O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), estuda cancelar sua ida à sabatina da Fiesp, marcada para a próxima semana, no dia 11, mesmo dia em que haverá a leitura de manifestos em defesa da democracia e manifestações contra o autoritarismo e em defesa do sistema eleitoral na capital paulista.
O presidente da Fiesp, Josué Gomes, no entanto, disse na manhã desta quarta-feira (3) que a participação do presidente ainda está prevista.
A entidade marcou sabatina com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à Presidência pelo PT, no dia 9. A participação de Bolsonaro estava prevista para o dia 12, mas o próprio presidente pediu à entidade para antecipar para o dia 11. Na Fiesp, o pedido foi visto como uma forma de Bolsonaro tentar minimizar o desgaste político que enfrentará no mesmo dia, com a leitura dos manifestos e os atos políticos em São Paulo.
Na sabatina, a Fiesp deve pedir para que Bolsonaro assine um manifesto em defesa da democracia. O presidente, no entanto, tem dito a interlocutores que poderá cancelar sua participação, para evitar constrangimentos. Bolsonaro tem atacado os manifestos pró-democracia e os empresários que apoiam essa iniciativa.
Na semana passada, criticou especificamente a iniciativa da Fiesp, durante uma live. “Uma nota política eleitoral que nasceu lamentavelmente na Fiesp em São Paulo. Se não tivesse o viés político nessa nota, eu assinaria. Sem problema nenhum”, afirmou o presidente. “Mas, voltou para o lado de defesa de outro poder. Acho que o equilíbrio entre os poderes tem que existir e nós sabemos por onde que anda o desequilíbrio aqui no Brasil", disse Bolsonaro. "Claramente que é contra a minha pessoa, que é favorável ao ladrão, não vou falar quem é esse ladrão.”
Nesta semana, chamou de “mamíferos” os empresários que assinaram o manifesto, em uma referência pejorativa a pessoas que estão acostumadas a “sugar” o governo.
A Fiesp já fez sabatinas com os candidatos à Presidência Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB ) e Luiz Felipe D'Avila (Novo). Hoje, faz uma conversa com o candidato ao governo paulista, Fernando Haddad (PT).
A antecipação da sabatina com Bolsonaro para o dia 11, contudo, não conta com apoio da campanha. Para ela, a participação do mandatário pode acabar sendo um desastre, porque será difícil competir com a magnitude da manifestação na USP.
O presidente corre ainda risco de ser alvo de manifestações na porta de seu evento.
Ainda que uma ala do entorno de Bolsonaro tente minimizar o apoio do empresariado à carta pró-democracia, a maioria reconhece que o sinal não é positivo para a campanha.
Nos últimos dias, integrantes da equipe de reeleição do chefe do Executivo buscaram culpados para o amplo apoio à carta. O primeiro alvo foi Paulo Guedes, ministro da Economia, que deveria ter interlocução com banqueiros.
Os presidentes do Banco do Brasil e da Caixa, Fausto Ribeiro e Daniella Marques, também foram alvo de críticas. Uma ala da campanha acredita que eles deveriam ter impedido a Febraban de subscrever o manifesto, ameaçando, inclusive, deixar a federação caso aderissem -o que não ocorreu.
Os dois bancos públicos foram voto vencido na Febraban e não aderiram à carta de teor crítico ao governo.
Independente disso, a leitura agora é que, para rebater o movimento e se aproximar do empresariado novamente, o presidente não deveria tentar competir com o evento da USP. Por isso, aliados querem que Bolsonaro mude mais uma vez a data do evento da Fiesp.
Bolsonaro foi aconselhado por assessores a trocar essa pauta com resultados negativos para sua imagem na federação por outra mais positiva.
No mesmo dia, o Ministério das Comunicações vai promover em São Paulo um evento com o ministro Fábio Faria para falar da chegada do 5G na capital.
O serviço terá sua estreia na maior cidade do país nesta quinta-feira (4). O presidente, no entanto, não pode comparecer devido a restrições impostas pela legislação eleitoral.
Apesar de não poder fazer propaganda para Bolsonaro com a telefonia de quinta geração, Faria vai defender o serviço, que chegou ao país graças a seu esforço para realização do leilão no final do ano passado, contrariando planos das operadoras, que queriam mais tempo para investir em uma nova rede.
Além disso, de acordo com a coluna Painel, do jornal “Folha de S.Paulo”, Bolsonaro deve ainda ser convidado na Fiesp a assinar o manifesto em defesa da democracia encabeçado pela instituição, como já fizeram outros presidenciáveis.
Bolsonaro já disse para integrantes de sua equipe que, devido à sua conotação política, não pretende assiná-lo -o que pode causar mais danos ao presidente.
A participação do presidente no evento da Fiesp ainda consta na agenda oficial, segundo assessores. A federação disse, por meio de sua assessoria, não ter sido informada sobre um possível cancelamento.
Os encontros com candidatos estão sendo realizados na sede da Fiesp, e os políticos foram convidados a participar de um diálogo com diretores, conselheiros, sindicatos e associados das entidades sobre propostas para o Brasil.
O chefe do Executivo criticou o manifesto da Fiesp durante sua live, na semana passada, alegando ter conotação política.
"Uma nota política eleitoral que nasceu lamentavelmente na Fiesp em São Paulo. Se não tivesse o viés político nessa nota, eu assinaria. Sem problema nenhum", disse, durante sua transmissão semanal.
"Claramente que é contra a minha pessoa, que é favorável ao ladrão, não vou falar quem é esse ladrão."
O presidente da Fiesp, Josué Gomes Monteiro, é filho de José Alencar, vice do ex-presidente Lula durante os dois mandatos.
Nesta terça-feira (2), Bolsonaro chamou e "cara de pau" e "sem caráter" quem assinou o manifesto pró-democracia organizado pela USP.
"Esse pessoal que assina esse manifesto é cara de pau, sem caráter, não vou falar outros adjetivos, porque sou uma pessoa bastante educada", disse o mandatário, em entrevista à Rádio Guaíba.
As iniciativas pró-democracia ganharam força após o presidente realizar, em 18 de julho, encontro com embaixadores lotados em Brasília para expor mentiras acerca das urnas e do processo eleitoral, repetindo argumentos já descartados após sua exposição em uma live no ano passado.
Com a proximidade do calendário eleitoral, o presidente tem retomado e intensificado declarações golpistas e de contestação à credibilidade das urnas.
Durante a convenção nacional do PL em que foi oficializado candidato à reeleição, Bolsonaro convocou seus apoiadores para irem às ruas "uma última vez" no 7 de Setembro e dirigiu seus ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro está 18 pontos atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de acordo com o último Datafolha. O atual mandatário tem 29% das intenções de voto, contra 47% do petista.
Em 2020, Bolsonaro participou de manifestações que defendiam a intervenção militar -o presidente é um entusiasta da ditadura e de torturadores. Nos atos de raiz golpista de 7 de Setembro do ano passado, o presidente ameaçou o STF e exortou desobediência a decisão da Justiça.