Rio

Polícia reforçado no Complexo do Alemão após disparos antes de corrida no Complexo do Alemão

Homens do Bope, BPChoq e BAC dão apoio à ação. Até as 20h de domigo, não havia registro de prisões
Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, participou da corrida no Alemão, que atrasou após tiroteio na região Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, participou da corrida no Alemão, que atrasou após tiroteio na região Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

RIO - O policiamento foi reforçado nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio, após traficantes efetuarem disparos pouco antes do início da 4ª edição da corrida Desafio da Paz, promovida pelo grupo AfroReggae, na manhã deste domingo. Homens dos batalhões de Operações Especiais (Bope), de Choque (BPChoq), e de Ação com Cães, com apoio do helicóptero Águia da PM fazem operação na região para tentar localizar os autores dos disparos. Até as 20h deste domingo, ninguém havia sido preso, segundo informações do site G1.

Após participar da corrida com 30 policiais de seu batalhão, o comandante do Bope, tenente-coronel René Alonso, disse que os disparos foram uma tentativa de intimidar a polícia e prejudicar a corrida. Segundo ele, desde quinta-feira (quando houve o fechamento do comércio), homens do Bope começaram a policiar a região. No momento da corrida, pelo menos cinco equipes do batalhão estavam nos dois complexos.

— Já havia reforço no patrulhamento. Não poderíamos ceder e cancelar o evento, que transcorreu dentro da tranquilidade. Teve gente que ia desistir, mas, quando viu que eu e meus policiais estávamos correndo, voltou para participar — disse Alonso.

Se o clima foi de confusão antes da largada, no fim da corrida houve comemoração.

— O nome da corrida é Desafio da Paz, não é Celebração da Paz. Então, é algo constante. Existia a possibilidade de cancelarmos, mas seria um retrocesso, e o que aconteceu foi uma vitória do Rio de Janeiro — afirmou o coordenador do AfroReggae, José Júnior.

Mineiro foi o vencedor

Vencedor na categoria masculina, o mineiro Gilberto Silvestre Rocha, de 23 anos, que completou o percurso em 17 minutos e 20 segundos, visitava o complexo pela primeira vez.

— Sempre tive vontade de vir à comunidade, que só conhecia pela TV. Foi muito bom receber o incentivo dos moradores — comentou ele, que não hesitou em participar.

Em primeiro lugar na categoria feminina ficou Luciana Ivonete, de 29 anos, com o percurso em 30 minutos e 13 segundos. A campeã é moradora do Alemão. Atrás da vencedora ficou a americana Stephanie Savell, de 32, há três meses vivendo na comunidade, onde faz uma pesquisa sobre a região para seu mestrado.

— Eu me sinto numa grande família. Fui muito bem recebida e todos da comunidade fazem questão de me passar segurança — contou Stephanie.

Morador da Gávea, o advogado Adilson Fernandes Júnior, de 36 anos, correu pela primeira vez no Alemão. Para ele, o evento representa a integração social do morro com o asfalto:

— É a inclusão social. Vim correr e adorei. Não tive medo dos tiros porque, se o secretário Beltrame correu, é porque estava tudo bem.

Os participantes ficaram assustados. Houve correria e atletas chegaram a se jogar no chão. Participante da corrida, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que a ação foi mais uma tentativa do tráfico de desestabilizar o poder público que está presente na região, já pacificada.

Passado o susto, a largada para os cinco quilômetros de percurso entre os dois complexos aconteceu às 9h, uma hora após o previsto.

Beltrame afirmou que se reunirá com outros representantes do poder público para investigar de onde partiram os tiros. O secretário quer identificar as áreas onde ainda possa haver ação do tráfico.

— Essa ação é oriunda de resquícios de uma facção que reinou durante décadas. Hoje, o Estado, através da Polícia Civil e da Polícia Militar, ocupou a área. É óbvio que essa facção, mesmo enfraquecida, ainda acredita que vai nos afastar daqui. Mas, isso legitima que esta área está ocupada pelo Estado e que daqui nós não sairemos. Existe um trabalho de inteligência porque a população merece segurança — disse Beltrame, que completou a corrida em 35 minutos.

Segundo o comandante da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), coronel Paulo Henrique de Moraes, os disparos foram feitos por traficantes localizados na área conhecida como Bairro 13, em direção a um contêiner da UPP. Em seguida, ocorreram disparos na localidade conhecida como Pedreira, que liga os dois complexos. Moraes ressaltou que não houve confronto entre os bandidos e policiais.

Na semana passada, o comércio amanheceu fechado na quinta e na sexta. Apesar da presença da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), algumas lojas abriram apenas por volta das 9h20m. O atraso na abertura do comércio seria fruto do medo de comerciantes de sofrerem uma represália de traficantes, que na quinta impuseram um toque de recolher. Na noite desta quinta-feira, disparos voltaram a assustar os moradores.

O Desafio da Paz já faz parte do calendário esportivo da cidade. O evento teve a sua primeira edição em maio de 2011, no próprio Alemão, seis meses após a ocupação das Forças de Paz. Em seguida, foi a vez da Rocinha receber a corrida. O circuito atravessa a favela, passando pela estrada onde bandidos fugiram durante a ocupação do Complexo, em novembro de 2010.