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No Rio, Covid-19 é mais letal a negros e pardos

Dados da prefeitura mostram que brancos são maioria entre contaminados nas regiões mais ricas da cidade
Feira livre de Campo Grande, bairro recordista de óbitos por Covid-19 Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Feira livre de Campo Grande, bairro recordista de óbitos por Covid-19 Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

RIO — Dados divulgados pela prefeitura mostram que no município do Rio o coronavírus é mais letal entre negros e pardos. Entre os pretos, a doença mata 16 a cada 100 infectados enquanto em brancos 12 a cada 100 morrem.

Os números são uma amostragem, já que ainda não há informações sobre a raça de 12 mil pessoas que pegaram a Covid-19. Porém, entre os já registrados, a taxa de letalidade se assemelha ao cálculo geral do município.

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Confira a taxa de letalidade de acordo com a raça:

  • Preta - 16,3%
  • Parda - 13,45%
  • Branca - 12,2%
  • Indígena - 5%
  • Amarela- 1,9%
  • Não informado - 12,3%

Os dados da prefeitura divulgados  não permitem realizar um recorte de raças por bairros, apenas pelas Áreas de Planejamento. Há uma maior contaminação entre pardos e pretos nas regiões mais pobres da cidade. Enquanto na Zona Sul e Grande Tijuca há uma maioria de brancos contaminados, na Zona Oeste só há mais pessoas brancas doentes na Barra da Tijuca e Jacarepaguá.

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Quatro dos cinco bairros com mais mortes são da Zona Oeste

Os 3.430 óbitos registrados município também acompanham esta lógica. Entre os cinco bairros que mais registraram mortes até esta sexta-feira, quatro são da Zona Oeste e apenas um da Zona Sul. Entre os que tiveram mais de cem mortes, apenas Copacabana e Tijuca aparecem na lista.

  • Campo Grande - 202
  • Bangu - 155
  • Copacabana - 142
  • Realengo - 122
  • Santa Cruz -115
  • Tijuca - 100

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Não é possível, porém, saber quantos óbitos foram contabilizados, por exemplo, em favelas destes bairros. Isso porque apenas algumas comunidades são consideradas bairros pela prefeitura. Um levantamento feito pela "Voz das Comunidades" aponta que já foram registrados mais de mil casos e 254 óbitos nas favelas do Rio.

  • Rocinha - 206 casos e 55 óbitos
  • Maré - 187 casos e 47 óbitos
  • Complexo do Alemão-  85 casos e 28 óbitos

Os números da cidade do Rio confirmam uma realidade que acontece no Brasil. O Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), liderado pelo Departamento de Engenharia Industrial do Centro Técnico Científico da PUC-Rio, analisou as taxas de letalidade da doença no Brasil conforme as variáveis demográficas e socioeconômicas da população.

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Com dados sobre o coronavírus atualizados até 18/05/2020, a equipe de pesquisadores avaliou cerca de 30 mil casos graves das notificações para o novo coronavírus, disponibilizados pelo Ministério da Saúde. O resultado do levantamento mostra que quase 55% dos pretos e pardos morreram de Covid-19 enquanto que, entre os brancos, esse valor ficou em 38%.

Quanto maior a escolaridade, menor a letalidade

O núcleo reuniu todos os dados disponíveis de internação, raça e escolaridade, e as diferenças sociais acompanharam as taxas de letalidade.

As chances de morte de um paciente preto ou pardo sem escolaridade (76%) são quase quatro vezes maiores que um paciente branco com nível superior (19,6%). Quando analisados na mesma faixa de escolaridade, pretos e pardos apresentaram proporção de óbitos, em média, 37% maior do que brancos.