• Paulo Gratão
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Unidades reabertas do Divino Fogão apresentam campanha informativa (Foto: Divulgação)

Unidades reabertas do Divino Fogão apresentam campanha informativa (Foto: Divulgação)

Até o final da semana passada, 86 shopping centers dos 577 existentes no país já estavam reabertos. Ao todo, 52 cidades liberaram o funcionamento dos empreendimentos, a maior parte no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, de acordo com dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).

O protocolo de reabertura tem sido parecido em todos, com algumas mudanças regionais: horário reduzido, maior frequência na higienização, uso de máscaras por frequentadores e funcionários, verificação de temperatura na entrada, disponibilização de álcool em gel, controle de entrada em estacionamentos e nas lojas e a suspensão de atividades que possam causar aglomerações.

Lojas franqueadas instaladas em shoppings reabertos contam que o movimento tem sido fraco, e o faturamento chega a ser até 80% menor. Todas as marcas consultadas adotaram novos protocolos para garantir a segurança de clientes e funcionários.

A empreendedora Carolina Dolzan é franqueada da Mr. Cheney em Campo Grande (MS), a única loja aberta da rede. As outras 74 permanecem fechadas. Em três semanas de atividade, ela conta que o faturamento começou em torno de 10% e chegou a no máximo 20% do que era antes da pandemia. “Realmente os custos são maiores dos que as vendas, mas temos percebido que esse sacrifício tem valido a pena”, afirma.

Carolina diz que o sábado que antecedeu o Dia das Mães, dia 9 de maio, foi o melhor dia de vendas até o momento, mas equivale ao desempenho de uma sexta-feira antes do isolamento social. “As pessoas têm ido ao shopping, circulado, mas percebemos que elas compram o que precisam e já vão embora. Não ficam passeando. O fator que tem nos ajudado muito no aumento das vendas é o delivery.”

O Divino Fogão chamou um microbiologista para ajudar a reforçar os protocolos de higiene dos sete restaurantes que foram reabertos – de um total de 184. Para estimular o consumo, fizeram uma campanha sobre o coronavírus que informa os procedimentos adotados pela rede.

Eles diminuíram o número de mesas internas do restaurante, para mantê-las a uma distância recomendada pelas autoridades sanitárias. As vendas, no entanto, têm sido fracas - as unidades registraram uma queda de 78% no faturamento, em relação ao mesmo período de 2019. Apesar disso, o fundador e presidente da rede Reinaldo Varela é otimista. "Com o passar das semanas, o movimento tende a aumentar nas lojas que voltaram a operar, na medida em que o consumidor se sentir mais seguro para sair de casa e retomar a rotina aos poucos."

Quiosque da Moncloa em shopping center de Maringá (Foto: Divulgação/Moncloa)

Quiosque da Moncloa em shopping center de Maringá (Foto: Divulgação/Moncloa)

Falta de entretenimento prejudica o fluxo

O franqueado da rede de chás Moncloa em Maringá (PR), Lucas Bagini, conta que conseguiu atingir 67% das vendas, em comparação ao mesmo período do ano passado, mas que foi influenciado pelo Dia das Mães. O shopping reabriu dois dias antes da data, e o movimento está bem abaixo do comum. “Praça de alimentação e cinema trazem muita gente aos shoppings de maneira geral, e com o não funcionamento dessas áreas, o fluxo cai consideravelmente”, afirma.

A Prefeitura de Maringá proibiu que menores de 16 anos frequentem os shopping centers. De acordo com Bagini, esse foi outro fator que reduziu o fluxo nos estabelecimentos. “Isso acaba afastando principalmente famílias com crianças e adolescentes, um público muito importante do varejo.”

Além disso, o processo da marca consiste em estimular que o cliente sinta o aroma dos produtos e faça uma degustação – o que não é recomendado pelas autoridades de saúde neste momento. Assim, eles precisaram adaptar para que o atendimento aconteça a um metro de distância, e com higienização constante dos produtos.

Para moda e acessórios, lojas de rua performam melhor

Outra rede que precisou mudar os processos foi a Calçados Bibi, que está com 20 operações em funcionamento (17% do total). Eles reduziram o número de atendentes por loja e orientaram os vendedores a não ajudar mais as crianças a experimentar os sapatos, para evitar qualquer tipo de contato.

No acumulado, houve uma queda 48% de faturamento, se comparado ao mesmo período do ano passado. Só no mês de maio, por exemplo, a queda foi de 42%, em média.

Loja da Bibi em Blumenau (SC) (Foto: Divulgação)

Loja da Bibi em Blumenau (SC) (Foto: Divulgação)

A rede diz que três lojas reabertas são de rua, e a performance tem sido melhor. A unidade de Parobé (RS) registrou uma queda de 34% no faturamento na primeira semana de maio e um crescimento de 13% na segunda semana, se comparado a 2019. "Isso se dá pelo acesso facilitado, pontos com menos pessoas e pela praticidade. Parar o carro próximo a loja, entrar, efetuar a compra e ir embora", diz Andrea Kohlrausch, presidente da Calçados Bibi.

Ações que eram promovidas pela marca, como tatuagem com água e entrega de balões e balas, foram suspensas. Andrea diz que a empresa encontrou, no entanto, outra forma de proporcionar experiência: a cada calçado vendido, a criança ganha uma máscara produzida na fábrica da empresa.

Caito Maia, fundador da Chilli Beans, teve percepção parecida com as 245 operações que já estão funcionando De acordo com ele, a queda de faturamento foi maior em unidades instaladas em shopping centers - cerca de 30%. 

O presidente do Grupo Ornatus, Danilo Assumpção, diz que 47 das quase 300 lojas da Morana reabriram, mas a maioria é em pontos de rua. Há uma loja de shopping aberta em Barretos (SP) e outras quatro na região Sul. "Temos 9 lojas que abriram os mesmos dias de 2019 e 2020, durante todo mês de maio. Uma não faturou nem 14% do que vendeu no ano passado e a melhor loja chegou a vender 44% esse ano. É um cenário complicado."

Assumpção explica que a reabertura não significou retorno das vendas, pois o consumidor ainda está receoso, mas os custos de aluguel ainda são os mesmos em alguns empreendimentos. "Acreditamos que é até preferível abrir depois, porque nesse cenário de tantas incertezas pode acabar tendo que fechar depois, como aconteceu com uma das nossas lojas no Tocantins."

Ao contrário dos demais segmentos, a rede de podologia Doctor Feet afirma que tem tido um retorno positivo nas duas unidades em shoppings que reabriram em Campo Grande e em Goiânia. Como o atendimento da rede é considerado um serviço de saúde, os clientes voltaram assim que as portas foram abertas. Alguns estavam recebendo tratamento em domicílio, inclusive. “Mais de 50% dos nossos clientes fazem tratamento que, se não acompanhado, pode evoluir para alguma enfermidade que o leve ao hospital. Nesse momento, isso é o menos indicado”, diz o fundador da rede, Jonas Bechelli.

De acordo com ele, o fluxo tem sido parecido com o de antes da pandemia, motivado principalmente por clientes com problemas crônicos. “Os atendimentos estão sendo agendados para evitar aglomerações e a cabine de atendimento é totalmente higienizada após o uso."