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Por Eduardo Santos — Rio de Janeiro


Reverenciado na Itália, onde foi um dos maiores artilheiros da história do calcio, Dino da Costa teve uma carreira vitoriosa, colecionando gols e arrancando aplausos das plateias que lotavam os estádios do país durante os anos 1950 e 1960. Antes, porém, o ex-atacante carioca fez a alegria dos torcedores do Botafogo, que não se cansavam de comemorar os gols da cria de General Severiano. Aos 89 anos, Dino faleceu terça-feira em Verona, mas seu nome estará escrito para sempre na história do Glorioso.

Nascido em 1º de agosto de 1931, Dino da Costa chegou para os juvenis do Botafogo aos 16 anos no fim de 1947 (jogou apenas a última partida daquele ano). De cara, impressionou a comissão técnica, que viu naquele garoto de 1,82m disposição e faro de gol impressionantes. O cartão de visitas foi o título de artilheiro máximo já no campeonato da categoria no ano seguinte. As ótimas credenciais o levaram a logo ser chamado a integrar os times mistos (reservas e juvenis) que faziam diversos amistosos pelo interior.

A comissão técnica dos profissionais observava o garoto que, aos poucos, passou a participar de alguns treinos do “time de cima”. O ataque campeão carioca de 1948 (Paraguaio, Geninho, Pirillo, Octávio e Braguinha) dava as cartas, e ainda não havia espaço para Dino, incontestável nos juvenis e aspirantes.

Até que veio o ano de 1951. A primeira competição oficial era o Torneio Municipal, e como a equipe principal excursionava, ficou decidido que o Botafogo seria representado pelos aspirantes (outros clubes fizeram o mesmo). Dino da Costa, então, foi relacionado para o segundo jogo (contra o Madureira) e estreou em grande estilo. Precisou de apenas 9 minutos para fazer seu primeiro gol pelo Glorioso. E com mais um do promissor artilheiro, os botafoguenses venceram por 3 a 0. Somando 7 vitórias, 2 empates e 1 derrota, o time de General Severiano levou o caneco. Nos 3 a 0 sobre o Vasco na final, o camisa 9 deixou o dele e fechou a competição com 6 gols ao todo.

Dino da Costa quando homenageado pelo presidente do Hallas Verona — Foto: Twitter / Hellas Verona

A equipe profissional já estava de volta ao Rio, e o treinador, o lendário Carvalho Leite (segundo maior artilheiro da história alvinegra), devidamente ciente de que surgia no clube uma verdadeira máquina de fazer gols: um “futuro Carvalho Leite”. Sem perder tempo, requisitou o garoto dos juvenis, que passou a integrar o elenco principal. Começa aí, de fato, a história de Dino no Botafogo.

Versátil, a fera atuava tanto como centroavante quanto como meia-direita e virou alternativa constante para o ataque. O dono da posição ainda era Sylvio Pirillo, mas o grande atacante já contava com 35 anos e sofria com as constantes dores em um dos joelhos. Carvalho Leite conhecia muito do assunto e via em Dino da Costa a opção perfeita para assumir o posto. E assim foi feito. Em junho de 1952, o velho Pirillo encerrou a carreira, assumiu o cargo de treinador e entregou a camisa 9 a Dino.

O Botafogo iria mal naquele ano, mas o novo titular impressionou pela facilidade com que balançava as redes adversárias. Dino seria o artilheiro da equipe na temporada de 1953 (27 gols em 42 jogos), mas abusou no ano seguinte. Goleador máximo do Carioca (24 gols) e do Torneio Rio/São Paulo (7), chegou ao total de 58 gols em 62 partidas realizadas, com impressionante marca de 0,93 por jogo.

Excursão e glória

O talentoso centroavante já era uma realidade no futebol carioca e nacional, faltava subir mais alto. E a chance viria no meio do ano de 1955. O Botafogo foi convidado para uma excursão interminável à Europa. Foram três meses (maio a julho) longe de casa e nada menos que 18 partidas no roteiro. Com jogos na Espanha, França, Dinamarca, Holanda, Suíça, Itália e República Tcheca (então Tchecoslováquia), o Glorioso brilhou. Foram 11 vitórias, 5 empates e somente 2 derrotas (54 gols marcados e 28 sofridos), com direito a grandes exibições e verdadeiros vareios de bola (4 x 1 Tenerife-ESP, 5 x 1 Stade de Reims-FRA, 5 x 2 Allancen-DIN, 6 x 1 Seleção da Holanda, 6 x 2 Grasshopper-SUI e 4 x 0 Combinado Juventus/Torino-ITA).

Muito jovem, o ataque do Botafogo assombrou. Na ponta-direita havia um jogador estranho, meio torto, mas que simplesmente desmontou as defesas contrárias. Garrincha começou suas diabruras internacionais, entortando os marcadores. Mané ia à linha de fundo como se estivesse indo ao mercado comprar laranjas e, com seus cruzamentos e passes precisos, servia os companheiros. Dino e o mineiro Vinícius se fartaram, marcando 18 e 15 gols respectivamente. O desempenho do trio na Itália chamou a atenção da imprensa do país, que não poupou adjetivos, e o resultado foi o interesse de times italianos. Logo após a vitória por 3 a 2 sobre a Roma, dirigentes do clube giallorosso abriram a mala para contratar Dino, o Napoli sacou o cheque para levar Vinícius e a Juventus preparou uma oferta milionária pelo torto, quer dizer Garrincha. O chefe da delegação alvinegra (o Grande Benemérito João Citro) ficou atordoado com as propostas e imediatamente enviou um telex para o presidente Paulo Azeredo, que topou negociar Dino e Vinícius, porém mandou avisar que não tinha negócio por Garrincha.

Time do Botafogo em 1953: em pé estão Gérson, Gilson, Nilton Santos, Araty, Bob e Juvenal; agachados estão Garrincha, Dino, Carlyle, Geninho e Jayme. — Foto: Reprodução / Sport Ilustrado

Depois de retornar com a delegação, só restou tempo para Dino (então com 24 anos) e Vinícius (23) arrumarem as malas e partirem para aquele que seria o destino final de suas trajetórias. Os dois amigos se consagrariam em solo italiano e adotariam a nova cidadania (ambos se naturalizaram ainda antes do fim da década).

A história de Dino da Costa no Botafogo teve seu ponto final após a vitoriosa excursão. Iniciou-se, então, um novo e glorioso capítulo na carreira do atacante (chamado pelos italianos de Da Costa), que foi ídolo da Roma (82 gols em 163 jogos) e também mostrou seu faro de goleador na Fiorentina, Atalanta, Juventus e Hellos Verona, onde pendurou as chuteiras em 1967, aos 36 anos.


Convocação para a seleção italiana

Primeiro brasileiro a ser goleador do Campeonato Italiano da primeira divisão (temporada de 1956/57, com 22 gols), Dino da Costa fez história no futebol do país, deixando sua implacável marca de artilheiro até pela Azzurra. Nas Eliminatórias para a Copa de 1958, o selecionado tinha duas vitórias (1 x 0 Irlanda do Norte e 3 x 0 Portugal) e uma derrota (0 x 3 Portugal), e precisava ao menos de um empate fora de casa com os irlandeses a fim de carimbar o passaporte para o Mundial da Suécia. Com problemas na formação do ataque, a comissão técnica, entretanto, resolveu recorrer ao já naturalizado Dino para a batalha decisiva. Com apenas 29 minutos, porém, os donos da casa já tinham 2 a 0 no placar. Os italianos foram para o desespero em busca da igualdade consagradora, mas só conseguiram diminuir o prejuízo e ficaram fora. O gol da esquadra, claro, foi de Dino.

Pois bem, na terça-feira, dia 10 de novembro de 2020, Dino da Costa iniciou uma nova jornada. Seu percurso inicial chegou ao fim, mas a história e o nome do grande artilheiro seguirão sempre adiante. Escritos em preto e branco.

Dino da Costa no Botafogo

Jogos: 174
Gols: 136 (Décimo maior artilheiro da história do clube)
Média de gols: 0,73
Títulos: Torneio Municipal (1951), Torneio Triangular de Porto Alegre (1951), Torneio Quadrangular do Rio de Janeiro (1954) e Troféu Internacional Brasil/Colômbia (1954)
Jogos pelos Juvenis e Aspirantes: 56
Gols pelos Juvenis e Aspirantes: 84
Média de gols: 1,5

Dino da Costa na Itália


Jogos na Série A: 282
Gols na Série A: 108
Média de gols: 0,38
Seleção italiana: 1 jogo e 1 gol (1958)
Títulos: Roma (Copa das Feiras - temporada 1960/61), Fiorentina (Copa Itália e Recopa italiana – temporada 1960/61), Atalanta (Copa da Itália - temporada 1962/63) e Juventus (Copa da Itália – temporada 1964/65)

* As estatísticas de Dino no Botafogo foram fornecidas por Eduardo Santos e pelos também historiadores Pedro Varanda e Roberto Nahal.

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