• Jornal de Negócios do Sebrae-SP
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Gamers Club: negócio nasceu no interior de São Paulo e foi vendido para grupo americano (Foto: Divulgação)

Gamers Club: negócio nasceu no interior de São Paulo e foi vendido para grupo americano (Foto: Divulgação)

A pandemia de coronavírus tem sido preocupante para os negócios em geral. Porém, a indústria de games passa longe da crise. Esse mercado registra números favoráveis e os empreendedores brasileiros do setor confirmam o bom momento, favorecido pelo fato de as pessoas ficarem mais tempo em casa por causa do isolamento social. O cenário positivo significa oportunidades de negócio para empresas de todos os portes.

Segundo a pesquisa mais recente da Superdata, empresa do grupo Nielsen, o total gasto em jogos digitais em março deste ano superou US$ 10 bilhões (cerca de R$ 56 bilhões) no mundo, representando o recorde do valor mensal. Na comparação com o mesmo período de 2019, o maior crescimento foi apresentado nos jogos para console (ou videogames de mesa) com 42%; em seguida vêm os jogos para celulares (14%) e por último os de computador (12%).

No Brasil, existem 375 empresas desenvolvedoras de jogos, sendo 71% delas microempresas, isto é, com faturamento anual de até R$ 81 mil, de acordo com o Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais realizado em 2018.

Um dos que vivem a boa fase do setor é o desenvolvedor mineiro e CEO da Onrizon, Henrique Almeida. Tudo começou em 2007 quando ele criou o Gartic – jogo de adivinhação de desenhos – em meio às limitações tecnológicas da época.

“Comecei o Gartic na época da faculdade, com 19 anos. Eu estava estagiando e já gostava da área de web. Sempre tive vontade produzir jogos, mas naquela época era muito difícil fazer um, pois necessitava de muitas ferramentas e eu não tinha como produzir coisas muito avançadas na web naquele momento. Foi quando pensei em utilizar o HTML5, que nada mais é do que um conjunto de tecnologias que possibilita a criação de jogos de dentro de um navegador, que é usado até hoje”, conta.

A receptividade foi positiva. “Levei para faculdade, testamos e todos os meus colegas gostaram”, lembra. Segundo ele, a simplicidade e a facilidade das pessoas acessarem o jogo foram fundamentais.

Atualmente, o Gartic registra mais de 750 mil acessos diário sem mais de 190 países. Almeida ressalta que os acessos começaram a aumentar muito rapidamente. “Tudo meio que aconteceu da noite para o dia; tínhamos uma crescente dos nossos jogos, o que já era normal. Com a pandemia, o hábito mudou e jogos casuais como o nosso começaram a ter muita procura e tivemos de alocar servidores pelo mundo afora.”

Almeida comemora o sucesso internacional. “Para se ter uma ideia do tamanho do crescimento do Gartic fora do País, na Indonésia nosso aplicativo é o mais baixado da Play Store, do Google, chegando a 1 milhão de downloads.”

Gestão
O mercado de games no Brasil tem potencial para crescer muito mais, porém, os interessados precisam se preparar. Segundo o professor da Escola Superior de Empreendedorismo (ESE), do Sebrae-SP, Alexandre Szykman, entrar nesse universo exige, além de conhecimento técnico, familiaridade com gestão. “O que deve ser visualizado pelas microempresas que atuam na área de criação de jogos é a estruturação do negócio. Normalmente essas empresas são muito fortes na área de desenvolvimento e acabam se esquecendo das outras partes que envolvem o negócio”, explica.

“O Sebrae-SP atua com a área de economia criativa e hoje os consultores podem dar respaldo a quem tem o desejo de começar a trabalhar no mercado de games. O Sebrae oferece muitas consultorias, cursos e materiais para ajudar esses empreendedores”, afirma Szykman

O desenvolvimento de jogos envolve diversas especialidades, entre elas criação e roteirização. De acordo com Szykman, os desenvolvedores devem estar em contato com outros profissionais para visualizar melhor as possibilidades e transformá-las em jogos.

Números do setor de games no Brasil (Foto: Reprodução/Sebrae-SP)

Números do setor de games no Brasil (Foto: Reprodução/Sebrae-SP)

“O mercado é gigantesco, é recomendável pensar fora da caixa. Normalmente, é interessante estar em contato com pessoas que estão um pouco fora desse mundo, assim você visualiza os problemas que elas passam e as histórias delas. No futuro, isso pode se transformar em ideias, roteiros para grandes jogos”, destaca o professor.

Como o setor não se resume a desenvolvimento de jogos, há oportunidades de negócios em diversos ramos acessórios. “O mercado de games ajuda o crescimento de outras áreas. Hoje existem empresas de assessoria de imprensa, advocacia, agências de marketing, lojas de periféricos e até de roupas para esse tipo de público. O mercado é gigantesco e o que era uma coisa amadora há dez anos se tornou fonte lucrativa para muitas pessoas que visualizaram uma forma de incorporar ao mercado aquilo que sabem fazer”, conclui Szykman.

Mais que um jogo
Para muita gente, jogar é algo sério e quanto mais competitivo melhor. Essa foi a visão de Yuri Uchiyama ao fundar a Gamers Club, com três amigos, há quatro anos. Criar uma plataforma em que os participantes tivessem acesso não só ao jogo, mas também a outras ferramentas era um sonho antigo, segundo ele. Nascia a ideia de uma empresa voltada ao desenvolvimento da comunidade de e-sports. “A Gamers Club teve seu início em 2016, em Sorocaba. Eu e meus sócios Juliano Mirandolli, Gabriel Toledo– jogador profissional de Counter Strike – e Felipe Pregnolatto tínhamos a ideia de montar uma plataforma onde os jogadores poderiam se divertir, aprender e competir, tudo em um único lugar”, conta.

No começo, todo o investimento na plataforma era do próprio bolso. Tudo o que ganhavam retornava para a empresa. Em 2017, a Gamers Club recebeu um aporte da Canary, um fundo de investimento brasileiro com o foco em startups, que ajudou a empresa a expandir seus serviços na internet. Em dezembro de 2018 a Gamers Club foi adquirida pelo Immortals, grupo americano responsável por grandes núcleos de esportes eletrônicos no Brasil e nos Estados Unidos.

A plataforma é monetizada de duas formas: por assinantes que pagam um valor mensal ou anual para ter acessos aos conteúdos exclusivos, e por meio de publicidade focada no setor de jogos.

“Nosso negócio oferece assinaturas, que chamamos de ‘premium’. Assim que você compra a assinatura, automaticamente tem acesso a várias ferramentas como aulas, servidores dedicados para jogar, ranqueamento e premiação para os melhores de cada mês”, diz Uchiyama. Segundo ele, em meio à pandemia e com as pessoas passando mais tempo em casa, a Gamers Club começou a receber mais acessos e o número de jogadores na plataforma dobrou.

“No período de quarentena observamos também um aumento de horas jogadas na nossa plataforma. Pessoas que haviam parado, voltaram a jogar. Pessoas que haviam parado de jogar na Gamers Club voltaram e outras começaram nesse período”, afirma Uchiyama.

Para quem deseja começar a empreender na área de games, seja em desenvolvimento ou soluções para os jogadores, Uchiyama fala sobre paixão e foco no público-alvo. “A primeira coisa é empreender no meio pelo qual você é apaixonado; em segundo lugar, focar em uma proposta de valor para seu público-alvo.

Apesar de ser um mercado de games, existem vários nichos que você pode explorar. É legal entender o mercado e qual público você quer atingir. Teste sempre as possibilidades para ver se as pessoas estão dispostas. Arrisque e não tenha medo”, completa o CEO.