• Agência O Globo
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Vendedor ambulante (Foto: Yasin Emir Akbaş / Pexels)

Vendedor ambulante (Foto: Yasin Emir Akbaş / Pexels)

Com o objetivo de prevenir o avanço do coronavírus, a recomendação é ficar em casa. Mais de um mês depois do início do isolamento domiciliar, muita gente sente saudades de ir às ruas e se encontrar com os amigos. Mas para quem depende dessa movimentação social para garantir seu sustento, o problema é ainda mais sério: sem a circulação de pessoas, ambulantes e camelôs não podem vender suas mercadorias.

Pensando em minimizar os impactos para esse grupo sem colocar em risco a saúde, iniciativas estão arrecadando doações. Uma delas é o projeto Unidos Pelos Ambulantes.

Amantes do carnaval, as amigas Isadora Tenório e Amanda Britto ficaram preocupadas com a situação desses trabalhadores, sempre muito presentes nos dias de folia. Elas decidiram, então, reunir doações em uma vaquinha online. 

— A nossa primeira vaquinha ultrapassou a meta de R$7 mil em cinco dias, e conseguimos ajudar 70 famílias. Compramos e montamos as cestas do zero. Além de mais de 30 quilos de alimentos não perecíveis, também doamos itens de higiene, limpeza e ovos — conta a designer e criadora de conteúdo Amanda Britto, de 33 anos. 

Ela explica que o grupo começou fazendo contato com ambulantes que já conheciam do carnaval. Com o tempo, a lista foi aumentando. Alguns nomes também foram sugeridos por meio da página do projeto no Instagram.

— A segunda vaquinha está mais devagar. Como a tendência é o número de contribuições cair ao longo dos meses, vamos fazer um esquema de rifa para incentivar as doações. Estamos reunindo produtos de artistas e marcas para criar um kit que será sorteado. A nossa ideia é conseguir ajudar cada vez mais famílias. É muito importante que as contribuições continuem, para que possamos garantir as cestas durante todos os meses de isolamento social — diz ela. 

Maria Alice Lopes, de 34 anos, foi uma das ambulantes beneficiadas e também ajudou na organização do projeto e na montagem das cestas básicas. Além de trabalhar vendendo bebidas em eventos de rua, ela também é uma das donas da Garagem das Ambulantes, um espaço de festas que está fechado no momento e que foi usado para a primeira distribuição dos alimentos.

—  Tem sido bem difícil, ficamos de mãos atadas porque a gente trabalha em um dia para comer no outro.   — diz Maria Alice, cujo solicitação da ajuda emergencial do governo federal continua "em análise". 

— A gente não está acostumado a pedir ajuda, sempre trabalhamos pelo nosso sustento O Movimento Unido dos Camelôs (MUCA) também está arrecadando doações por meio da "vaquinha online dos camelôs". Quem preferir, ainda tem a opção de colaborar por meio de uma conta bancária ou entrar em contato com os organizadores para contribuir com cestas básicas. 

Maria do Carmo, também conhecida como Maria dos Camelôs, é coordenadora do Muca. Ela explica que a primeira arrecadação organizada por eles ultrapassou o objetivo inicial, conseguindo R$ 28 mil.

Com esse valor, foi possível ajudar mais de 100 famílias, por meio de depósitos bancários. — Com o início do isolamento domiciliar, pensamos que não seria viável sair para entregar as cestas básicas. Hoje, avaliamos que o depósito não foi a melhor forma. Conseguiríamos ajudar mais pessoas comprando comida e distribuindo — pondera Maria do Carmo, que, no dia 15 de abril, começou uma nova vaquinha.   A coordenadora do Muca tem 45 anos e trabalha como camelô há 25, vendendo roupas femininas no Centro do Rio.

Dois de seus quatro filhos trabalham com ela quando não estão na faculdade. Maria do Carmo também está sentindo impactos da quarentena necessária para impedir o avanço da Covid-19. — No dia 15 de março, fui para São Paulo comprar as roupas que vendo no Centro. Investi todo dinheiro que tinha na mercadoria.  Viajei no sábado à noite, cheguei lá às 2h da madrugada, fiz as compras e, às 8h, estava voltando para o Rio. Mas, logo depois, começou o isolamento, e o comércio foi fechado — conta a ambulante, que nem chegou a tirar a mercadoria das malas.

Depois de mais de um mês em casa, Maria do Carmo diz que as contas já estão começando a "se embolar". Mas como seu marido é funcionário público, ele recebe o suficiente para garantir a comida, o único gasto priorizado no momento. — Não tem como pagar faculdade, escola, creche… Graças a Deus, não estamos precisando de cesta básica. Vemos que tem muita gente com situação pior, então tudo que a gente faz é para doar — ela explica.  *Sob supervisão de William Helal Filho