Por Anita Prado e Guilherme Peixoto, RJ 1


Comerciantes denunciam extorsão e milicianos obrigam lojas a abrirem

Comerciantes denunciam extorsão e milicianos obrigam lojas a abrirem

Comerciantes de áreas da Zona Oeste e Região Metropolitana do Rio dizem que são obrigados a trabalhar para pagar a taxa da milícia, apesar das restrições para o isolamento social como prevenção ao coronavírus. É o que aponta uma reportagem exclusiva do RJ1 nesta sexta-feira (17).

Segundo as denúncias, grupos paramilitares usam ameaças para obrigar vendedores e comerciantes a manterem as portas dos estabelecimentos abertas durante a pandemia.

Na Zona Oeste, a TV Globo flagrou funcionamento normal do comércio na Gardênia Azul, Rio das Pedras e Muzema.

Sem se identificar, os moradores relatam como os milicianos agem na região.

"Eles vão sempre à noite, um deles encapuzado, um assim mais gordo, outro mais moreno e outro mais forte, entendeu? São três que foram lá em casa, para pegar R$ 30", diz um morador

Comerciantes relatam que os milicianos pedem dinheiro dizendo que é para pagar ajuda da polícia.

"Os milicianos daqui, cara, ficam oprimindo a gente, entendeu? Mandando ficar com o bar aberto, que nós 'tem' que ficar pra fazer dinheiro pra pagar eles, pra eles 'poder' pagar os caras da cobertura da PM", relata outro morador.

Ainda de acordo com os relatos, os boletos com a cobrança da milícia chega nas casas no Itanhangá e tem o nome do morador. Algumas famílias dizem que na atual situação da pandemia da Covid-19 tem poucos recursos para sobreviver e se sentem ameaçadas.

"Por causa do vírus, a gente não pode pagar nem as contas, quanto mais eles. Outro dia, faltou até o do pão, para tomar café de manhã, aí vão lá em casa para pegar dinheiro? Não tem como", desabafa morador.

Itaboraí

Em Itaboraí, na Região Metropolitana, os milicianos foram flagrados durante uma comemoração enquanto os moradores são obrigados a trabalhar normalmente.

A prefeitura do município determinou o fechamento do comércio no dia 23 de março, e a cidade registrava 31 casos de Covid-19, com 4 mortes, até esta sexta.

"Esses milicianos aí ficam exigindo que os bares fiquem abertos , com os nossos comércios abertos, para poder pagar a eles as extorsões. Para pagar as viaturas que 'faz' cobertura deles quando eles vão fazer as extorsões deles", disse um comerciante.

Um outro dono de um comércio na cidade disse que a arrecadação caiu e eles ainda são obrigados a repassar dinheiro para a milícia.

"Você já não tem nem de onde tirar pra você, pra sua família, ainda tem que ficar pagando extorsão, ainda?", desabafa outro.

O que dizem as autoridades

  • Secretaria Municipal de Ordem Pública - informou que está fazendo diariamente a fiscalização do serviço não essencial em toda a cidade, inclusive em áreas como a Muzema e Rio das Pedras.
  • Polícia Civil - afirmou que investiga a atuação de milicianos nessas regiões, mas que as investigações estão em sigilo.
  • Polícia Militar - informou que as unidades estão atentas às movimentações criminosas durante a quarentena e disse que o telefone 190 está disponível para denúncias.
  • Prefeitura de Itaboraí - negou o conhecimento de qualquer assunto relacionado a ação de milícia, mas reforçou que todo comerciante que descumprir as regras vai ser multado. Para denúncias, é possível entrar em contato com a ouvidoria do município pelos telefones 2635-4643 ou 2635-4870.

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