Saúde Coronavírus

Em comparação com 40 países, Brasil está entre os 10 onde Covid-19 mais avança

Número de casos quadruplicou em três semanas, e taxa de aumento caiu pouco, mostra análise de pesquisadores
No fim de abril, cariocas desrespeitam isolamento social e praticam esportes em dia de sol na Praia de Ipanema, no Rio Foto: Fábio Rossi / Agência O Globo
No fim de abril, cariocas desrespeitam isolamento social e praticam esportes em dia de sol na Praia de Ipanema, no Rio Foto: Fábio Rossi / Agência O Globo

SÃO PAULO - Uma comparação da evolução da Covid-19 em 40 países, o Brasil está dentro daqueles 25% piores, onde o vírus avança mais rápido. Num recorte só com países da América do Sul, a epidemia brasileira é aquela com maior letalidade e a segunda que mais cresce. Os números são resultado de análise do grupo Nois, núcleo interdisciplinar de pesquisa que integra PUC-Rio, Fiocruz, USP e outras instituições.

Em estudo analisou o período do 33º ao 53º dia de epidemia no país, contados a partir do dia em que o Brasil tinha 50 casos registrados da doença. O mesmo valeu para os outros países. Os cientistas avaliam que o Brasil foi mal sucedido em tentar frear sua epidemia do novo coronavírus, quando comparado com outros. Em média, entre essas duas datas, os países analisados conseguiram reduzir a taxa diária de aumento de casos de 4,3% para 1,6%. No mesmo período considerado (contagem a partir do 50º caso em cada país), o Brasil tinha taxa mais alta, 7,8%, e reduziu pouco, para 6,7%. Nesse período o número de casos brasileiros de Covid-19 quadruplicou.

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Os países incluídos na análise global foram Alemanha, Austrália, Áustria, Bahrein, Bélgica, Brasil, Canadá, Catar, China, Coreia do Sul, Dinamarca, Egito, Emirados Árabes, Eslovênia, Espanha, EUA, Filipinas, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Índia, Irã, Iraque, Islândia, Israel, Itália, Japão, Kuwait, Líbano, Malásia, Noruega, Portugal, República Tcheca, Reino Unido, San Marino, Singapura, Suécia, Suíça e Tailândia.

Num ranking de taxa diária de crescimento considerado para o dia 4 de maio, o Brasil era o terceiro país onde a Covid-19 mais crescia (6,67% ao dia), atrás apenas de Japão (9,63%) e Kuwait (8,96%).

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Quando o Brasil é analisado do ponte de vista dos óbitos, também está entre os mais preocupantes.

"Nos dias 16, 17 e 28/04/2020, o Brasil foi o país com o maior crescimento na taxa de letalidade, o que mostra um aumento considerável do número de óbitos, caracterizando uma situação extremamente preocupante para o país", afirma comunicado dos pesquisadores à imprensa.

No estudo, os pesquisadores afirmam que os estados nordestinos, em média, conseguiram uma desaceleração mais intensa que os do Sudeste.

"Com exceção da região Nordeste, que apresentou leve queda na taxa de crescimento do número de casos confirmados, as outras regiões do Brasil (incluindo especificamente os estados do RJ e SP) tiveram taxas de crescimento relativamente estáveis ao longo das últimas três semanas, o que indica que o Brasil e suas regiões ainda não atingiram o pico de novos casos."

O país entrou em maio já com uma tendência ruim. Com quase 53 mil casos já em 24 de abril, fim do período analisado pelo Nois anteriormente, a epidemia brasileira tomou um rumo pior que o do cenário pessimista, 40 mil, casos que havia sido projetado pelo Nois há um mês. O número total de casos nesta quarta-feira (6 de maio) já está em 114 mil.

Para comparar o Brasil a outros países da América do Sul, os pesquisadores usaram critérios um pouco diferentes, porque algumas nações do continente ainda não haviam chegado ao 53º dia com epidemia em transmissão comunitária da doença. A comparação foi feita então pelo valor mediano da taxa diária de aumento no número de casos ao longo dos 21 dias que precederam 4 de maio.

O Brasil ficou atrás apenas do Peru, em número de casos, mas foi aquele com a letalidade mais alta, dado que os pesquisadores interpretaram como uma melhor cobertura por testes diagnósticos feita no Peru.