Os mercados brasileiros têm sofrido nas últimas semanas com uma série de fatores, que vão desde a piora da pandemia no país até a precificação de aumento de juros no mundo. No entanto, a expectativa ainda é de que a vacinação vai ganhar tração ao longo do ano, principalmente com o aumento da oferta de imunizantes no segundo semestre, e uma acomodação da inflação nos Estados Unidos. Essa é a avaliação do estrategista-chefe de investimentos da gestora Wealth High Governance (WHG), Tony Volpon, que vê um crescimento da economia em 2020 entre 4% e 4,5%.
"Eu acho que tem vários fatores, inclusive o fato de o Brasil estar vivendo segunda onda e os impactos que isso tem em atividade e pressão por mais gastos. Isso contribui para o quadro mais negativo para mercados", explica o economista na Live do Valor desta sexta-feira. Ele aponta que é inegável a mudança em precificação global de renda fixa e que o ambiente de inflação deve ser bastante pior que nos últimos anos.
Mudanças grandes e rápidas nas taxas de juros dos EUA têm efeito em emergentes, e todos os países em desenvolvimento estão sofrendo com isso. No Brasil, há o elemento adicional da condução da política fiscal, a exemplo da PEC Emergencial, que não traz contrapartidas no presente, diz Volpon. "O que está piorando o quadro comparativo é que a segunda onda veio depois e atinge o pico depois da segunda onda em outros países. Não foi sincronizado", explica. Em contraste, os investidores estão vendo uma melhora grande nos EUA e outros países desenvolvidos, enquanto por aqui ainda se discute o impacto negativo no PIB, gastos do governo e situação fiscal.
Olhando para frente, a expectativa é de avanço no processo de vacinação e ganho de tração na recuperação econômica no segundo semestre, com maior oferta de imunizantes, dado que os países desenvolvidos já terão vacinado boa parte da população. E, mesmo que vagarosamente, o programa segue em curso no Brasil. Para Volpon, alguns fatores devem ser determinantes para a recuperação, como vacinação, política fiscal e política monetária, além de superar o risco de intervenção em estatais. "Se questões caminharem de forma mais construtiva, e o quadro internacional se acomodar após o pico de inflação, isso pode abrir espaço pra recuperação mais consistente no segundo semestre", diz.
O economista explica que a apresentação da PEC Emergencial ajuda a reduzir a incerteza no mercado e isso evita um retrocesso. Mas não é suficiente para apaziguar o humor os investidores. Ele aponta que uma virada mais positiva vai depender de o pico de inflação passar no mundo. Até lá, os mercados ficam bastante nervosos e voláteis, "mas podemos ter acomodação em termos de níveis".
Em relação a intervenção em estatais, após o episódio da indicação para troca de comando na Petrobras, ele disse que já ficou claro que esse tipo de atuação não ajuda do ponto de político e espera que isso se encerre por aí. "Espero que essa ficha já tenha caído", diz. Ele destaca que este não é o ambiente para esse tipo de política. A intervenção "pode em um primeiro momento trazer impacto positivo em algum grupo de interesse, mas na economia geral traz impacto negativo", diz.
Para melhorar o ambiente, de fato, seria necessário ainda avançar na pauta de reformas, tendo em vista que algumas propostas já estão encaminhadas. Ele pontua que a pressão externa em mercados pode incentivar uma resposta positiva, em termos de avanço da agenda econômica, uma vez que elevaria o senso de urgência.