• Juliana Fontoura
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Músico Fábio Nunez é o idealizador da "Arte Falante", marca de camisetas (Foto: Kelly Senna)

Músico Fábio Nunez é o idealizador da Arte Falante, marca de camisetas (Foto: Kelly Senna)

O paulistano Fábio Nunez, de 44 anos, sempre foi ligado à arte e ao empreendedorismo. Sua trajetória inclui, além da carreira como músico, a direção de um documentário e, agora, a criação de uma marca de camisetas, a Arte Falante.

A marca conta com estampas que carregam frases de canções brasileiras e a imagem de seus intérpretes. Todas têm em comum a expressão do lema da marca: a arte como manifesto. Esta é, também, uma das características de Nunez como artista. “Entendo a arte com papel de crítica, de reflexão”, diz. “Todo meu trabalho sempre foi direcionado a isso.” Entre os homenageados nas estampas que já foram lançadas estão nomes como Elza Soares, Belchior, Cássia Eller e Ney Matogrosso.

A ideia de criar as próprias estampas surgiu durante um passeio na Galeria do Rock, em São Paulo, local que o empreendedor gosta de frequentar. Ele conta que, certa vez, ao ver uma série de camisetas de bandas estrangeiras, surgiu a inquietação que desembocaria, enfim, em suas próprias criações, que exaltam artistas nacionais.

Aos poucos, começou a criar estampas e vendê-las em shows que fazia, tendo sempre um bom retorno. O investimento no negócio, contudo, ganhou força na quarentena, quando o músico se viu impossibilitado de fazer apresentações. Segundo o empreendedor, durante a pandemia, foram mais de 100 clientes atendidos, com encomendas feitas pelo Instagram e pelo Whatsapp. As entregas são feitas em todo o Brasil. 

Assim como o desejo de ser músico, que já aparecia na infância — aos 6 anos, ele já pedia um violão de presente, que acabou ganhando aos 13 —, o dom para a criação das estampas também apareceu cedo. “Eu comprava panos de prato, desenhava, pintava e saía vendendo nos bairros vizinhos”, lembra.
 

Algumas das estampas da "Arte Falante" (Foto: Kelly Senna)

Algumas das estampas da "Arte Falante" (Foto: Kelly Senna)

Arte como manifesto

Nunez afirma que as estampas buscam amplificar obras, resgatar artistas e trazer frases de questionamento — refletindo, enfim, o lema de “arte como manifesto”. O empreendedor exemplifica: certa vez, ao usar uma camiseta com estampa dedicada à cantora Elza Soares em um encontro com amigos, a artista acabou virando tema da conversa. “A missão da Arte Falante é essa, resgatar e manter nossa memória cultural.”

Outro exemplo dado por ele é a abordagem da questão racial. “Fizemos estampas recentemente de causas antigas, do ‘Vidas negras importam’. A gente entrou nesse manifesto também, mas que não é de hoje que venho fazendo”, diz Nunez, que cita, também, a camiseta dedicada à cantora Elza Soares, que vem acompanhada do verso “A carne mais barata do mercado é a carne negra”, da canção “A carne”.

Antes das camisetas, a visão da arte como manifesto apareceu também na carreira musical e na direção de um documentário, chamado “Nega que é nega não nega ser nega não”. O filme nasceu da gravação de uma música e de um videoclipe, que contou com a participação de diversas mulheres negras: artistas, advogadas, atletas, motorista de ônibus. Nunez as entrevistou, inicialmente, para a produção de um making of do videoclipe, que rendeu tanto que virou documentário. “Ali elas falavam sobre o trabalho delas, o que elas sofreram para chegar naquele cargo que elas almejaram e como elas entendem o racismo e o machismo no Brasil.”

Futuro

Em breve, a loja terá um site próprio, já em fase de desenvolvimento, onde será possível efetuar a compra das camisetas. Também está nos planos produzir estampas sobre literatura e outras formas de arte e expandir os produtos oferecidos para canecas, almofadas e objetos de decoração.