• Tiemi Osato*
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Quase 93% das redes municipais enviaram orientações para os alunos via WhatsApp (Foto: Divulgação/Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações )

Quase 93% das redes municipais respondentes enviaram orientações para os alunos via WhatsApp (Foto: Divulgação/Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações )

Ao sinal dos primeiros casos de Covid-19 no Brasil, no final de fevereiro de 2020, alunos e professores tiveram que substituir a sala de aula pela própria casa e trocar a lousa por telas de computador ou de celular. Acontece que, num país tão desigual, essa troca contribuiu para aprofundar ainda mais as dificuldades de alunos e professores, principalmente os da rede pública de ensino.

Com objetivo de analisar os principais desafios enfrentados pelas escolas no ano passado e identificar quais são os planos para 2021, a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) realizou uma pesquisa em 3.672 cidades brasileiras, o que representa quase 67% dos municípios do país.

O estudo, apoiado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pelo Itaú Social, coletou dados das Secretarias Municipais de Educação entre 29 de janeiro e 21 de fevereiro deste ano. O levantamento abrange cerca dois terços dos estudantes das redes municipais do Brasil

Obstáculos da pandemia

Para 69,8% dos respondentes, o ano letivo de 2020 foi concluído até dezembro. No caso de 22,9%, o calendário foi reorganizado para 2021 e, para 7,2%, essa reestruturação ainda está em curso. Entre as redes que seguiram as datas de 2020, 91,9% contaram apenas com atividades educacionais remotas, enquanto as outras 8,1% utilizaram o ensino híbrido, que inclui tarefas presenciais e não presenciais.

Para manter as escolas funcionando a distância, o material impresso e as orientações enviadas por WhatsApp foram os dois grandes aliados dos professores: 95,3% das redes municipais adotaram recursos impressos e 92,9% fizeram uso do aplicativo de mensagem. Videoaulas gravadas, orientações via aplicativos — como Zoom, Meet, Teams e Hangouts —, plataformas educacionais e videoaulas ao vivo também foram recursos utilizados.

A pesquisa revela que os aplicativos mais especializados e as plataformas pedagógicas foram implementados majoritariamente em municípios maiores. "As redes com maior capacidade de financiamento conseguiram oferecer mais plataformas estruturadas. Quem não tem essa possibilidade, se limitou a fazer com o que podia", comentou Luiz Miguel Garcia, presidente da Undime, em coletiva de imprensa virtual nesta quarta-feira (10).  Além disso, para quase 60% das redes, a participação dos alunos nas atividades remotas foi superior a 75%. No caso de 5% dos respondentes, o máximo de participação foi de 25%.

Volta às aulas em 2021

O planejamento de 63,3% das redes municipais consistia em iniciar o ano letivo de 2021 remotamente. A intenção de 26,3% era começar de forma híbrida e, para 3,8%, o plano era adotar as atividades presenciais — as outras 6,6% ainda não definiram. Na maioria dos municípios, as aulas estão sendo retomadas entre janeiro e março.

A pesquisa também analisou os planos para o ensino presencial, que é fundamental na concepção da Unicef: em uma situação de emergência, a organização defende que as escolas sejam as últimas a fechar e as primeiras a reabrir. Na visão de Ítalo Dutra, chefe de Educação da Unicef no Brasil, apesar das condições epidemiológicas atuais não serem favoráveis para o retorno das aulas presenciais, é preciso que as escolas estejam prontas para voltar assim que possível.

Os dados coletados apontam que seis em cada dez municípios (59,6%) ainda estão discutindo protocolos de segurança sanitária para a reabertura das escolas. Esse trabalho já foi concluído no caso de 33,9%, enquanto em 6,5% ainda não foi iniciado. Em relação aos protocolos pedagógicos, 70,4% das secretarias responderam que o material ainda está em processo de elaboração, 22,7% concluíram e 6,9% não começaram.

Maiores desafios

A infraestrutura escolar e o acesso à internet são os dois maiores problemas enfrentados, afirma o estudo da Undime. Das instituições analisadas, 78,6% classificaram a conectividade dos alunos como uma dificuldade de grau médio a alto no âmbito do ensino remoto. Para 69,2%, a adequação da infraestrutura das escolas públicas municipais representa um entrave de grau médio a alto.

As secretarias indicam também que o acesso dos professores à internet é uma preocupação. Para 24,1%, o nível de dificuldade varia entre 4 e 5 — sendo esse o maior grau. Para 28,5%, o nível é 3 e, no caso de 47,4%, o nível fica entre 1 e 2. Diante disso, a Undime reforça a importância de ampliar o acesso à banda larga. “Temos documentado o pedido de antecipação e aceleração do programa Educação Conectada”, revelou Luiz Miguel Garcia.

Segundo o especialista, o programa do Ministério da Educação, que pretende levar internet de alta velocidade às escolas públicas até 2024, é apenas um dos caminhos que devem ser tomados para melhorar o ensino e o aprendizado neste momento.

"Sabemos que em 2021 e nos anos seguintes, devido às mudanças impostas pelo enfrentamento à Covid-19, a educação básica pública enfrentará muitos desafios adicionais com a retomada das aulas presenciais”, disse Garcia. “Os municípios necessitarão de várias ações, como implementação de protocolos sanitários e de segurança, elaboração e aplicação de protocolos pedagógicos, investimentos em infraestrutura e capacitação dos profissionais da educação com atividades pedagógicas locais e em regime de colaboração."

*Com supervisão de Luiza Monteiro