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‘Native Brazilian music’: Museu Villa-Lobos promove exposição virtual sobre obra histórica da nossa música

Gravado num navio em 1940, álbum reuniu bambas como Villa-Lobos, Pixinguinha e Cartola
Heitor Villa-Lobos e o maestro Leopold Stokowski Foto: Reprodução
Heitor Villa-Lobos e o maestro Leopold Stokowski Foto: Reprodução

Em agosto de 1940, há praticamente 80 anos, Heitor Villa-Lobos (1887-1959) escalava uma verdadeira seleção da música popular brasileira da época, entre eles Pixinguinha, Donga, Luiz Americano, Zé Espinguela e um jovem Cartola, e levava esses e muitos outros talentos para o navio S.S. Uruguay, atracado na Praça Mauá. Na embarcação, que transportara no ano anterior Carmen Miranda e seus músicos para a primeira excursão americana, um time de mais de cem músicos gravou cerca de 40 canções para o projeto batizado de “Native Brazilian music”, sob a batuta do renomado maestro britânico radicado nos Estados Unidos Leopold Stokowski.

Grande elenco. Álbum reuniu mais de cem músicos no navio S.S. Uruguay, ancorado na Praça Mauá, entre eles bambas como Pixinguinha, Cartola e Donga Foto: Reprodução
Grande elenco. Álbum reuniu mais de cem músicos no navio S.S. Uruguay, ancorado na Praça Mauá, entre eles bambas como Pixinguinha, Cartola e Donga Foto: Reprodução

Dois anos depois, um álbum com 17 destas gravações, que buscava resumir a música tipicamente brasileira criada na época, com influências afrobrasileiras e indígenas, era lançado apenas nos Estados Unidos. O Brasil só foi ouvi-lo mais de quatro décadas depois. A história detalhada desse precioso documento da música brasileira da primeira metade do século XX — uma narrativa iniciada em 1933 e encerrada em 1987, quando a obra finalmente pôde ser ouvida no Brasil — poderá ser explorada a partir deste domingo, numa exposição virtual gratuita organizada pelo Museu Villa-Lobos em parceria com a plataforma Google Arts & Culture (clique aqui para conhecer) .

Capa. Disco só foi lançado nos EUA Foto: Reprodução
Capa. Disco só foi lançado nos EUA Foto: Reprodução

— O visitante virtual vai ter a oportunidade de conhecer todo o processo por trás desse álbum, criado quase por acidente, como prática da Política de Boa Vizinhança do governo Vargas com os Estados Unidos na época — explica Pedro Belchior, historiador do Museu Villa-Lobos. — Acabou se tornando uma das obras mais importantes da nossa cultura, por incentivar uma rara união entre a música erudita, de concerto, e a popular. E traz, ainda, aquela que é conhecida como a primeira gravação de Cartola cantando uma composição, “Quem me vê sorrir”.

A exposição virtual conta com uma seleção de 50 fotografias do acervo do MVL, com reproduções de cartas trocadas entre Villa-Lobos e Stokowski, além de áudios das músicas de “Native Brazilian music”, fotos raras dos músicos envolvidos nas gravações, ilustrações, entre outros recursos eletrônicos.

Vinil é um dos destaques da exposição virtual do Museu Villa-Lobos Foto: Reprodução
Vinil é um dos destaques da exposição virtual do Museu Villa-Lobos Foto: Reprodução

— Uma das vantagens da exposição virtual, ainda mais essa, com muita informação e áudios disponíveis, é o conforto que o visitante poderá ter para conhecer melhor a história. É uma obra muito rica e cheia de curiosidades, com conflitos e diversidade cultural, e a contamos desde seus primórdios, em 1933, até 1987, quando o Museu Villa-Lobos trouxe o disco pro Brasil — reforça o historiador da instituição localizada no bairro de Botafogo.

O museu prepara para o segundo semestre o lançamento de um novo site oficial e uma exposição física sobre Arminda Villa-Lobos, segunda mulher do compositor e primeira diretora do MVL.

Disponível a partir deste domingo na plataforma cultural do Google (http://artsandculture.google.com) , a exposição “Native Brazilian music: 80 anos” não tem data para sair do serviço. Organizada em formato narrativo, a mostra tem apresentação tanto em português quanto em inglês.

— Esperamos que essa seja a primeira exposição de muitas que o museu fará na plataforma, que tem alcance global. Apesar de ser um dos artistas mais criativos da música brasileira, Villa-Lobos é mais conhecido fora do Brasil do que aqui — avalia Belchior.