Por G1 Santos


Provedor da Santa Casa de Santos diz que vai restaurar prédio do Escolástica Rosa

Provedor da Santa Casa de Santos diz que vai restaurar prédio do Escolástica Rosa

O provedor da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos, no litoral paulista, Ariovaldo Feliciano, se manifestou após a entidade ser alvo de duas ações do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) referentes a imóveis herdados pela irmandade. Em entrevista ao G1 nesta quarta-feira (14), ele relatou que se surpreendeu negativamente com a ação, que pede que 17 imóveis da Santa Casa de Santos sejam transferidos para uma fundação ou ao poder público.

A ação foi divulgada pelo MP nesta terça-feira (13). O Instituto Dona Escolástica Rosa foi idealizado por João Octávio dos Santos, que faleceu em 1900 e deixou à Santa Casa um patrimônio composto por 45 imóveis, dos quais restaram 17. Os promotores Adriano Andrade de Souza e Carlos Alberto Carmello Junior requerem a extinção do encargo e a transferência do patrimônio restante.

Os autores alegam que os imóveis devem ser transferidos para alguma fundação que atue em Santos com finalidade de prestar serviços de educação fundamental ou técnica a crianças ou adolescentes de baixa renda. Entretanto, segundo o provedor, os responsáveis pela irmandade ficaram surpresos com a ação, já que a Santa Casa criou um instituto com o intuito de ajudar entidades e auxiliarem jovens em vulnerabilidade social.

Ariovaldo Feliciano afirma ter sido surpreendido pelas duas ações do Ministério Público — Foto: Leticia Gomes/G1

"O testamento do João Octávio está sendo atendido agora porque a Santa Casa criou o Instituto Escolástica Rosa, devidamente aprovado pelo conselho [em 2021]. Os alugueis dos imóveis são destinados ao instituto, que reverte o dinheiro a duas creches de crianças carentes", explica. Ao todo, mais de 250 crianças são auxiliadas pela instituição.

Instituto Escolástica Rosa

Além da ação que tem como objetivo transferir o patrimônio restante do instituto para alguma fundação, o MP também entrou com uma ação civil pública contra a irmandade, o Estado de São Paulo e o município de Santos, visando à restauração dos prédios do Instituto Dona Escolástica Rosa, antigo imóvel que sediava a Escola Técnica Estadual (Etec) Dona Escolástica Rosa e a Faculdade de Tecnologia (Fatec) Rubens Lara.

Segundo Ariovaldo, entretanto, já existe um projeto de reforma para o local desde 2016, aprovado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Além disso, ele afirma que a irmandade já gastou cerca de R$ 5 milhões voltados à limpeza do local, descupinização, reforma do telhado e retirada de entulhos. "Nós encontramos o Escolástica Rosa totalmente destruído, descaracterizado, sujo. Tiramos de lá 400 caçambas de mato e dez caminhões de entulho", afirma.

Um dos imóveis é o Instituto Escolástica Rosa, localizado em Santos, SP — Foto: Divulgação/Santa Casa

O objetivo da Santa Casa é permanecer responsável pelo local e fazer as reformas ao longo do tempo, com parcerias, visando a melhoria dos prédios. Após a Justiça acolher o pedido do MP e determinar a restauração do local, a Santa Casa pediu que fosse realizado um laudo para ver o que poderá ser aproveitado do primeiro projeto, que prevê a obra em toda a instituição. Depois disso, os responsáveis vão determinar o que funcionará no local.

"Estamos esperando o laudo que contratamos de um técnico especialista nisso, para ver o que foi descaracterizado. Depois de recebermos esse laudo, vamos ver o que é preciso fazer para entrar com ele no MP. A ideia da Santa Casa é buscar parceiros para a restauração. Nossa intenção é abrir o prédio com atividades culturais", explica o provedor. Ele reitera que, até o fim do ano, a irmandade ainda vai lançar uma escola técnica para formar jovens carentes em técnicos em enfermagem.

Irmandade alega que foram retiradas 400 caçambas de lixo do local após limpeza da Santa Casa — Foto: Divulgação/Santa Casa

O provedor finaliza informando que se surpreendeu negativamente com as duas ações movidas pelo MP, e diz que a irmandade vai se defender em ambos os casos. "Surpreendeu sim, porque nós vínhamos trabalhando em conjunto, Santa Casa e Ministério Público. Todas as informações que pediam para a Santa Casa, o órgão recebia no tempo em que estipulava, ou até antes do tempo estipulado. Diante do posicionamento do MP, vamos nos defender", conclui Ariovaldo.

Ministério Público e estado

Em nota, o Ministério Público informa que, justamente em razão das informações fornecidas pela Santa Casa é que o órgão avaliou ser imprescindível o ajuizamento de ambas as ações. Segundo informa, a princípio, não se vislumbra outra solução para esse caso.

O Governo do Estado de São Paulo informa que o edifício alugado, pertencente à Santa Casa de Santos, foi devolvido em julho de 2019, por determinação da Procuradoria do Trabalho. Ainda alega que, com mais de 100 anos de funcionamento, o prédio necessitava de restauração, mas a Santa Casa não concordava em custeá-la, não permitindo ao estado investir em imóveis que não são de sua propriedade. Para não prejudicar os estudantes, a Etec Dona Escolástica Rosa e a Fatec foram transferidas para um novo endereço, na Vila Mathias.

Justiça

Local está sob responsabilidade da Santa Casa e precisa passar por reforma — Foto: Divulgação/Santa Casa

Em decisão liminar, a juíza Fernanda Menna Pinto Peres, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Santos, acolheu o pedido do MP e afirmou que o imóvel está "em péssimo estado de conservação".

Com isso, ficou determinado, a princípio, que a Santa Casa de Santos pare de promover reparos, pintura ou restauração sem prévia autorização dos conselhos de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa) e de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), sob pena de multa de R$ 50 mil por dia de reparo, pintura ou restauração constatado.

A Justiça também determinou que o estado, a prefeitura e a Santa Casa de Santos, em conjunto, submetam à aprovação do Condephaat e do Condepasa, no prazo de nove meses, projeto atualizado de restauro integral do conjunto arquitetônico Dona Escolástica Rosa, com cronograma de execução não superior a dois anos.

VÍDEOS: As notícias mais vistas do G1

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!