• Paulo Gratão
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Lady Vailante, dona da Lady Laces (Foto: Divulgação)

Lady Vailante, dona da Lady Laces (Foto: Divulgação)

Com a pandemia do novo coronavírus, milhares de empresas têm apostado em transmissões ao vivo na internet para vender e engajar consumidores. A empreendedora Lady Vailante, 40, fundadora da Lady Laces, já utilizava o recurso há pelo menos quatro anos, e conta que conseguiu aproveitar um crescimento exponencial nos últimos quatro meses.

O faturamento da Lady Laces em 2019 foi de R$ 90 mil. Com o aumento da visibilidade na pandemia, ela conta que já atingiu R$ 80 mil em quatro meses. “Eu sou MEI [microempreendedor individual] e já vou ter que rever o regime agora”, conta.

Lady se tornou empreendedora por acaso. Em 2015, desempregada e após dar à luz, ela queria melhorar a autoestima e resolveu pesquisar sobre perucas, ou “laces”, na internet. Comprou cinco para uso próprio e postou as fotos em suas redes sociais pessoais. Aos poucos, chegaram comentários perguntando sobre os fios. Ela chegou a descrever para as curiosas, em forma de brincadeira, que “era o cabelo da Beyoncé”. “Como eu já trabalhei na área de vendas, com o volume eu percebi a oportunidade e falei: eu vendo”, diz.

Assim, ela cobrava metade do valor adiantado das clientes e importava o acessório. Quando chegava, ela recebia a outra parte. O negócio se manteve assim por quase um ano. “Eu planejava montar algo para vender e ter uma renda mensal de R$ 2 mil. Eu pensava: se eu vender meia dúzia de cabelos por mês, já estou feita.” No entanto, a iniciativa acabou ganhando outra proporção.

Com a divulgação boca a boca, ela começou a receber mais procura. Resolveu abrir uma página no Facebook para conversar com as clientes e coletar quais eram as demandas de fios. De acordo com ela, o perfil do produto vendido nos Estados Unidos pode não atender ao gosto das brasileiras.

Na própria página do Facebook, ela passou a fazer lives semanais para mostrar os produtos, como usá-los e também para falar sobre autoestima. Lady buscava o conteúdo em blogs de especialistas internacionais e contava com a ajuda do companheiro para traduzi-los e repassá-los.

Lady fala sobre os produtos e também sobre autoestima em lives no Facebook (Foto: Divulgação)

Lady fala sobre os produtos e também sobre autoestima em lives no Facebook (Foto: Divulgação)

A repercussão fez com que ela fosse chamada para quadros de transformações em programas de televisão. “Eu tive 24 horas para montar um site, porque eles não poderiam anunciar uma página no Facebook. Eu já tinha portfólio e o negócio começou a rodar ali, e é onde eu vendo até hoje.”

A visibilidade no programa a ajudou, mas ela acredita que as lives contínuas foram o que realmente fez a diferença no crescimento da empresa. “Eu costumo dizer que não é venda de pastel. Não é só colocar o cabelo no site e a cliente monta o carrinho. É pessoal, muitas já vêm com a autoestima super fragilizada de outras tentativas frustradas. Elas precisam entender o que é o produto, como ele pode ajudar.”

De acordo com ela, apenas 7% das clientes compram o acessório por estarem fazendo algum tratamento. As demais veem como um item estético, de vaidade. Isso também foi impulsionado depois de celebridades brasileiras, como a cantora Ludmilla, assumirem o uso de perucas para compor o visual. 

"A cobrança sobre a mulher negra é muito maior em todos os sentidos, mas a construção da autoestima dela requer mais atenção, pois é tentada a ser desconstruída desde o berço. Uma das coisas que costumo dizer é que somos livres para escolher ser careca, crespa, alisada, loira. Seja qual for o cabelo, nós precisamos nos reconhecer como as mulheres lindas que somos."

A sensibilidade da pandemia impulsionou as lives de Lady, que hoje são feitas também com amparo dos consultores independentes, que vendem os produtos. Antes, o alcance máximo mensal era de até 300 mil pessoas, em média. “Durante a pandemia esse número aumentou para 1,5 milhão de pessoas, as próprias clientes fazem o compartilhamento. Eu acredito que isso ocorre porque os salões de beleza estão fechados e o dólar está alto para quem ia fazer importação de cabelo humano.”

Hoje, ela ainda trabalha com importações, mas também faz peças em parceria com uma confecção em São Paulo, quando os pedidos são mais personalizados. A média de preço para o acessório de fibra sintética varia entre R$ 150 e R$ 500. Já os acessórios com fios naturais ficam entre R$ 1.200 e R$ 3.000.