Após mostrar queda recorde no início da pandemia em março, a confiança da indústria sinalizou alta em julho, impulsionada principalmente por expectativas mais favoráveis.
Na prática, o empresário entende que o pior já passou, e que os próximos meses serão de melhor demanda e produção, em comparação com os três meses anteriores, que foram o "fundo do poço" na atividade, afirmou Renata de Mello Franco, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Ela fez a observação ao comentar a prévia do Índice de Confiança da Indústria (ICI), que subiu 12,5 pontos no resultado preliminar de julho ante junho, para 90,1 pontos. Caso o resultado se confirme, o indicador vai recuperar 74% das perdas observadas em março e em abril.
Entretanto, um retorno a um resultado acima de 100 pontos, quadrante favorável do ICI, só deve ocorrer no ano que vem, quando houver informações concretas sobre vacina contra covid-19, reconheceu Renata.
De acordo com a economista, a prévia sinaliza melhora de confiança em caráter disseminado, acrescentou ela. Todas as quatro grandes categorias de uso, bens de capital, bens intermediários, bens de consumo duráveis e não duráveis, indicaram alta de confiança no mês. Também foi detectado saldo positivo em confiança em 18 de 19 segmentos industriais pesquisados.
Isso foi impulsionado por esperança melhor para o futuro, observou a especialista. A técnica detalhou que, de junho para prévia de julho, as expectativas sobem a ritmo mais elevado do que a avaliação sobre momento atual. O Índice de Expectativas (IE), um dos dois sub-indicadores do ICI, subiu 14,6 pontos, para 90,8 pontos no periodo - enquanto o Índice de Situação Atual (ISA) subiu 10,2 pontos, para 89,4 pontos.
"As expectativas subiram mais, mas é importante lembrar que elas caíram mais também", disse. Em abril, considerado o auge do impacto, na economia, da crise causada por covid-19, o IE caiu 46,6 pontos - enquanto o ISA mostrou recuo de 31,4 pontos. "Em abril tinha muita incerteza. Isso fez com que as expectativas caíssem muito mais que a situação atual. Agora, o cenário está um pouco mais claro, e processo de reabertura também, temos reaberturas com restrições", lembrou ela.
A possibilidade de reabertura gradual em alguns setores da economia, já anunciadas em diversas capitais no pais, acabou beneficiando a evolução do Nível de Utilização de Capacidade Instalada (Nuci) que sinaliza alta para 72,4% na prévia de julho, ante resultado completo de 66,6% em junho. Isso porque as empresas aguardam uma demanda mais favorável, nos próximos três meses ante três meses imediatamente anterior, com os sinais de reabertura na economia, notou ela.
Entretanto, notou que o Nuci ainda está distante da média de 79,8% observada antes da pandemia.
Sem mencionar percentuais, visto ser uma prévia, a economista informou também que, embora os tópicos emprego previsto e produção prevista para os próximos três meses estejam com resultados melhores do que o observado nos três meses imediatamente anteriores, o tópico tendências de negócios nos próximos seis meses mostra menor nível entre todos os tópicos da sondagem da indústria da transformação - pesquisa do qual o ICI é indicador-síntese.
"Os empresários estão bastante cautelosos e inseguros em período de seis meses" disse, afirmando que a maior preocupação em horizonte de longo prazo decorre de algumas dúvidas, como por exemplo se haverá uma segunda onda de contaminação por covid-19.
Na prática, uma segurança maior para o empresário em relação a seus negócios, bem como confiança maior na demanda futura, só será atingida quando houver vacina, o que deve ocorrer mais provavelmente em 2021, admitiu ela. Isso leva a crer que o ICI não retornará aos 100 pontos ainda em 2020, reconheceu a especialista.
(Conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor)