Rio

Cuidados minimizam prejuízos causados pela maresia

Limpeza diária, janelas fechadas e esquadrias de PVC estão entre as soluções
Projeto da arquiteta arquiteta Paula Martins em Niterói tem esquadrias de PVC e todos os embutidos do teto são de alumínio, resistentes à maresia Foto: Divulgação
Projeto da arquiteta arquiteta Paula Martins em Niterói tem esquadrias de PVC e todos os embutidos do teto são de alumínio, resistentes à maresia Foto: Divulgação

RIO - Viver diante do mar é um privilégio, mas nem tudo são flores. Estar a poucos passos de uma imensa área de lazer e gozar de uma bela vista tem um custo que vai além dos preços literalmente mais salgados desses imóveis: a maresia. Este fenômeno, invariavelmente, causa danos às edificações, além de corroer móveis e eletrodomésticos. Mas alguns cuidados podem minimizar os prejuízos.

Entender seu funcionamento é o primeiro passo para um convívio harmonioso com esta força da natureza. Bem didático, o engenheiro e professor de oceanografia da UERJ, David Man Wai Zee, explica que é mais ou menos como o efeito de um spray.

— Em função da agitação do mar, uma grande quantidade de gotículas de água salgada se levanta e é empurrada em direção ao continente pelos ventos. Quando isso acontece com mais intensidade, pode ser visto até a olho nu, no formato de uma névoa esbranquiçada que paira sobre a região litorânea — detalha o professor.

Ele afirma que, na natureza, plantas mais resistentes formavam uma barreira natural para conter essas partículas. Mas, como a construção civil avançou sobre essas áreas, os próprios prédios passaram a representar essa barreira. E como nem todo material é resistente ao sal, resta ao moradores arcar com os prejuízos.

Segundo Zee, a maresia pode chegar a cerca de 50 metros de altura e, caso o prédio que está diante do mar tenha altyura inferior a essa, ela acaba afetando também as edificações que estão na parte de trás. E quanto mais próximo do solo é o imóvel, maior o impacto.

A advogada Flávia Braga mora há seis anos no Jardim Oceânico e conhece bem os efeitos do mar sobre a casa. Ela sempre está com uma intervenção em curso no apartamento ou no condomínio por causa disso.

— Os móveis de ferro têm que ser constantemente pintados e já tive que trocar alguns por alumínio, pois enferrujaram e deixaram marcas no chão. A bomba da piscina e os equipamentos da sauna também já precisaram ser trocados por causa disso. E agora vou ter que mudar o suporte do ar-condicionado, para usar um modelo de inox. Tudo isso faz com que morar em áreas assim tenha um custo bem maior — conta ela.

ELETRÔNICOS LONGE DAS JANELAS

Para pessoas como Flávia, a escolha dos materiais usados em casa realmente faz diferença. Segundo Zee, ferro e madeira são menos resistentes. Alumínio protegido e vidro são as melhores opções na hora de escolher móveis e equipamentos.

Já na estrutura da edificação, Zee diz ser importante que as ferragens sejam recobertas por uma boa dose de concreto, para que essas estruturas fiquem bem protegidas do risco de corrosão. Afinal, esse impacto nem sempre fica aparente.

Alguns hábitos também precisam ser adotados pelos moradores. É o caso de evitar a instalação de aparelhos eletrônicos, como TV e computador, próximo às janelas.

A hora da faxina também requer um esforço extra. Segundo o professor André Pimentel, do Departamento de Química do Centro Técnico Científico da PUC-Rio, se quem vive nas áreas mais afastadas do oceano pode fazer a limpeza dos móveis uma vez por semana, quem está diante do mar tem que fazer isso todos os dias com um pano úmido.

— Assim, evita-se o acúmulo de maresia nas superfícies, o que certamente danificaria os móveis — justifica ele.

Pimentel indica, ainda, o uso de óleos e até de produtos à base de silicone, como aqueles utilizados em carros, para proteger e impermeabilizar ainda mais os objetos.

— A utilização de capas em alguns eletrodomésticos também pode ser uma boa saída para quem que os produtos tenham uma durabilidade maior — acrescenta ele.

O playground das crianças também merece atenção. O ideal, segundo Pimentel, é instalar apenas estruturas de plástico, já que este material é resistente à maresia.

24 HORAS POR DIA

O professor do curso de Geografia da UFF, Eduardo Manuel Rosa Bulhões, especialista no impacto causado por maresia e ressaca no ambiente costeiro, reforça que as pessoas precisam se lembrar de que este é um fenômeno que acontece 24 horas por dia, em menor ou maior intensidade.

Por isso, os tradicionais (e polêmicos) fechamentos de varanda com vidro ao estilo blindex são, de fato, um recurso eficaz de proteção.

— Os imóveis mais protegidos são os que dispõem deste mecanismo, que é muito melhor do que as janelas convencionais. Além disso, é importante manter os ambientes fechados por uma boa parte do dia. Afinal, enquanto as janelas e as portas estiverem abertas, a casa estará recebendo as partículas de água salgada — frisa ele.

Para quem tem carro ou moto, essa lógica também se aplica às garagens. Aquelas que são fechadas, como as subterrâneas, são mais indicadas para manter os veículos livres da corrosão, segundo Bulhões. Para ambientes abertos, o jeito é apelar para os produtos como óleos impermeabilizantes, que podem ser aplicados em superfícies metálicas. Isso serve tanto para carros quanto para equipamentos externos, como aparelhos de ar-condicionado.

Mas, atenção para uma ressalva: esses cuidados, na melhor das hipóteses, aumentam a vida útil dos equipamentos, já que a ação da maresia é implacável, como afirma Bulhões.

DECORAÇÃO ADEQUADA

Cheia de experiências em apartamentos debruçados sobre o mar, a arquiteta Paula Martins sabe de cór e salteado os detalhes que precisam ser respeitados nesse tipo de projeto. A área externa, por motivos óbvios, é a que merece mais atenção.

— Usar móveis de qualidade inferior e tecidos que não são apropriados para estes ambientes é um erro, porque o morador precisará trocá-los constantemente — diz ela. — Móveis de aço carbono, por exemplo, não são resistentes à maresia. O melhor é optar por materiais como alumínio e inox, além de fibras sintéticas.

Para o revestimento, Paula gosta de usar bastante porcelanato, já que as tintas também não costumam ser muito duráveis diante deste fenômeno. Segundo ela, nenhum detalhe deve passar despercebido.

— O morador pode comprar uma luminária linda e que pareça resistente, mas se um dos elementos do objeto não é preparado para a maresia, isso vai comprometê-lo com o tempo — ilustra a arquiteta.

Para as esquadrias, o PVC tem ganhado espaço na prancheta dos arquitetos que atuam nesses endereços. Em lojas como a Art Mais, já é possível encontrar o material em diferentes cores.

— Os produtos da Claris Tigre têm até versões que imitam madeira — comenta a proprietária, Bruna Gladulich. — Isso faz com que o material dialogue ainda mais com as fachadas dos prédios.

A própria maneira como o produto é concebido também faz com que ganhe mais espaço nas regiões litorâneas.

— Toda a estrutura de alumínio fica isolada internamente. Então, não entra em contato com o ar — descreve Bruna. — A fixação também é diferente. Se dá com espuma de poliuretano, material que não se deteriora como os parafusos de metal.