Em meio à pandemia, a confiança do comércio mantém trajetória lenta e gradual de retomada em julho. Mas incertezas em relação ao futuro, como possibilidade de nova onda de covid-19 e dúvidas em relação à longevidade de auxílio emergencial do governo tem derrubado expectativas do setor. A avaliação é do economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rodolpho Tobler, que analisou a alta de 1,7 ponto no Índice de Confiança do Comércio (Icom) entre junho e julho, para 86,1 pontos.
Mesmo com aumento, o índice permanece distante de 100 pontos, limite favorável do indicador - e não deve se aproximar dessa pontuação até a descoberta de uma vacina, acrescentou o técnico.
Ao comentar a evolução da confiança do varejo entre junho e julho, o economista comentou ser visível a influência de melhora de avaliação em situação atual, para saldo positivo do Icom. Nos dois sub-indicadores do Icom, o Índice de Situação Atual (ISA) subiu 6,4 pontos no período, para 88,4 pontos - enquanto o Índice de Expectativas (IE) caiu 3 pontos, para 84,5 pontos.
Tobler comentou que sinais de reabertura gradual da economia em algumas capitais, principalmente em comércio e em serviços, ajudaram a elevar o ISA no período. "Não podemos nos esquecer que esses resultados estão sendo comparados a meses como abril, maio, junho, onde a atividade estava muito baixa" disse, lembrando consenso entre economistas de que abril foi "fundo do poço" para atividade econômica.
Entretanto, o técnico comentou que ainda há muitas incertezas em relação aos próximos meses que afetam diretamente a atividade do comércio. O economista afirmou que os varejistas tem notado que o consumo de baixa renda tem se sustentando por conta do auxílio emergencial - cujo período de vigência ainda é alvo de debates entre integrantes do governo. Outro aspecto que deixa o varejo cauteloso é a probabilidade de nova onda de contaminação por covid-19, cada vez mais citada por especialistas, devido às medidas de reabertura já delimitadas em algumas das principais capitais do país.
"É muito difícil imaginar um quadrante favorável [no indicador] próximo a 100 pontos, ainda esse ano, sem ter uma vacina", afirmou ele. "A incerteza persiste, tanto na área da economia como na de saúde e isso acaba freando a recuperação da atividade e da confiança", disse. "Enquanto não tiver solução definitiva ou eficaz [contra a pandemia] os empresários vão ter essa volatilidade de ânimo, afetando a confiança", concluiu.
(Com conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, o serviço de notícias em tempo real do Valor)