviram os tiros. A família diz que foi impedida de entrar na própria casa enquanto os policiais estavam lá dentro.

Tiros na parede — Foto: Reprodução/TV Globo

Quem atirou na casa?

A TV Globo apurou que no imóvel — do avô de um dos primos de João — estavam agentes da Core, a tropa de elite da Polícia Civil.

As armas dos policiais foram recolhidas para perícia.

Por que os policiais atiraram?

A Polícia Federal e a Polícia Civil deram a mesma versão. “Seguranças dos traficantes tentaram fugir pulando o muro de uma casa. Eles dispararam contra os policiais e arremessaram granadas na direção dos agentes”, dizem notas.

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Em que parte do corpo o menino foi atingido?

O tiro que matou o menino entrou pela altura do estômago, na barriga, e ficou alojado na escápula – osso no alto das costas, perto do ombro.

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Três fuzis e uma pistola dos policiais envolvidos foram apreendidas. Os trâmites são para o confronto balístico, que pode dizer se tiro saiu de alguma dessas armas. Segundo os peritos, o disparo foi de "alta energia cinética" – possivelmente um tiro de fuzil.

Por que João foi levado para um helicóptero?

O G1 apurou, com base nos depoimentos já prestados, que levar João Pedro em helicóptero foi “uma decisão de campo baseada em um padrão protocolar dos pilotos”.

No destino, o Heliponto da Lagoa, haveria equipe e meios para socorrer João — que chegou morto.

O que diz o padrão protocolar?

Em agosto do ano passado, a Polícia Civil criou um manual para o uso das aeronaves, e determinou um sigilo de 15 anos. Meses depois, o sigilo foi aberto, porém um artigo foi mantido em segredo.

Um dos trechos do documento diz:

"As Operações Aeropoliciais, sempre que possível, deverão ser precedidas da devida análise do perímetro onde serão desenvolvidas, as rotas de aproximação, tráfego aéreo, pontos de pouso de emergência, pontos de reabastecimento, locais para evacuação aeromédica, hospitais de referência para encaminhamento aéreo de eventuais feridos e identificação de estabelecimentos de ensino, hospitais e/ou postos de saúde, asilos e outros locais sensíveis que necessitam ser resguardados."

Alguma autoridade se manifestou?

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, informou que “lamenta profundamente” a morte do adolescente João Pedro e que presta sua solidariedade à família neste momento de dor.

Witzel também determinou "investigação rigorosa" sobre as circunstâncias da morte do menino.

O delegado titular da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, Allan Duarte, que está à frente do caso, acrescentou que a corporação “lamenta muito e entende o desespero da família”.

“De acordo com o apurado, a vítima era inocente, não registrava passagens anteriores. A gente vai trabalhar duro para esclarecer o fato”, disse.

Nesta quarta-feira (20), o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes também lamentou a morte.

"A morte de João Pedro, de apenas 14 anos, é mais um brutal capítulo de uma política de segurança que há anos já se demonstrou falha. Casos como o dele, morto pela polícia em casa, devem levar a uma necessária reflexão sobre as ações policiais. Meus sentimentos à família."

O caso também gerou comoção nas redes sociais.

O que falta saber

Rodrigo Mondego, advogado da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, enumerou algumas questões.

“Por que ficaram tanto tempo com o corpo do garoto? Por que só de madrugada indicaram o IML de Tribobó? Como foi essa retirada do corpo dele? Se o corpo dele foi levado para o heliporto, porque não houve nenhum pronunciamento de parte da Polícia Civil e da Polícia Federal?”, indagou.

João Pedro Mattos Pinto, morto em operação em São Gonçalo — Foto: Reprodução/TV Globo

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