Por G1 CE


Fortaleza é a segunda capital do país com maior taxa de mortalidade por Covid-19 a cada 1 milhão de habitantes, segundo dados do Ministério da Saúde (MS) divulgados nesta terça-feira (14). A capital cearense já havia alcançado o segundo lugar no ranking quando o cálculo do MS levava em conta 100 mil habitantes.

São 28,5 mortes por 1 milhão de habitantes em Fortaleza. Em São Paulo são registradas 37,2 mortes por 1 milhão de habitantes. O coeficiente foi a métrica adotada pelo MS para homogeneizar os números por cidades, padronizando o levantamento.

Só em Fortaleza foram registradas 86 mortes pela doença, de acordo com dados da plataforma digital IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), atualizados até as 18h desta terça-feira (14). Em todo o estado as mortes já ultrapassaram a marca de 100, chegando a 111 nesta terça. Os casos confirmados passam de 2 mil.

Desde esta segunda-feira (13), os coeficientes de incidência e mortalidade da doença passaram a considerar a relação com 1 milhão de habitantes, permanecendo Fortaleza na segunda posição do Brasil em número de mortes, ficando atrás somente de São Paulo, a maior capital do país.

Bairros mais afetados

A maior parte dos casos confirmados em Fortaleza está concentrado no Bairro Meireles, área nobre da capital. O bairro tem mais casos confirmados de Covid-19 do que outros 10 estados do Brasil.

O número também é superior a registros realizados em, pelo menos, 70 países do mundo, inclusive da própria América Latina, de acordo com a Universidade John Hopkins, como Paraguai (147), El Salvador (137) e Jamaica (72).

90% das UTIs ocupadas

Quase 90% dos leitos de UTI estão ocupados no Ceará, segundo o secretário Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, da Secretaria da Saúde do estado (Sesa). Novos 160 leitos foram implantados no estado nas últimas três semanas, e a previsão é garantir 690 leitos de terapia intensiva extras, afirmou o secretário, em coletiva nesta terça-feira (14).

O Ceará ultrapassou a marca de 100 óbitos pela doença, chegando a 107 nesta terça-feira, segundo dados da plataforma digital IntegraSUS, da Sesa, atualizados até as 14h30. São 2.005 casos do novo coronavírus no estado, registrados em 59 municípios.

Casos de coronavírus no Ceará
Fonte: Sesa

"É uma ocupação muito alta. Quando a gente vai para os leitos que não são de UTI, essa ocupação tá próxima de 50%. Há conclusão de que os doentes estão chegando muito graves", comentou o secretário. De acordo com ele, a demora para buscar atendimento contribui para a saturação dos leitos de terapia intensiva porque os pacientes chegam no hospital já com quadro de insuficiência respiratória, necessitando de internação urgente.

"É preciso que os pacientes cheguem um pouco antes pra que a gente possa reconhecer o que está acontecendo. Esses pacientes estão chegando já em insuficiência respiratória, vocês têm visto notificação de mortes domiciliares, isso tem aumentado, isso é um sinal. O tempo entre o início dos sintomas e a procura pelo sistema de saúde, quando a gente compara público/privado, as pessoas tão chegando três dias depois. A gente sabe que tem um momento entre o 5º e 8º dia onde define se cura ou aumenta a gravidade", esclareceu.

Só em Fortaleza há 245 pessoas internadas por Covid-19. Em todo o Ceará, são 120 internações em UTIs por causa da doença, informou o secretário.

"Se houver saturação desse sistema, mais uma vez vamos ter um aumento da mortalidade. À medida que você sai dos bairros com maior estrutura social pros bairros com menor estrutura e pro restante dos municípios do Ceará, estamos assistindo um aumento na mortalidade", disse Dr. Cabeto.

Testes rápidos

O Ceará recebeu um lote com 37 mil testes rápidos para Covid-19, e aguarda chegada de outros 50 mil. Os testes vão ser aplicados em pacientes já internados, que apresentaram mais de sete dias de sintomas, e profissionais da Saúde da rede Sesa. A secretaria lembra que os testes rápidos não são os mais recomendados para diagnóstico da doença, pois apresentam limitações, mas são úteis para fazer a triagem nas unidades.

Isolamento social

O isolamento social precoce, ou seja, antes do registro de pico da Covid-19 no Ceará, foi o principal fator para evitar o esgotamento de leitos no estado, avaliou Dr. Cabeto. O decreto para o fechamento do comércio e, portanto, para o distanciamento das pessoas, evitando a proliferação do novo coronavírus, deve ser prorrogado mais uma vez, adiantou o secretário. Nesta segunda-feira (13), o governador Camilo Santana falou sobre a importância de ouvir especialistas da saúde para tomar as decisões com relação ao enfrentamento da crise.

"O que estamos discutindo é melhorar nosso isolamento social. Esse isolamento social é universal. Nós temos alguns municípios obedecendo as regras, mas a população em alguns distritos, bairros, não tem obedecido o isolamento. É muito importante entender que esse isolamento feito até aqui foi muito eficiente em reduzir o número de casos em um curto espaço de tempo. A colaboração das pessoas de todos os bairros, principalmente nos municípios do interior e bairros da periferia de Fortaleza é fundamental nesse momento. Nós não podemos relaxar ainda, não é esse momento", ressaltou Dr. Cabeto.

Mortes pelo SUS

A maioria das mortes em pacientes diagnosticados com Covid-19 ocorreu em unidades públicas de saúde, enquanto em hospitais privados o número de óbitos reduziu, informou o secretário. Os dados têm relação com a demora para a procura do atendimento médico no sistema público de saúde, avaliou o Dr. Cabeto.

"Há uma média de tempo entre o início dos sintomas e a procura pela unidade maior do que o registrado em hospitais privados. Isso provavelmente explica a mortalidade nos hospitais públicos ser muito maior do que nos privados", apontou.

O secretário alerta para que a população procure atendimento se apresentar os sintomas de Covid-19, especialmente pessoas acima de 60 anos e com doenças crônicas. E reforça a preocupação com a saturação do sistema de saúde.

"Se não mantivermos esse número de leitos disponíveis que o estado tem propiciado em todas as regiões, se houver uma saturação do sistema, pode acontecer de aumentar a mortalidade como aconteceu em outros países até de forma muito grave, o que aconteceu na Itália, Espanha, daí por diante."

Coronavírus: infográfico mostra principais sintomas da doença — Foto: Foto: Infografia/G1

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