• Ana Laura Stachewski
Atualizado em
Clóvis Souza, fundador da Giuliana Flores: vendas cresceram 300% desde o início da pandemia (Foto: Divulgação)

Clóvis Souza, fundador da Giuliana Flores: vendas cresceram 300% desde o início da pandemia (Foto: Divulgação)

O setor de flores sofreu perdas expressivas com a pandemia. Só em março, o segmento deixou de faturar R$ 297,7 milhões, incluindo floricultores, atacado e varejo. Naquele mês, o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) alertou que 66% dos produtores de flores e plantas ornamentais poderiam falir até maio.

A reabertura de floriculturas e o Dia das Mães trouxeram um alívio, embora não compensem o prejuízo. Mas um outro fator foi significativo para quem conseguiu explorá-lo: as vendas pela internet. Entre quem atende pelo e-commerce ou pelas redes sociais, os resultados ajudaram a segurar as pontas ou até aumentar significativamente os ganhos.

Flores para compensar a distância
Para a Giuliana Flores, os últimos meses superaram quaisquer expectativas. As vendas cresceram 300%, um acumulado que era previsto para acontecer até 2023 ou 2024. O motivo, segundo o fundador Clóvis Souza, foi o desejo das pessoas de compensar a distância dos entes queridos os presenteando com flores.

A empresa tem 32 lojas físicas, a maioria em shoppings. Mas o e-commerce, que já representava 80% das vendas, foi quem garantiu os ganhos e compensou as perdas com os fechamentos. “Reabrimos todas as lojas nos shoppings, mas as vendas caíram 70%”, diz ele. A loja de rua, também o ponto mais antigo, tem se saído um pouco melhor. “Acho que as pessoas estão com medo de ir para onde tem muita gente acumulada.”

Giuliana Flores (Foto: Divulgação)

Vendas pelo e-commerce garantiram fôlego à empresa, que fechou suas 32 lojas durante um período (Foto: Divulgação)

As vendas nas datas comemorativas foram as que mais cresceram. Em comparação com 2019, o aumento foi 300% no Dia das Mães, 270% no Dia dos Namorados e 150% no Dia dos Avós. Com maior escala nos pedidos, crescem também os desafios. A empresa escalou parte dos funcionários das lojas em áreas como televendas, SAC e produção.

É preciso dar conta de atender, também, as eventuais reclamações de clientes. “Com as redes sociais, o problema fica quatro vezes maior. Se você não der atenção, está fora do mercado”, afirma o fundador. Com a reabertura do comércio, as vendas deixaram de crescer na mesma velocidade. "Perdemos uns 17%, mas conquistamos muitos clientes. Se acertamos e fizemos um bom trabalho, dificilmente eles vão voltar para o mundo físico."

Além dos arranjos
As vendas online também foram importantes para a Borealis, loja de plantas e acessórios em Curitiba (PR). Fundada em 2015 por Patrícia Belz, ela nasceu como loja física e ganhou um e-commerce no final de 2019. O timing foi essencial para evitar que as perdas com a pandemia fossem maiores. “Ele era um canal secundário, mas virou primário”, diz ela.

Patrícia Belz, da Borealis: acessórios e plantas ornamentais de cultivo simples  (Foto: Divulgação)

Patrícia Belz, da Borealis: acessórios e plantas ornamentais de cultivo simples (Foto: Divulgação)

Para isso, o perfil do site precisou mudar. Ele até então comercializava apenas acessórios, já que o transporte das plantas é delicado. A produção de fotos e inserção de todas elas no site deu trabalho, mas valeu a pena. Patrícia também passou a vender por lá os arranjos desidratados e chás de sua outra loja, a Australis.

A empreendedora costumava vender em média 1 mil itens por mês. O número caiu 60% em abril, teve um mês de maio melhor e hoje está nos 50%. Ela diz ter se surpreendido com o número de clientes que migraram para o site e com o aumento no interesse pelas plantas, seja para presentear ou para decorar a própria casa. Mas muitos, segundo ela, ainda preferem comprar pessoalmente.

A Borealis oferece plantas e acessórios que facilitam o cultivo de áreas verdes entre moradores de grandes cidades  (Foto: Divulgação)

A Borealis vende plantas e acessórios voltados ao cultivo de áreas verdes em casa (Foto: Divulgação)

Um dos motivos é a própria proposta oferecida pela Borealis. A loja divide espaço com a cafeteria Botanique e costumava ser, além de loja, um espaço de lazer. “As pessoas encontravam amigos para tomar um café ou uma bebida e acabavam comprando algo da loja”, diz. Já quem opta por comprar online tem gastado mais do que antes, em geral para aproveitar o frete.

A empreendedora afirma que, pelas regras do município, já poderia estar com a loja aberta. Mas decidiu esperar e reabrir com mais segurança. Atendendo à demanda dos clientes, a loja voltará a atender presencialmente na próxima semana, apenas com horário marcado. Além de segurar as pontas, o e-commerce garantiu um aumento na cartela de clientes. “Consegui alcançar muita gente nova por meio de indicações.”

Para levar à mesa
O interesse dos clientes da empreendedora Kattia Oliveira, dona do Ateliê da Katita, tem sido diferente. Desde 2017, ela vende plantas como suculentas e orquídeas para quem quer presentear convidados de festas ou entes queridos. Os kits de hortas também integravam o portfólio, mas viraram carro-chefe desde o início da pandemia.

Kattia Oliveira, do Ateliê da Katita: kits de hortas se popularizaram na pandemia (Foto: Divulgação)

Kattia Oliveira, do Ateliê da Katita: kits de hortas se popularizaram na pandemia (Foto: Divulgação)

Cada kit inclui 15 mudas de hortaliças como alface, alecrim, cebolinha e camomila. Segundo Kattia, as vendas dobraram desde o início do ano. “As pessoas estão em casa ociosas e utilizando mais”, diz ela. A busca por termos como “horta em casa” e “kit de jardinagem” registraram picos no mês de maio e continuaram em alta nos meses seguintes, segundo a ferramenta Google Trends.

A divulgação dos kits é feita em grupos no Facebook e os pedidos, recebidos por inbox ou pelo WhatsApp. Ela os monta em sua própria casa e entrega semanalmente em várias regiões de São Paulo (SP) com a ajuda do marido, Kleber Oliveira. “Nunca vendi tanto nem tive uma visibilidade tão grande quanto agora”, diz Kattia.