• Paulo Gratão
Atualizado em
Bianca Ramos, dona da my Lovin Cake (Foto: Divulgação)

Bianca Ramos, dona da my Lovin Cake (Foto: Divulgação)

Fazia alguns dias que a Prefeitura do Rio de Janeiro havia decretado quarentena pela pandemia do novo coronavírus quando um colega de escola do filho da empreendedora Bianca Ramos encomendou um bolo para comemorar o aniversário. Ela atendeu o pedido e pensou como seria para uma criança ter uma festa sem nenhum dos amigos por perto. Foi aí que teve uma ideia: enviar vídeos de todos os colegas de classe, junto com o bolo, para alegrar o dia do aniversariante.

A ideia surgiu na hora certa: Bianca teve que fechar a confeitaria my Lovin Cake para atender ao decreto governamental, e vinha pensando em formas de manter o faturamento para assegurar o pagamento das contas e todos os funcionários empregados. Já tinha um tempo que ela havia desenvolvido um QRCode na embalagem do bolo para acessar informações nutricionais e validade. A troca de propósito da ferramenta, nesse momento, poderia ajudá-la a fazer o negócio não quebrar. Assim nasceu o QRmyCake.

“Divulgamos no Instagram e em grupos de WhatsApp e tivemos um crescimento de 50% nas vendas, em comparação com o início da quarentena. Esse era um bolo que tínhamos, mas não era o que mais vendia. Agora é", diz a empreendedora. "Adaptei o formato para ele viajar bem e transformei em naked cake. Montamos o kit das festas também. O bolo custa R$ 78, mas com o kit conseguimos chegar a um tíquete médio de R$ 140."

Anúncio do QRmyCode no Instagram (Foto: Divulgação)

Anúncio do QRmyCode no Instagram (Foto: Divulgação)

Os vídeos são gravados, disponibilizados em links fechados no YouTube e apagados cinco dias depois. O aniversariante pode assisti-los e baixar para guardar. Para fazer as entregas, Bianca contata motoboys de aplicativos e atende toda a cidade do Rio de Janeiro. “Quando o cliente recebe, está escrito na embalagem 'tem uma mensagem para você'. Ele aponta o celular e vê as pessoas cantando parabéns. É aí que acontece toda a mágica, ainda mais nesse momento tão difícil.”

Encomendas sem data para voltar
Antes da pandemia, as três frentes de faturamento de Bianca eram a própria confeitaria, palestras e consultorias sobre o ofício e empreendedorismo feminino e encomendas para festas e casamentos – todos adiados.

A my Lovin Cake abriu as portas em setembro do ano passado, mas a história de Bianca com os bolos já é antiga.

Naked Cake: bolo se tornou a principal fonte de faturamento da empresa (Foto: Divulgação)

Naked Cake: bolo se tornou a principal fonte de faturamento da empresa (Foto: Divulgação)

Ela precisou deixar o emprego em 2011 para se tratar de um câncer e começou um blog de gastronomia para se entreter. O pai tinha uma padaria e a família sempre foi envolta com o assunto. Um dia, foi convidada para um chá da tarde e resolveu fazer um bolo para levar. As amigas elogiaram bastante e chegaram a acreditar que o doce havia sido feito por uma famosa rede de cafeterias do Rio de Janeiro.

Aquilo não saiu da cabeça de Bianca e ela resolveu que faria bolos para vender, já que precisava ficar em casa. Começou com os próprios amigos, depois fornecendo para empresas, redes de franquias e eventos. Nesse meio tempo, ela contou com ajuda do Sebrae para profissionalizar o negócio e focou mais a atuação no que mais gostava - atendimento para eventos. “Tem dois anos que eu consegui a batedeira industrial. Eu chegava a bater 200 bolos por dia em uma batedeira normal, caseira”, lembra.

Bianca Ramos e o marido, André Ramos: sócios da my Lovin Cake (Foto: Divulgação)

Bianca Ramos e o marido, André Ramos: sócios da my Lovin Cake (Foto: Divulgação)

A empreendedora é formada em administração e conta que a família não apoiou quando soube que faria bolos para vender. “Tive que vencer o preconceito. As pessoas criavam imagens por ser uma mulher de classe média alta, que seria uma executiva, ou ficaria em casa, não poderia ser boleira. Mas para tudo é preciso dar um primeiro passo, e eu passei por cima disso e fui atrás do que eu acreditava."

Ela conta que sempre tem em mente tudo que passou para erguer o próprio negócio e ajuda a inspirar outros empreendedores locais. "Acha que eu ia sentar na calçada e chorar com o coronavírus? Tenho meus funcionários, meu aluguel. Isso aqui é meu respiro", diz.

Apoie o negócio local (Foto: Editora Globo)