Por G1


Governos de 17 estados e do Distrito Federal (DF) se posicionaram contra a inclusão das atividades de salões de beleza, barbearias e academias de esportes na lista de "serviços essenciais", conforme decreto editado pelo presidente Jair Bolsonaro e publicado em edição extra do "Diário Oficial da União".

Em todos estes 17 estados e no Distrito Federal, as três atividades já estavam fechadas — e assim permanecerão, obedecendo decretos estaduais. Veja a lista:

Além deles, Espirito Santo e Rio Grande do Norte afirmaram que não abrirão academias de esporte, mas salões de beleza e barbearias já estavam e continuarão em funcionamento. Em Santa Catarina, as três atividades já estavam liberadas por determinação do governo do estado. O Rio Grande do Sul também já havia liberado as três atividades, desde que respeitada restrições de "distanciamento controlado" — a exceção é a região de Lajeado (que engloba 37 cidades), que não pode abrir salões, barbearias e academias.

Tanto o governo de Minas Gerais quanto o do Tocantins afirmaram que a liberação ou proibição das atividades são definidas pelos municípios.

O G1 procurou os governos dos demais estados, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

Liberação não é automática

O decreto que definiu salões de beleza, barbearias e academias como serviços essenciais significa que, no entendimento do governo federal, eles podem continuar em meio à pandemia. Mas, na prática, ele não permite uma liberação automática para o funcionamento de serviços e atividades.

Isso porque os estados e municípios têm o poder de estabelecer políticas de saúde – inclusive questões de quarentena e a classificação dos serviços essenciais – como definiu o Supremo Tribunal Federal (STF) em abril.

Além disso, um decreto do próprio presidente, de 29 de abril, afirma que a lista de serviços considerados essenciais pelo governo federal "não afasta a competência ou a tomada de providências normativas e administrativas pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas competências e de seus respectivos territórios".

Apesar disso, no fim da manhã desta terça-feira (12), o presidente postou em uma rede social que os governadores que não concordassem com o decreto de liberação das academias, salões de beleza e barbearias deveriam ir à Justiça ou "entrar com projeto de Decreto Legislativo", e que "o afrontar o estado democrático de direito é o pior caminho, aflora o indesejável autoritarismo no Brasil."

Ministro da Saúde não foi consultado

A inclusão de salões de beleza, barbearias e academias na lista de atividades essenciais surpreendeu o ministro da saúde, Nelson Teich, que foi informado sobre o assunto enquanto concedia entrevista coletiva.

"A decisão de atividades essenciais é uma coisa definida pelo Ministério da Economia. E o que eu realmente acredito é que qualquer decisão que envolva a definição como essencial ou não, ela passa pela tua capacidade de fazer isso de uma forma que proteja as pessoas. Só para deixar claro que isso é uma decisão do Ministério da Economia. Não é nossa”, completou o ministro.

Governadores dizem que não vão autorizar funcionamento de serviços liberados por Bolsonaro

Governadores dizem que não vão autorizar funcionamento de serviços liberados por Bolsonaro

Veja a repercussão nos estados:

Acre

O governador do Acre, Gladson Cameli, afirmou em entrevista ao G1 nesta terça-feira (12), que o estado vive duas semanas “difíceis” com relação ao novo coronavírus e, portanto, não é momento para relaxar as medidas já determinadas.

"Respeito o decreto presidencial e tenho meu decreto que está vigente e que já tinha sido prorrogado. Vou aguardar até o final da data que está prevista, que é o tempo que a gente vai analisando. Porque aqui nós estamos em duas semanas muito complicadas e difíceis, então, não posso mudar e tomar nenhuma posição que seja contrária ao isolamento”, disse o governador.

Amapá

O governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), afirmou que salões de beleza, barbearias e academias de esporte vão continuar fechados no estado, mesmo com a nova medida de Bolsonaro.

"Apesar do decreto do Governo Federal, incluindo academias de ginástica, salões de beleza e barbearias como serviços essenciais, informo que está mantido o fechamento destas atividades no Amapá. Respeitando assim o entendimento do STF sobre o caso", escreveu o governador em uma rede social.

Alagoas

O governador do estado, Renan Filho (MDB), afirmou em uma rede social que as referidas atividades continuarão fechadas em Alagoas.

"O Decreto 69.722 mantém fechados segmentos da economia cujo funcionamento gera aglomeração e proximidade entre as pessoas. Essa é uma forma de diminuir o avanço do contágio da Covid-19 em Alagoas. As atividades de academias, clubes, centros de ginástica e similares, além de salões de beleza e barbearias, seguem suspensas em todo Estado até o dia 20 de maio", escreveu Renan Filho.

Amazonas

Procurado pelo G1, o governo do Amazonas informou que, até o momento, as medidas para enfrentamento da pandemia estão mantidas — o que inclui a proibição de salões de beleza, barbearias e academias de esportes.

O decreto de proibição, entretanto, vale até esta quarta-feira (13), podendo ser estendido.

A nota enviada ao G1 ainda acrescenta que o governador Wilson Lima (PSC) se reúne, nesta terça-feira (12), com representantes de demais poderes e órgãos de controle para definir medidas mais rígidas de isolamento.

Bahia

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), anunciou que o estado não vai seguir as novas diretrizes publicadas pelo governo federal. No estado, as referidas atividades já estavam fechadas.

“As nossas medidas restritivas serão mantidas respeitando critérios científicos reconhecidos mundialmente. A Bahia vai ignorar as novas diretrizes do governo federal. Manteremos nosso padrão de trabalho e responsabilidade. O objetivo é salvar vidas. Não iremos nos afastar disso”, disse Rui Costa em publicação nas redes sociais.

Rui Costa, governador da Bahia — Foto: Fernando Vivas / GOVBA

Ceará

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), afirmou que o decreto federal em nada altera o estadual — e, portanto, as três atividades continuam proibidas. Ele reforçou os estabelecimentos incluídos na medida assinada por Bolsonaro devem permanecer fechados no estado.

"Informo que, apesar de o presidente baixar decreto considerando salões de beleza, barbearias e academias de ginástica como serviços essenciais, esse ato em nada altera o atual decreto estadual em vigor no Ceará, e devem permanecer fechados. Entendimento do Supremo Tribunal Federal", disse o governador pelas redes sociais.

Camilo Santana, governador do Ceará — Foto: Reprodução / Facebook

Distrito Federal

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), afirmou que vai seguir orientações de seus técnicos, que dizem que esses estabelecimentos não devem ser reabertos, por ora.

"Ele [Bolsonaro] tem o poder da caneta, mas tem que agir organizado. Aqui tem uma decisão judicial que vou continuar cumprindo... Também obedeço meus técnicos, que apontam que não devo abrir essas áreas. Construção civil eu concordo com ele, e já tinha aberto. Indústria, eu concordo com ele porque o risco é menor e muito mais controlado. Uma parte ele tem razão... [Academia e restaurantes] Quem entender de abrir aqui vai ser multado e fechado, inclusive com possibilidade de cassação do alvará de funcionamento", disse Ibaneis.

Goiás

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), afirmou que vai baixar um novo decreto mais "rígido" em relação ao coronavírus e liberar somente serviços essenciais, como supermercados e farmácias. Portanto, salões de beleza, barbearias e academias de esportes seguem fechadas.

Questionado se irá seguir o novo decreto do presidente, o governador afirmou que "não tem a menor hipótese" de acompanhar a decisão de Bolsonaro e fez críticas, em especial à liberação de funcionamento das academias de ginástica.

"De maneira alguma [irá seguir o decreto presidencial]. As exceções são em relação a farmácias, aos hospitais, a área de alimentação, de indústrias de transformação. É unicamente isso neste momento", disse Caiado.

Maranhão

O governo do Maranhão informou, por meio de nota da Casa Civil ao G1, que as categorias de salões de beleza, barbearias e academias não estão contempladas no decreto atual em vigor no estado até o dia 20 de maio e, por isso, devem permanecer sem funcionar até a edição de um novo decreto.

"A Casa Civil informa que as categorias que não estão contempladas no decreto atual devem cumprir as normas vigentes até edição de novo decreto. Demandas desta e de outras categorias já foram formalizadas por entidades representativas e estão sob análise", disse a nota.

Pará

O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), afirmou que as atividades liberadas pelo presidente Bolsonaro seguirão fechadas no Estado.

"Diante do decreto do Governo Federal, que considera salões de beleza, academias de ginástica e barbearias como serviços essenciais, reafirmo que aqui no Pará essas atividades permanecerão fechadas. A decisão é tomada com base no entendimento do STF", escreveu Barbalho em redes sociais.

A Procuradoria Geral do Estado (PGE) do Pará também informou que não vai alterar a lista de atividades consideradas essenciais durante o lockdown, decretado por dez cidades do estado. A medida começou na última quinta (7) e, desde o último domingo (10), passou a prever fiscalizações mais rigorosas e até penalizações em caso de descumprimento. A determinação vale até o próximo domingo (17), podendo ser prorrogada.

Helder Barbalho, governador do Pará — Foto: Reprodução / Agência Pará

Paraíba

O governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania), disse não adotará no estado as novas diretrizes sobre os serviços essenciais.

A informação foi dada ao G1 por meio de nota da assessoria do governador e pelo procurador-geral do Estado, Fábio Andrade. Posteriormente, Azevêdo falou sobre o assunto à rádio CBN.

"O nosso decreto está previsto que essas medidas de isolamento irão até o dia 18 e que até lá nós fazemos avaliação quase que diária dos dados que se apresentam na Paraíba. E não há pretensão por parte do governo de fazer nenhuma alteração do decreto antes do dia 18. Nós precisamos entender que estamos ainda, no caso da Paraíba, subindo os dados, e isso nos preocupa muito", disse o governador.

Paraná

O governo do Paraná informou que não vai seguir as novas diretrizes sobre serviços essenciais durante pandemia.

Em nota, o governo disse que a curva de contaminação do novo coronavírus segue crescendo e que especialistas vão avaliar a reabertura de atividades econômicas após ampliação de testes na população. O estado do Paraná é governado por Ratinho Júnior (PSD).

Pernambuco

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), afirmou que o estado não vai incluir na lista de "serviços essenciais" as atividades de salões de beleza, barbearias e academias de esportes, que seguem fechadas.

"Nosso objetivo é salvar vidas, não podemos aceitar nenhuma atitude que as coloque em risco. Portanto, aqui, só seguirão funcionando os serviços realmente essenciais, garantindo acesso a alimentos e medicamentos", disse Câmara.

Governo de Pernambuco adota medidas mais rigorosas para manter o isolamento social

Governo de Pernambuco adota medidas mais rigorosas para manter o isolamento social

Piauí

O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), afirmou que não seguirá o decreto anunciado por Bolsonaro e que manterá medidas "baseadas na ciência". As três atividades já estavam fechadas no estado.

"Vamos continuar seguindo as medidas adotadas até o momento, baseadas na ciência, mantendo o isolamento social, que é a melhor alternativa para o que estamos vivendo agora. Sobre o decreto do presidente Bolsonaro, considerando academias, salões de beleza e barbearias como serviços essenciais, destaco que, aqui no Piauí, seguiremos com nossos decretos estaduais. Estes serviços permanecem fechados", disse Dias.

Rio de Janeiro

A assessoria do governo do Rio de Janeiro informou que não seguirá o decreto de Bolsonaro — e, portanto, as três atividades seguem proibidas. O Estado é governado por Wilson Witzel (PSC).

São Paulo

Questionado pelo G1, o governo de São Paulo disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que avalia a questão, mas que, por ora, os serviços seguem proibidos de funcionar.

Na noite desta segunda-feira (11), o governador João Doria, publicou em sua conta no Twitter a lista das atividades autorizadas a operar durante a quarentena, ampliada até o dia 31 de maio em todo o estado. Nas publicações, embora não comente o decreto presidencial, Doria mantém de fora da lista as academias e salões de beleza.

Já nesta terça-feira (12), o governo disse: "O Centro de Contingência do COVID-19 em São Paulo está, desde ontem [segunda], analisando tecnicamente o decreto Federal que torna essenciais os serviços de salões de beleza, barbearias e academias. Além disso, em outra frente, a Procuradoria Geral do Estado analisa juridicamente o decreto. As considerações serão apresentadas, nesta quarta-feira (13), ao governador João Doria. A decisão será anunciada na sequência, em coletiva de imprensa".

Sergipe

O superintendente de Comunicação do Governo de Sergipe informou nesta terça-feira (12) que o estado não irá seguir as novas diretrizes do governo federal. Sergipe é governado por Belivaldo Chagas (PSD).

"A situação atual que Sergipe está, com crescimento diário de número de casos, não é propício à nova flexibilização", disse o superintendente Givaldo Ricardo.

'Um milhão de empregos'

Antes da publicação oficial, Bolsonaro adiantou a liberação das categorias durante conversa com jornalistas na porta do Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência.

“Essas três categorias juntas [salões de beleza, barbearias e academias de esportes] dão mais de um milhão de empregos. Pessoal, vou repetir aqui, vou apanhar de novo. A questão da vida tem que ser tratada paralelamente a questão do emprego”, disse o presidente.

Questionado, o presidente negou que as sucessivas inclusões na lista de serviços essenciais sejam uma tentativa de burlar as regras locais.

“Eu não burlo nada. Se você está me acusando disso, você me desculpa, você se equivocou aí. Saúde é vida. Quem está em casa, agora como sedentário, por exemplo, está aumentando o colesterol dele, problema de estresse, um monte de problema acontece. Se ele puder ir numa academia, logicamente, de acordo com as normas do Ministério da Saúde, ele vai ter uma vida mais saudável”, argumentou.

Bolsonaro também foi questionado se deseja incluir outros serviços no rol de atividades essenciais. “Se eu tenho na cabeça? Tenho. Vamos esperar o que acontece nessas de hoje para a gente publicar esse demais aí”, afirmou, sem especificar quais seriam as atividades em estudo.

O presidente Jair Bolsonaro concedeu entrevista nesta segunda (11) ao voltar ao Palácio da Alvorada — Foto: Wagner Pires / Futura Press / Estadão Conteúdo

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