• Depoimento a Kizzy Bortolo
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Kellem Ostrowski (Foto: Arquivo Pessoal)

Kellem Ostrowski (Foto: Arquivo Pessoal)

“Tive uma infância tranquila em Ipatinga, no interior de Minas Gerais. Morei com os meus pais até os 18 anos, quando decidi cursar engenharia metalúrgica em Belo Horizonte. Lá conheci um rapaz e começamos a namorar. Estávamos juntos há dois anos e meio quando ele decidiu tentar a vida em Jacksonville, na Flórida. Eu nunca havia pensando em morar fora nem viver longe da minha família, mas o amor falou mais alto: fui atrás dele nos Estados Unidos.

A princípio, tive meu visto americano negado, para minha total frustração. Mas não desisti facilmente. Tive a ideia de pegar ‘emprestado’ o nome da minha melhor amiga, com quem dividia apartamento em BH. Em um ato de extrema amizade e irmandade, ela me deu seu passaporte e coloquei minha foto no lugar da dela. Tudo feito por um profissional do ramo, é claro. Assim, consegui meu visto através do nome e do passaporte dela para ir atrás do meu grande amor.

O medo de ser flagrada e deportada pela imigração era grande, mas fui com medo mesmo. Desistir não estava nos meus planos. Viajei com um grupo de estudantes universitários e  entrei nos Estados Unidos por Nova York. A entrada em si foi bem tranquila.

Cheguei aos Estados Unidos em 2002, aos 23 anos, com nome falso, levando duas malas e mil dólares no bolso. Era só o que tinha. Nada mais. Mas tinha muita vontade de trabalhar, vencer e estar ao lado do meu namorado, crescendo juntos. Logo já passei a usar meu próprio nome e o meu próprio documento para tudo e comecei a trabalhar fazendo faxina. No Brasil eu era estudante universitária e nunca precisei fazer nada na minha casa. Mas nos Estados Unidos, a realidade é outra. É tudo bem diferente.

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O início foi bem duro e complicado. Trabalhei bastante, de domingo a domingo, e ganhava pouco. Sempre fui muito esforçada e fui atrás de aprender inglês. Em seis meses, comecei a limpar tantas casas que precisei até de uma assistente para me ajudar. Assim, o dinheiro foi entrando e as coisas progredindo um pouco mais.

Vivi um relacionamento tóxico com esse namorado durante oito anos. Ele me anulava como mulher. Eu não podia cumprimentar as pessoas, vestir determinadas roupas, ser quem eu era antes: aquela menina alegre e cheia de sonhos. Com isso, fui deixando de ser eu. Já não me arrumava mais, não tinha amigas, só ia de casa para o trabalho e do trabalho para a casa.

Em 2005, engravidei do meu filho, Lucas. Cinco anos depois, meu ex teve uma trombose e morreu. Fiquei desesperada. Depois de sua morte, o dono da empresa onde ele trabalhava me procurou e começou a me passar os trabalhos na área de construção. Ali comecei a ganhar tanto dinheiro que eu mal acreditava. Pude ter mais qualidade de vida e mais tempo para cuidar do meu filho. Deixei outra brasileira trabalhando no meu lugar nas casas de família e assumi uma sociedade no trabalho do meu falecido marido.

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Em 2011, passei a encontrar o Fabiano, que também é brasileiro, de forma casual aqui em Jacksonville. O encontrava na rua, no banco, na igreja, em vários lugares... Com isso, nos aproximamos e começamos a conversar. Ele disse que foi ao velório  do meu marido, mas não me lembrava dele. Apenas o conhecia de vista, até então. Notei que ele tinha um papo diferente, era um cara agradável e muito inteligente. Nunca pensei em me relacionar novamente com ninguém, muito menos me casar. Mas a forma gentil e carinhosa com a qual ele me tratava foi me conquistando aos poucos. Três meses depois, já estávamos morando juntos: eu, Fabiano e Lucas.

Kellem Ostrowski e o marido, Fabiano (Foto: Arquivo Pessoal)

Kellem Ostrowski e o marido, Fabiano (Foto: Arquivo Pessoal)

Tivemos uma festa linda de casamento, do jeito que sempre sonhei. Me casei de véu, grinalda e tudo que tinha direito. Alguns dos nossos familiares vieram do Brasil para o casamento.

Fabiano é neto de americano e, com isso, pude me regularizar por aqui, finalmente consegui a cidadania americana. Após o casamento começamos a empreender juntos. Ele, que também já trabalhava na área de construção, se juntou a mim e montamos a nossa própria empresa. Com muita luta e trabalho, fomos prosperando juntos e realizando muitos dos nossos sonhos.

Em 2016, engravidei do meu segundo filho, Joshua. Foi uma gestação delicada, pois fiquei sete semanas internada. Tive pré-eclampsia e se eu não tivesse tratado a tempo, poderia ter perdido o meu bebê.

Em 2019, começamos um empreendimento na área automotiva e seguimos sempre trabalhando juntos. Na pandemia foi luta atrás de luta, mas resistimos. Agora estou empreendendo na área de moda e beleza, sempre com o intuito de transformar a vida das mulheres que atendemos. Mas não uma transformação somente externa ou da boca pra fora, e sim uma mudança interior, como também espiritual, lhes devolvendo a autoestima, autoconfiança, dignidade e lhes mostrando o tempo todo sobre o empoderamento feminino.

Analisando toda a minha vida até chegar aqui, acho que faria tudo de novo só para ter a família linda e estruturada que tenho hoje. Através dos nossos negócios damos oportunidades de trabalho a muitas pessoas, principalmente aos brasileiros que chegam aos Estados Unidos em busca de uma vida melhor, como foi nosso sonho um dia."

Kellem Ostrowski (Foto: Arquivo Pessoal)

Kellem Ostrowski (Foto: Arquivo Pessoal)