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Economia

Trump atropela Brasil e lança candidato próprio à presidência do BID

Tesouro dos EUA anunciou apoio ao cubano-americano Mauricio Claver-Carone. Governo brasileiro trabalhava com candidatura própria
Mauricio Claver-Carone é o indicado de Trump para o Banco Interamericano de Desenvolvimento Foto: Gabriel Aponte / Photographer: Gabriel Aponte/Get
Mauricio Claver-Carone é o indicado de Trump para o Banco Interamericano de Desenvolvimento Foto: Gabriel Aponte / Photographer: Gabriel Aponte/Get

BRASÍLIA - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quer indicar um americano para presidir o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A decisão de Trump, informada em um comunicado do Tesouro dos EUA nesta terça-feira, quebra uma tradição de seis décadas em que a instituição é presidida por um latino-americano e põe fim à estratégia do presidente Jair Bolsonaro de apresentar uma candidatura própria do Brasil.

O Departamento do Tesouro americano disse que está apoiando Mauricio Claver-Carone, diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional para Assuntos do Hemisfério Ocidental, para chefiar o BID.

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Segundo informações divulgadas pela agência de notícias Bloomberg, Claver-Carone é cubano-americano, ex-apresentador de talk-show e ex-diretor-executivo dos EUA no Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Estamos confiantes de que sua liderança no BID fortalecerá sua capacidade de gerar impacto no desenvolvimento da região", disse o secretário do Tesouro Steven Mnuchin.

Candidatura brasileira

Em março deste ano, em meio a uma disputa com a Argentina, o governo brasileiro decidiu apresentar uma candidatura própria para a presidência do BID. Na época, o nome mais forte era o do secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo.

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Porém, no mês passado, Troyjo acabou sendo indicado para assumir o controle do Novo Banco de Desenvolvimento — conhecido como banco do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia e África do Sul). Com isso, surgiu um novo nome, o do economista, banqueiro e empresário Rodrigo Xavier .

O Brasil atuava há semanas, nos bastidores, para viabilizar a candidatura de Xavier à presidência do BID. O governo brasileiro contava com a ajuda dos EUA para uma vitória. A escolha se dá por dois parâmetros: o eleito precisa ter o voto de ao menos 15 dos 26 países associados ao banco, e que estas nações têm de representar 50% mais um do capital da instituição. Os EUA têm 30% do capital do banco, seguido por Brasil e Argentina, cada qual com 11% do capital.

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Fontes do governo brasileiro afirmaram ao GLOBO que não há divergências entre o Brasil e os EUA nesse campo. Disseram que a decisão de Washington de lançar candidatura à presidência do BID é "perfeitamente legítima" e evidencia a importância política e econômica que atribui à instituição. O candidato dos EUA, asseguraram, "é um amigo do Brasil".

Essas fontes afirmaram que o governo brasileiro tem mantido consultas com autoridades americanas e de outros países da região sobre a sucessão. O diálogo que continuará nas próximas semanas.

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Já o candidato argentino é Gustavo Beliz, secretário de assuntos estratégicos do presidente Alberto Fernández, Beliz conta com o apoio do México, cujo presidente, López Obrador, é mais afinado com Fernández — de centro-esquerda — do que com Bolsonaro.

O atual chefe do BID, Luis Alberto Moreno, da Colômbia, assumiu em 2005 e deve deixar o cargo no fim de setembro. O próximo dirigente do BID terá pela frente uma série de desafios. São exemplos a crise humanitária na Venezuela e o crescente papel da América Latina no epicentro da pandemia de coronavírus.