• Mariana Fonseca
Atualizado em
Equipe da Transfeera (Foto: Transfeera/Divulgação)

Equipe da Transfeera: fintech busca captar novo aporte (Foto: Transfeera/Divulgação)

Há negócios que estão sendo mais demandados durante a pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Alguns deles, porém, estão nos bastidores dessa procura. É o caso da fintech Transfeera, que dá suporte de validação de identidade e de transações financeiras para operações de delivery.

A startup triplicou em março o número de validações realizadas normalmente. Já a receita cresceu mais de 30% ao mês durante o primeiro trimestre deste ano, contra os 10,5% ao mês vistos em 2019.

Neste momento, a Transfeera busca atender sua base atual de clientes e captar mais um aporte para financiar contratações e desenvolvimento de produto.

Ideia de negócio: do open banking à validação
A Transfeera foi criada pelos empreendedores Fernando Nunes, Guilherme Verdasca e Rafael Negherbon em 2017, na cidade de Joinville (Santa Catarina).

A startup começou a partir de uma necessidade pessoal: eles viam os custos altos de fazer transferências bancárias, como a TED. O negócio tem contas e saldos em diversos bancos para fazer apenas transferências interbancárias, cobrando uma tarifa bem menor de seus clientes. É uma espécie de open banking manual, integrando a operação de diversas instituições financeiras.

Logo, porém, os empreendedores perceberam que a oportunidade era maior na pessoa jurídica do que na pessoa física -- afinal, empreendedores fazem mais pagamentos por dia do que funcionários. Os três trabalhavam na fintech Conta Azul e tinham contato recorrente com pequenas e médias empresas. "Os empreendedores precisam de um sistema que importe suas planilhas já existentes e faça uma grande liquidação de pagamentos", diz Verdasca.

Fundadores da Transfeera: Guilherme Verdasca, Fernando Nunes e Rafael Negherbon (Foto: Transfeera/Divulgação)

Fundadores da Transfeera: Guilherme Verdasca, Fernando Nunes e Rafael Negherbon (Foto: Transfeera/Divulgação)

Cada cliente jurídico tem uma conta virtual da Transfeera. Por meio dela, faz pagamentos e vê comprovantes ou falhas de transferência (e a startup aponta como corrigi-las). A Transfeera tem integração com dez bancos e cobra até R$ 3,50 por TEDs feitas a bancos não integrados.

A startup está esperando a autorização do Banco Central para se classificar como instituição de pagamento. Também está firmando mais integrações com bancos e aguarda a regulação sobre pagamentos instantâneos para adotá-los dentro da Transfeera. A vertical de pagamentos representa 70% do volume de negócios da fintech atualmente.

Coronavírus e crescimento
Os outros 30%
vêm de uma vertical mais recente: a validação de identidade e de pagamentos. Vendo que 10% dos pagamentos vinham com dados incorretos e acabavam falhando, a Transfeera elaborou uma inteligência para prever se a conta era corrente ou poupança, se pertencia ao banco apontado e se era do CPF ou CNPJ descrito.

Para isso, a fintech se integra a dados dos próprios bancos e da Receita Federal. A porcentagem de falhas caiu para 2% a 2,5% e virou um novo negócio para a Transfeera.

Em 2019, a inteligência própria virou a Conta Certa. O produto oferece modelos básico e avançado. O básico faz validação de identidade e de conta em tempo real, cruzando os dados bancários e da Receita Federal. Já o avançado realiza microdepósitos na conta apontada, garantindo sua capacidade de pagamento (nenhum bloqueio bancário ou judicial) em cerca de uma hora.

A Conta Certa interessou um tipo de empresa em especial: as de delivery, que viram recentemente um aumento de entregadores e restaurantes cadastrados. A quarentena decretada em diversos estados forçou muitos consumidores a optarem pela entrega a domicílio de compras de supermercado, refeições ou remédios. "Com essa crise, vimos que o produto é eficiente para ajudar na antifraude e na velocidade dos pagamentos", diz Verdasca.

Os cadastros de entregadores e restaurantes costumavam levar três dias e agora são feitos no mesmo dia, segundo o cofundador. A Transfeera também é usada na hora de validar transações financeiras. Caso um pagamento não possa ser concluído, a Transfeera aponta ao usuário o que está errado: ele pode ter esquecido o dígito de sua conta ou classificou-a como conta poupança, sendo que é uma conta corrente, por exemplo. O negócio se monetiza com uma taxa cobrada no sucesso de cada validação ou transação financeira.

A Transfeera atende 150 clientes, como os aplicativos iFood e Rappi, a plataforma de doações Vakinha, a gigante de bens de consumo Unilever e a fintech de pagamentos Ebanx. O número de validações triplicou em março, puxado pelos apps de delivery.

Apenas em março, a receita da fintech aumentou em 48%. Enquanto o crescimento médio na receita do negócio foi de 10,5% ao mês em 2019, no primeiro trimestre deste ano essa média ficou em 30,4%.

A fintech busca agora um investimento pré-série A para acelerar sua expansão, investindo em equipe e em desenvolvimento de produto. O negócio já tinha captado um investimento semente com os fundos Curitiba Angels e Hi Capital.

"Sabemos que a economia está se retraindo e estamos projetando um crescimento mais estável nos próximos trimestres. Focamos menos em aquisição de clientes e mais em garantir que nossos 150 clientes atuais estejam rodando bem. Estamos explicando mudanças nos impostos, modalidades de empréstimo e como trocar custos em dólar por custos em real", diz Verdasca.

A própria Transfeera pode aproveitar como sua solução leva rapidez e segurança ao delivery -- seus 18 funcionários estão de home office há mais de um mês.