• Ana Laura Stachewski
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cozinha; gastronomia; alimentação; lazer (Foto: DaniloAndjus/Getty Images)

Gastronomia: proposta da Bem em Casa une experiência digital à praticidade de receber os ingredientes em casa (Foto: DaniloAndjus/Getty Images)

Em 2020, o turismo passou de um dos setores mais promissores do país para o mais afetado pela pandemia do coronavírus. Empresas amarguram cancelamentos e quedas na receita, e quem tinha planos de viajar ou curtir a cidade precisou se recolher em casa. O caminho encontrado pela Bem São Paulo foi solucionar os dois problemas da mesma forma.

A empresa lançou o Bem em Casa, um projeto que oferece experiências imersivas digitais. O primeiro serviço une uma dinâmica gastronômica com chefs premiados a um kit com ingredientes para produzir suas receitas. O plano é abranger oficinas artísticas e ainda lançar tours virtuais por pontos turísticos da cidade, como o Mercado Municipal.

A expectativa da agência é não só recuperar seu faturamento, mas ajudar a movimentar os demais mercados envolvidos no setor, dos guias de turismo aos fornecedores. Também vê no modelo uma fonte permanente de receita e conexão com ainda mais clientes.

Ideia concebida em conjunto
Fundada em 2017, a Bem São Paulo é especializada em organizar roteiros e experiências imersivas pela capital paulista, atendendo brasileiros, turistas e empresas interessadas em projetos. Em março, quando a pandemia foi decretada e o setor passou a sentir mais seus efeitos, a empresa precisou rever todos os planejamentos.

Da conversa com a equipe e com parceiros, surgiu a ideia de migrar as experiências para o digital – mas de uma forma diferente do que vinha sendo feito. “Os conteúdos gravados ou em live têm mão única. Por mais que você possa acompanhar um chef cozinhando, teria que sair e comprar ingredientes para fazer a receita e não poderia interagir com ele no processo”, diz Edemilson Morais, cofundador da empresa.

O primeiro serviço lançado resolve esses dois complicadores. Os interessados em uma experiência diferente podem comprar um pacote que inclui uma dinâmica virtual e um kit com produtos ou ingredientes selecionados. Hoje, há duas versões: a preparação de uma receita com um chef ou um happy hour virtual com um mestre-cervejeiro.

Projeto piloto da experiência gastronômica foi realizado pelo chef Onildo (Foto: Divulgação)

Projeto piloto da experiência gastronômica foi realizado pelo chef Onildo Rocha (Foto: Divulgação)

As reuniões envolvem até 16 participantes, o que permite que eles interajam entre si e até estendam a experiência. “Tínhamos receio de que a barreira da tecnologia atrapalhasse, mas o piloto que fizemos funcionou muito bem”, conta o empreendedor. “Quando os participantes começam a comer, o chef mantém a sala aberta e todos podem jantar juntos.”

A plataforma hoje tem um mestre-cervejeiro e três chefs parceiros, incluindo nomes como Bel Coelho (Clandestino) e Onildo Rocha (Cozinha Roccia). Todos têm restaurantes ou bares e viram na proposta uma fonte complementar de renda e uma forma de incrementar experiências digitais que já estavam promovendo. Hoje, o serviço atende moradores de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e João Pessoa (PB).

Cada pacote custa entre R$ 169 e R$ 299 e rende porções para duas pessoas. “É um preço bastante competitivo. Se a pessoa fosse ao supermercado comprar os ingredientes, gastaria esse valor e não teria os ingredientes fracionados”, diz Morais. Segundo ele, a ideia é que o ganho de escala permita subsidiar alguns custos e oferecer preços menores.

Rede de parceiros
Os chefs e donos de estabelecimentos são apenas um dos agentes beneficiados com o formato, além da própria Bem São Paulo. Os kits de ingredientes são montados em parceria com produtores e fornecedores locais, também afetados pelo fechamento do comércio e pela mudança de dinâmica dos restaurantes.

A chef Bel Coelho é uma das parceiras da plataforma. Na experiência, ensina receita de risoto de paio com favas verdes, couve e salada vermelha (Foto: Divulgação)

A chef Bel Coelho é uma das parceiras da plataforma. Na experiência, ensina receita de risoto de paio com favas verdes, couve e salada vermelha (Foto: Divulgação)

Com a ajuda dos chefs, os kits são montados em cada uma das três cidades (São Paulo, Rio e João Pessoa) e enviados aos seus moradores. O plano é atender Belo Horizonte (MG) e Curitiba (PR) em meados de maio e junho. Também estão sendo fechadas novas parcerias para oferecer dinâmicas focadas em arte.

Outra parceria envolve gráficas locais, responsáveis por produzir os materiais impressos, como as receitas, que acompanham os insumos. “É uma iniciativa que une várias frentes e que gera negócio para os vários parceiros que estão com a gente”, afirma Morais.

Visitas à distância
O próximo plano da empresa é oferecer tours virtuais por pontos turísticos da capital paulista. A ideia é que um guia vá até o local sozinho e apresente suas histórias e curiosidades por uma videochamada com o grupo de “visitantes”. Os pacotes terão preços mais populares, de em média R$ 10.

Assim como nas dinâmicas gastronômicas, a proposta é oferecer interação em mão dupla. “O guia apresenta o conteúdo e abre para que as pessoas contem suas experiências e resgatem suas histórias com o local”, diz o empreendedor. A empresa hoje tem uma rede de 40 guias de turismo autônomos e está aberta a novas parcerias.

Edemilson Morais, cofundador da Bem São Paulo: empresa digitalizou modelo de negócio para superar crise (Foto: Divulgação)

Edemilson Morais, cofundador da Bem São Paulo: empresa digitalizou modelo de negócio para superar crise (Foto: Divulgação)

Os primeiros contratos fechados permitirão apresentar pontos como o Beco do Batman e o Mercado Municipal de São Paulo. A Bem São Paulo hoje negocia com o Theatro Municipal e planeja abordar espaços privados, como um estádio de futebol. “Como a proposta não envolve um kit, é muito escalável e tem potencial internacional.”

A empresa também tem fechado ou renovado parcerias com empresas para oferecer pacotes corporativos. O modelo B2B representava 70% do seu faturamento antes da crise, e a expectativa é retomar cerca de 50% da participação. Um dos contratos foi fechado com a MasterCard, que já era cliente.

Com o tempo, a expectativa é até mesmo superar o que era obtido com o modelo de negócio presencial. “A crise vai acabar, mas a ideia não tem prazo de validade. Temos um modelo que vai continuar rodando, até para conectar pessoas de diferentes cidades”, diz o empreendedor.

Apoie o negócio local (Foto: Editora Globo)