Brasil
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE

Por Daniela Chiaretti — De São Paulo


Juliano Assunção: “Décadas de desmatamento não foram capazes de gerar um mercado de trabalho dinâmico na região” — Foto: Divulgação
Juliano Assunção: “Décadas de desmatamento não foram capazes de gerar um mercado de trabalho dinâmico na região” — Foto: Divulgação

O desmatamento histórico da Amazônia não tem resultado em emprego e oportunidades para os jovens. Nos nove Estados da Amazônia Legal, quem tem entre 18 a 24 anos de idade encontra muito mais dificuldade para entrar no mercado de trabalho do que no resto do país. Há desalento entre jovens, que não encontram boas oportunidades na região. O pior é que o diagnóstico grave do presente pode se ampliar no futuro.

A dificuldade de participação no mercado de trabalho é 13 pontos percentuais maior nos Estados da Amazônia Legal se comparada com o resto do país. Se 58% dos jovens com 18 a 24 anos de idade participam do mercado de trabalho na Amazônia, o percentual sobe para 71% no resto do Brasil.

Gustavo Gonzaga: “Entre os jovens na Amazônia que buscam emprego e não encontram há desalento; isso é preocupante” — Foto: Laura Gonzaga/Divulgação
Gustavo Gonzaga: “Entre os jovens na Amazônia que buscam emprego e não encontram há desalento; isso é preocupante” — Foto: Laura Gonzaga/Divulgação

O quadro não melhora entre jovens adultos, com 25 a 29 anos. Enquanto no restante do Brasil o percentual é de 82%, na Amazônia Legal é 71%. O índice revela jovens que têm algum tipo de trabalho, formal ou informal, somado aos que estão procurando entrar no mercado.

Os dados fazem parte do primeiro levantamento mais aprofundado sobre a estrutura de emprego nos Estados amazônicos. O “Mercado de Trabalho na Amazônia Legal - uma análise comparativa com o resto do Brasil” é o primeiro de uma série de estudos liderada por um grupo de pesquisadores do chamado projeto “Amazônia 2030”.

“Os dados deste estudo sobre emprego na Amazônia mostram que mesmo com todo o histórico de décadas de desmatamento e degradação da região, esta trajetória não tem sido capaz de gerar um mercado de trabalho dinâmico, com boas ocupações e que motivem os jovens”, diz o economista Juliano Assunção, um dos coordenadores do projeto “Amazônia 2030”. O outro líder é Adalberto Veríssimo, fundador e pesquisador sênior do Imazon, renomado instituto de pesquisa com sede em Belém.

O “Amazônia 2030” irá levar em conta aspectos econômicos, humanos e ambientais da região em uma série de diagnósticos elaborados até 2022. A ideia é coletar “o melhor do conhecimento da academia e das experiências bem-sucedidas de desenvolvimento de empresários, empreendedores e agentes públicos”, diz a mensagem institucional da iniciativa. “Também irá aprofundar os estudos nas questões críticas e sistematizar as soluções para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, continua. O projeto é financiado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS).

“O ‘Amazônia 2030’ tem a missão bem definida de lançar um plano de ações que nos permita criar as bases para um desenvolvimento socioeconômico e ambiental da Amazônia em outro patamar”, explica Assunção, que é diretor da Climate Policy Initiative (CPI), organização com foco em políticas públicas em energia e uso da terra e professor de economia da PUC-Rio. A intenção do projeto é entregar o plano aos candidatos na eleição de 2022. “Queremos dar uma contribuição à sociedade”, diz Assunção.

O diagnóstico sobre emprego é o primeiro da lista, coordenado por Gustavo Gonzaga, professor da PUC-Rio e especialista em economia do trabalho. “Este estudo nos ajuda a entender um pouco melhor qual é o nosso ponto de partida. Será que a forma como temos explorado os recursos naturais desta forma têm sido capazes de criar condições de trabalho e renda interessantes?”, questiona.

Outro dado do estudo, que avaliou os dados da PNAD - Contínua do IBGE com 211 domicílios analisados a cada trimestre, sendo 36 mil na Amazônia Legal, é o que indica o desperdício do bônus demográfico que existe na região, explica Gonzaga.

Em 2020 estima-se que a Amazônia Legal tenha nove idosos para cada 100 pessoas em idade ativa, número bem inferior ao estimado para o Brasil como um todo, de 14 idosos para cada 100 pessoas em idade ativa. Em 2030, a Amazônia Legal terá 12 idosos para cada 100 e no Brasil todo serão 20 para cada 100 pessoas em idade ativa.

Os jovens fazem a conexão para o futuro e, por isso, são destaque no projeto “Amazônia 2030”.

O estudo faz várias revelações. “A Amazônia é muito mais jovem do que o resto do Brasil, que ainda é um país jovem, mas que está fazendo a transição demográfica muito rapidamente”, diz Gonzaga.

São os jovens que irão financiar a vida dos idosos e das crianças. “O fato de Amazônia ter mais jovens só servirá se esta oportunidade não for desperdiçada”, diz ele. “Mas este bônus demográfico está sendo jogado fora porque há muito menos oportunidade de ocupação para os jovens na Amazônia do que no resto do Brasil”, explica.

Um dado eloquente é o da taxa de ocupação entre pessoas com mais de 15 anos, ou seja, em idade ativa. Só 60% dos jovens entre 25 e 29 anos tinham alguma ocupação ao longo de 2019 na Amazônia Legal. No Brasil esta taxa era de 71%. A diferença entre o conceito de ocupação e o de participação são os desocupados. Ou seja, a taxa de ocupação engloba quem tem trabalho formal ou informal e a taxa de participação são os ocupados somados a quem está procurando trabalho. “Mede tanto quem está trabalhando quanto a vontade das pessoas em participar do mercado de trabalho”, explica.

“O fato de a taxa de participação na Amazônia ser menor à do resto do Brasil também indica que há menos jovens procurando trabalho”, diz Gonzaga. Os dados na Amazônia não incluem indígenas que vivem nas aldeias, só os poucos que moram nas cidades.

Indicadores recentes mostram que ao quadro se agrava. No segundo trimestre de 2020, no auge da pandemia, 53% dos jovens adultos, entre 25 e 29 anos, tinham ocupação na Amazônia Legal. No resto do Brasil o índice era 62%.

“Entre os jovens, na Amazônia, há um desalento”, diz Gonzaga. Há um conceito, em economia de trabalho, que se chama efeito cicatriz”, diz o especialista. São pessoas que começam a carreira, não conseguem se engajar no mercado de trabalho e desanimam. “Esse desânimo faz com que comecem a se envolver com o tráfico, com o crime, tem implicações sobre a saúde, casos de depressão”, diz Gonzaga. “Colocar os jovens no mercado de trabalho é fundamental também para que a violência não aumente e a saúde pública não fique prejudicada”, continua.

Outro dado preocupante é o de pessoas que nem trabalham e nem estudam. Esse número entre jovens de 25 e 29 anos em 2019 estava na faixa de 35%, na Amazônia. No Brasil o índice era 25%. “Isso está se agravando”, diz Gonzaga. Em 2012 era 27%.

O próximo estudo irá focar nas diversas regiões da Amazônia. Haverá também abordagens setoriais. A ideia dos pesquisadores é entender melhor as diferenças entre as “três Amazônias” que Adalberto Veríssimo descreve como sendo uma região da Amazônia desmatada, outra sob pressão e a terceira, florestada.

O projeto “Amazônia 2030” fala para o futuro, explica Juliano Assunção. “Queremos ir a fundo nos temas, fazendo todas as perguntas sem preconceitos para buscar as evidências e encontrar os caminhos para o ambiente institucional, o desenvolvimento de políticas públicas”, diz Assunção.

Mais recente Próxima Aneel entra com recurso na Justiça para derrubar sentença de afastamento de diretoria

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais do Valor Econômico

Essa definição, que consta do PL da reforma tributária enviada pelo governo ao Congresso, é importante, porque os tributos passarão a ser cobrados no destino, não mais onde são produzido

Regulamentação estabelece locais exatos para cobrança de tributos no destino

Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União Brasil) se colocou nessa quarta como pré-candidato a vice do prefeito

Com nova oferta, Nunes diz que escolha do vice foi antecipada em SP por ato de Lula

Entre os incentivos previstos para a Zona Franca de Manaus constam a suspensão da incidência do IBS e da CBS nas importações de bens materiais realizadas por indústrias incentivadas estabelecidas área

Regulamentação da reforma tributária mantém incentivos à Zona Franca de Manaus

Entre as operações que terão alíquota zero estão dispositivos médicos, dispositivos de acessibilidade para pessoas com deficiência, medicamentos, frutas e ovos

Reforma tributária estabelece oito operações com bens e serviços que terão alíquota zero

Instituições financeiras fecharam acordo com BC para ressarcir clientes por encargo indevido

Midway e C6 devolvem R$ 63 mi  por cobrança extra