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Infectologista da UFRJ teme explosão de casos de Covid-19 com retomada de atividades

Roberto Medronho diz ainda que, enquanto número de internações está em queda, o de mortes em domicílios aumenta
O infectologista Roberto Medronho Foto: TV Globo / Reprodução
O infectologista Roberto Medronho Foto: TV Globo / Reprodução

RIO - O infectologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Roberto Medronho fez um alerta, nesta segunda-feira, para o risco que representa o afrouxamento das medidas de isolamento social em razão da pandemia de coronavírus. Em entrevista ao "Bom Dia Rio", da TV Globo, ele afirmou que teme uma explosão de casos caso isso ocorra e destacou o aumento do número de mortes em domicílios.

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- Não é para abrir. É para fechar mais - frisou ele.

De acordo com Medronho, a queda do número de internações não significa que o número de mortes pela Covid-19 esteja em queda:

- Se as internações diminuíram, por outro lado nós temos visto um número de óbitos domiciliares, em casa, bem maior do que o ano passado. Mais de 800 óbitos. Oitocentos e setenta e seis no estado e 846 no município do Rio.

Sobre a reabertura de shoppings e restaurantes, mesmo com um número reduzido de clientes, ele citou que atualmente o Rio está com a curva de casos de coronavírus aumentando e, por isso, seria um risco enorme esse tipo de medida.

- Impressionante que, mesmo os países que fizeram a abertura na descendência (da curva de casos), os países europeus, com a população bem treinada para isso, o número de casos subiu. Aqui eu tenho muito medo que exploda. Nenhum país do mundo abriu na ascendência da curva. O remédio que nós estamos propondo é um remédio amargo. Eu sei disso. Eu fui pediatra anos. Não era porque o remédio era amargo que eu ia deixar de dar.

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Para o infectologista, as autoridades devem esperar mais para começar diminuir o isolamento:

- Esperaria, se tiver que abrir desesperadamente, mais duas semanas no mínimo para avaliar o comportamento da curva (de casos da doença). Você vê que a curva sobe rapidamente e ela desce lentamente. Foi assim no mundo inteiro. E o mundo inteiro adotando as medidas de isolamento adequadas, não como as nossas.

“Muitas pessoas já não estão cumprindo isolamento. Quando o governo sinalizar que esse isolamento vai ser afrouxado, eu acho que vai ser como abrir uma porteira”

Roberto Medronho
Infectologista

Efeito manada

Ele não acredita que, no Brasil, possa haver um controle rígido de circulação de pessoas em espaços hoje fechados ao público. Medronho alerta que, se o isolamento for afrouxado, cada infectado passaria a contaminar não duas pessoas - como mostram os números do Rio - mas sim seis, que era  o que acontecia no início da pandemia, quando ainda não havia a quarentena.

- No final de semana, no edifício ao lado da minha casa, teve uma festa a noite inteira. Muitas pessoas já não estão cumprindo isolamento. Quando o governo sinalizar que esse isolamento vai ser afrouxado, eu acho que vai ser como abrir uma porteira. O efeito que vai acontecer é o efeito manada. Um infectado, num aglomerado de pessoas, não vai contaminar mais só dois. Vai contaminar todas as pessoas que estão ao seu redor - disse.

Pico de casos

Medronho destacou que o Rio atingirá o pico quando registrar entre 55 e 56 mil casos de coronavírus, o que deve acontecer esta semana - no boletim divulgado neste domingo, a Secretaria estadual de Saúde informou que havia 53.388 infectados e 5.344 mortes:

- Se abrirmos com as pessoas já querendo sair, sem um controle muito estreito, essa descida (da curva de casos) vai subir novamente. Vai ter um repique desse número. A semana do pico ia ser lá atrás, se o governo do Estado não tivesse adotado esse isolamento, que não foi o adequado mas foi o possível.

Hospitais de campanha

O infectologista também demonstrou preocupação com demora na entrega dos leitos dos hospitais de campanha prometidos pelo governo estadual.

- O que me deixa mais preocupado é o fato de que os leitos que foram prometidos não foram abertos. Então vamos abrir (as atividades) com a probabilidade de um repique da doença e sem a retaguarda. Vai criar um novo gargalo - disse.

Ele contou, ainda, que defendia que os hospitais de campanha fossem das Forças Armadas:

- Eu acho que seria outra coisa, e não essa confusão que está aí.

Medronho disse não acreditar que os hospitais de campanha que ainda não estão prontos serão entregues em 20 dias.

- Conhecendo a realidade como eu conheço, de todas as outras epidemais que eu já participei, não serão 20 dias, serão bem mais. E a gente vai ter infelizmente muitas pessoas perecendo - afirmou.