Mundo digital
Do buquê à horta: venda online de plantas se populariza com a pandemia
Vendas por e-commerce ou redes sociais ajudaram empreendedores a diminuir perdas ou até triplicar os ganhos com vendas de flores, plantas ornamentais ou kits para horta
4 min de leituraO setor de flores sofreu perdas expressivas com a pandemia. Só em março, o segmento deixou de faturar R$ 297,7 milhões, incluindo floricultores, atacado e varejo. Naquele mês, o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) alertou que 66% dos produtores de flores e plantas ornamentais poderiam falir até maio.
A reabertura de floriculturas e o Dia das Mães trouxeram um alívio, embora não compensem o prejuízo. Mas um outro fator foi significativo para quem conseguiu explorá-lo: as vendas pela internet. Entre quem atende pelo e-commerce ou pelas redes sociais, os resultados ajudaram a segurar as pontas ou até aumentar significativamente os ganhos.
Flores para compensar a distância
Para a Giuliana Flores, os últimos meses superaram quaisquer expectativas. As vendas cresceram 300%, um acumulado que era previsto para acontecer até 2023 ou 2024. O motivo, segundo o fundador Clóvis Souza, foi o desejo das pessoas de compensar a distância dos entes queridos os presenteando com flores.
A empresa tem 32 lojas físicas, a maioria em shoppings. Mas o e-commerce, que já representava 80% das vendas, foi quem garantiu os ganhos e compensou as perdas com os fechamentos. “Reabrimos todas as lojas nos shoppings, mas as vendas caíram 70%”, diz ele. A loja de rua, também o ponto mais antigo, tem se saído um pouco melhor. “Acho que as pessoas estão com medo de ir para onde tem muita gente acumulada.”
As vendas nas datas comemorativas foram as que mais cresceram. Em comparação com 2019, o aumento foi 300% no Dia das Mães, 270% no Dia dos Namorados e 150% no Dia dos Avós. Com maior escala nos pedidos, crescem também os desafios. A empresa escalou parte dos funcionários das lojas em áreas como televendas, SAC e produção.
É preciso dar conta de atender, também, as eventuais reclamações de clientes. “Com as redes sociais, o problema fica quatro vezes maior. Se você não der atenção, está fora do mercado”, afirma o fundador. Com a reabertura do comércio, as vendas deixaram de crescer na mesma velocidade. "Perdemos uns 17%, mas conquistamos muitos clientes. Se acertamos e fizemos um bom trabalho, dificilmente eles vão voltar para o mundo físico."
Além dos arranjos
As vendas online também foram importantes para a Borealis, loja de plantas e acessórios em Curitiba (PR). Fundada em 2015 por Patrícia Belz, ela nasceu como loja física e ganhou um e-commerce no final de 2019. O timing foi essencial para evitar que as perdas com a pandemia fossem maiores. “Ele era um canal secundário, mas virou primário”, diz ela.
Para isso, o perfil do site precisou mudar. Ele até então comercializava apenas acessórios, já que o transporte das plantas é delicado. A produção de fotos e inserção de todas elas no site deu trabalho, mas valeu a pena. Patrícia também passou a vender por lá os arranjos desidratados e chás de sua outra loja, a Australis.
A empreendedora costumava vender em média 1 mil itens por mês. O número caiu 60% em abril, teve um mês de maio melhor e hoje está nos 50%. Ela diz ter se surpreendido com o número de clientes que migraram para o site e com o aumento no interesse pelas plantas, seja para presentear ou para decorar a própria casa. Mas muitos, segundo ela, ainda preferem comprar pessoalmente.
Um dos motivos é a própria proposta oferecida pela Borealis. A loja divide espaço com a cafeteria Botanique e costumava ser, além de loja, um espaço de lazer. “As pessoas encontravam amigos para tomar um café ou uma bebida e acabavam comprando algo da loja”, diz. Já quem opta por comprar online tem gastado mais do que antes, em geral para aproveitar o frete.
A empreendedora afirma que, pelas regras do município, já poderia estar com a loja aberta. Mas decidiu esperar e reabrir com mais segurança. Atendendo à demanda dos clientes, a loja voltará a atender presencialmente na próxima semana, apenas com horário marcado. Além de segurar as pontas, o e-commerce garantiu um aumento na cartela de clientes. “Consegui alcançar muita gente nova por meio de indicações.”
Para levar à mesa
O interesse dos clientes da empreendedora Kattia Oliveira, dona do Ateliê da Katita, tem sido diferente. Desde 2017, ela vende plantas como suculentas e orquídeas para quem quer presentear convidados de festas ou entes queridos. Os kits de hortas também integravam o portfólio, mas viraram carro-chefe desde o início da pandemia.
Cada kit inclui 15 mudas de hortaliças como alface, alecrim, cebolinha e camomila. Segundo Kattia, as vendas dobraram desde o início do ano. “As pessoas estão em casa ociosas e utilizando mais”, diz ela. A busca por termos como “horta em casa” e “kit de jardinagem” registraram picos no mês de maio e continuaram em alta nos meses seguintes, segundo a ferramenta Google Trends.
A divulgação dos kits é feita em grupos no Facebook e os pedidos, recebidos por inbox ou pelo WhatsApp. Ela os monta em sua própria casa e entrega semanalmente em várias regiões de São Paulo (SP) com a ajuda do marido, Kleber Oliveira. “Nunca vendi tanto nem tive uma visibilidade tão grande quanto agora”, diz Kattia.