Educação

Por Patrícia Figueiredo, G1 SP — São Paulo


Fachada da escola municipal Epitácio Pessoa, na Zona Leste de São Paulo — Foto: Nathália Duarte/G1

Os professores da rede municipal de São Paulo vão voltar ao trabalho nesta segunda-feira (13) para planejar, à distância, como deve ocorrer a retomada do ensino em meio à pandemia de coronavírus. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, o processo de aprendizagem se dará por meio de material impresso e, complementarmente, em ambiente virtual.

Entre os professores, o clima é de apreensão em relação à eficácia dos métodos de ensino à distância, especialmente para os que lecionam para crianças mais novas. O Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem) alerta que é contrário ao uso de Educação a Distância (EAD) no ensino básico. Outra reclamação do Sinpeem é que parte dos profissionais não tem acesso a computadores e internet de boa qualidade, o que pode dificultar ou inviabilizar a estratégia proposta pela secretaria.

"Os professores de São Paulo estão apavorados porque nem todos têm equipamentos para aulas online", diz uma professora do Ensino Fundamental 1.

Todos os alunos da rede municipal devem receber materiais pedagógicos em casa até a próxima sexta-feira (17), segundo a pasta. Para complementar o material, os docentes devem desenvolver "ações estratégicas por meio de reuniões virtuais, utilizando diferentes tecnologias, desde que gratuitas e remotas" no período entre segunda e quarta-feira (15), segundo uma resolução da secretaria publicada no Diário Oficial.

Para Claudio Fonseca, presidente do Sinpeem, as tarefas atribuídas aos professores e gestores são difíceis de serem cumpridas à distância.

"Apontamos que a grande diversidade e as desigualdades sociais presentes na rede municipal de ensino, bem como a quantidade de tarefas atribuídas aos gestores e docentes para a preparação dos ambientes virtuais, planejamento, compartilhamento, acompanhamento, elaboração e entrega de relatórios devem ser consideradas como fatores que dificultam e/ou inviabilizam o que a secretaria estabeleceu", afirma Fonseca em nota.

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A secretaria alega que, em relação às dificuldades dos docentes em acessar a internet e os sistemas utilizados, "caberá ao diretor de cada escola disponibilizar na Unidade Educacional o acesso aos equipamentos tecnológicos da escola aos professores impossibilitados de realizar as atividades em outro local."

A pasta afirma ainda que uma categoria nova de docentes, chamados Professores Orientadores de Educação Digital (POED), devem apoiar os demais professores da escola no uso dos meios digitais.

EAD é questionado no ensino básico

A rede municipal de ensino de São Paulo é voltada para educação infantil e ensino fundamental, enquanto o ensino médio e superior são obrigações dos governos estadual e federal. Para crianças mais novas, que estão no ensino fundamental (do 1º ao 9º ano), a Educação a Distância (EaD) é permitida por lei apenas em situações emergenciais.

Para especialistas em educação, o maior desafio de pais e tutores será manter o foco e atenção das crianças em casa, principalmente as menores, enquanto também trabalham.

Em entrevista ao G1 Educação, Alexsandro Santos, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo e coordenador do Curso de Pedagogia da Faculdade do Educador, destacou que é importante pensar sobre o grau de independência que uma criança tem pra estudar acompanhando uma plataforma virtual, já que o modelo de ensino tradicional abre pouco espaço para a autonomia dos estudantes.

“A interação que as crianças têm no mundo virtual, normalmente, é bastante passiva. Quando a gente está chamando elas para uma interação de ensino aprendizagem, a gente precisa que elas atuem, que sejam ativas nessa interação com a plataforma. Mesmo quando a gente pensa em crianças mais velhas – como os adolescentes de 12, 13 anos –, é importante se perguntar se a gente preparou essa geração para construir hábitos de estudos autônomos”, afirma Santos.

Felippe Zancarli, coordenador de Tecnologia Educacional do Salesiano Santa Teresinha, também considera que a falta de maturidade de alunos dessa faixa etária para tocar as atividades por conta própria pode ser um problema. Para ele, o suporte dos pais no dia a dia será fundamental.

Outra dificuldade apontada pelos docentes é a falta de equipamentos adequados para acompanhar a parcela virtual do ensino. Segundo uma pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) divulgada em 2019, 58% dos domicílios no Brasil não têm acesso a computadores e 33% não dispõem de internet. Entre as classes mais baixas, o acesso é ainda mais restrito.

Veja a nota da Prefeitura de São Paulo:

A Secretaria Municipal de Educação (SMS) informa que todos os alunos da rede municipal devem receber o material pedagógico até o próximo dia 17. A entrega é feita desde a última terça-feira (07).

A Pasta segue o Decreto de isolamento social e, para organizar o início das atividades online, as Unidades Educacionais poderão utilizar os dias 13, 14 e 15 de abril, para discutir ações estratégicas por meio de reuniões virtuais, utilizando diferentes tecnologias, desde que gratuitas e remotas.

Os Professores Orientadores de Educação Digital (POED), apoiarão os demais docentes da escola quanto ao uso de tecnologia e apropriação dos recursos digitais disponibilizados para o atendimento dos estudantes.

Caberá ao Diretor de Escola disponibilizar na Unidade Educacional o acesso aos equipamentos tecnológicos da escola aos professores impossibilitados de realizar as atividades em outro local.

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