Operação policial no Complexo do Alemão tem 13 mortos, entre eles chefe do tráfico do Pavão-Pavãozinho
Treze pessoas morreram durante uma operação das polícias Civil e Militar no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, nesta sexta-feira. Entre elas estão o chefe do tráfico dos morros Pavão-Pavãozinho e Catagalo, que ficam na Zona Sul da cidade e um de seus seguranças, informou o delegado Marcus Amim, titular da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos da Polícia Civil (Desarme). Leonardo Serpa, o Léo Marrinha, estava escondido na comunidade. Foram apreendidos na ação oito fuzis foram apreendidos.
Cinco dos mortos chegaram a ser socorridos por PMs para o Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, também na Zona Norte. Outros cinco foram transportados por moradores até a parte baixa da favela. De acordo com o coronel Mauro Fliess, porta-voz da PM, as equipes ficaram reduzidas quando os baleados começaram a ser transportados. Com isso, quem ficou para trás acabou não conseguindo chegar aos demais baleados.
— Eram muitos tiros, granadas sendo lançadas pelos próprios comparsas. Havia a noção de que poderia haver mais feridos, mas as equipes não conseguiam alcançar os locais onde eles estavam, porque havia reação (dos bandidos). E com a equipe menor não havia como — disse o coronel.
Durante a ação, um policial militar foi ferido por estilhaços no rosto. Ele foi socorrido para o Hospital Central da PM, no Estácio, na Zona Norte, onde passa por uma cirurgia.
A ocorrência seguiu para ser registrada na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), onde os policiais militares prestam depoimento.
A operação começou no início da manhã. Moradores do Alemão usaram as redes sociais para relatar intensos tiroteios durante a ação que, segundo a Polícia Militar, era para checar denúncias sobre o paradeiro de um criminoso apontado como liderança do tráfico de drogas local e verificar informações sobre a localização de uma casa usada como esconderijo de fuzis na comunidade.
Pânico e aglomeração por segurança
Moradores usaram as redes sociais para relatar o pânico com o intenso confronto. Além da Desarme, havia no local equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope). "Gente, a situação tá muito séria aqui no Complexo do Alemão!!! Muitas pessoas baleadas! Cara, chorando muito", escreveu Renê Silva, criador do jornal "Voz da Comunidade".
De acordo com o perfil do Facebook da publicação, uma granada foi lançada num beco na localidade Nova Brasília, destruindo parte de uma casa. Um vídeo mostra o local. O ativista Raull Santiago usou seu perfil no Instagram para comentar a situação:
"Em meio à pandemia, uma operação policial na favela. Aqui mesmo onde falta água e a fome se faz presente... vejam, essa foi a principal forma que o estado dialogou com o nosso momento atual. A falsa ideia de guerra contra as drogas, que não transforma realidades de forma positiva e aumenta a violência. Lastimável. Se não morrer de vírus ou de fome, te matarão com tiros de fuzil, em nome de uma segurança pública que não inclui nosso povo".
Uma mulher postou numa rede social que moradores se escondiam juntos em cômodos de casas para se protegerem dos disparos: "Ao mesmo tempo que não se pode aglomerar como prevenção ao coronavírus, aqui na favela a realidade é tentar aglomerar todo mundo no cômodo mais seguro da casa para se proteger da guerra. Tá rolando operação do Bope desde cedo aqui no Complexo do Alemão".
Denúncias de truculência
Santiago também denunciou, ainda no Instagram, que o corpo de um rapaz esfaqueado foi deixado em cima de uma casa. O ativista recebeu essa informação de uma pessoa que aponta agentes do Bope como os responsáveis por atingir o rapaz.
De acordo com o "Voz das Comunidades", um bar teve a porta arrombada por PMs, que teriam consumido mercadorias. O jornal postou ainda que recebeu denúncias de agressões contra moradores. Em uma das imagens, alguns carros estacionados na rua aparecem com a lataria arranhada e amassada. Moradores acusam o caveirão do Bope de ter passado sem se importar com os veículos parados.
A Anistia Internacional publicou, no Twitter, uma nota cobrando as autoridades de segurança repeito aos direitos humanos dos moradores durante operações:
"Dentro e fora do contexto de pandemia, exigimos das autoridades uma segurança pública que respeite os direitos humanos no policiamento e ação de agentes de segurança em geral, respeitando protocolos de uso da força".
O delegado Marcus Amim informou que, além da morte do Leo Marrinha, as outras qaulificações estão sendo levantadas pela Delegacia de Homicídios (DH) pois se enquadram como autos de resistência.
— A gente participou do confronto com o Léo Marrinha e os seguranças dele que foi próximo de onde ficam também algumas lideranças da Nova Brasília e do Complexo do Alemão, então a concentração de pessoas armadas de fuzil ali é muito grande. Essas outras ações foram do Bope na mesma localidade, que tomou um espaço maior para a gente poder operar — disse o delegado.
Sobre as acusações de truculência, Amim informou que toda e qualquer denúncia será apurada. No caso da que uma faca teria sido usada na operação, o delegado disse que isso seria fruto de desinformação:
— Já falaram disso em outras operações porque o tiro de fuzil, quando pega meio enviesado, causa um ferimento como se fosse um golpe de facão. Isso a perícia consegue observar tranquilamente.
A Polícia Militar informou que, durante a movimentação dos policiais pelas comunidades Nova Brasília e Fazendinha, criminosos armados atiraram e lançaram diversas granadas contra as equipes. O socorro dos feridos foi feito ao Hospital Estadual Getúlio Vargas. Na unidade de saúde, eles vieram a óbito e um deles foi reconhecido como chefe do tráfico.
Leia a íntegra da nota da PM
"A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, na manhã desta sexta-feira (15/05), policiais militares do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) fizeram operação em conjunto com a Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) da Polícia Civil no Complexo do Alemão, na Zona Norte da cidade do Rio.
A ação teve por objetivo checar denúncias sobre o paradeiro de um criminoso apontado como liderança do tráfico de drogas local e verificar informações sobre a localização de uma casa usada como esconderijo de fuzis na comunidade.
Durante a movimentação dos policiais pelas comunidades Nova Brasília e Fazendinha, criminosos armados atiraram e lançaram diversas granadas contra as equipes do BOPE em diferentes pontos da comunidade. Houve reação aos ataques feitos pelos criminosos nestes locais e ocorreram múltiplos confrontos, o que dificultou o vasculhamento em algumas áreas. Na ação, oito fuzis foram apreendidos e cinco criminosos foram encontrados feridos. Também houve apreensão de 85 granadas e entorpecentes.
O socorro dos feridos foi feito ao Hospital Estadual Getúlio Vargas. Na unidade de saúde, eles vieram a óbito e um deles foi reconhecido como chefe do tráfico. O criminoso estava evadido do sistema prisional desde 2016 e era tido como um dos líderes do tráfico nas comunidades Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, na Zona Sul da cidade do Rio.
Na operação, um policial militar ficou ferido e foi socorrido ao Hospital Central da Polícia Militar (HCPM), onde recebe atendimento médico apresentando estado estável.
Na tarde desta sexta, cinco pessoas em óbito foram trazidas e deixadas na Avenida Itaóca, na altura da Rua Nova Brasília. Equipe da UPP Nova Brasília foi acionada e isolou o local para perícia da Polícia Civil.
Ocorrências encaminhadas para registro na Delegacia de Homicídios."
Operação policial no Complexo do Alemão tem 13 mortos, entre eles chefe do tráfico do Pavão-Pavãozinho
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