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Cultura

'Caso Evandro', podcast que virou febre com investigação de crime, vai virar série e livro

Com mais 3,5 milhões de downloads, programa detalha investigação do assassinato de um menino no Paraná
Foto da família de Evandro Caetano, menor morto num ritual de magia negra: o pai Ademir, os dois irmãos e a mãe, Maria, que mostra a foto do filho assassinado Foto: Julio Covello / Gazeta do Povo/Divulgação
Foto da família de Evandro Caetano, menor morto num ritual de magia negra: o pai Ademir, os dois irmãos e a mãe, Maria, que mostra a foto do filho assassinado Foto: Julio Covello / Gazeta do Povo/Divulgação

RIO —  Com mais de 3,5 milhões de downloads, a quarta temporada do “Projeto Humanos”, podcast de Ivan Mizanzuk sobre História, política e arte, transformou-se recentemente em um fenômeno popular na internet e está para se converter em um sucesso ainda maior em outros formatos.

Por causa de toda a atenção recebida, “O caso Evandro”, que conta a macabra história do desparecimento e morte de um menino de 6 anos, na cidade de Guaratuba, no litoral sul do Paraná, já tinha despertado a atenção da editora Harper Collins, que a transformará em livro (previsto para 2020), do mesmo autor.

Agora, atrama também vai virar série de TV, com produção da Glaz e direção de Aly Muritiba, que lançou recentemente o longa de ficção “Ferrugem”. A ideia é fazer uma minissérie de oito episódios, com cerca de uma hora de duração cada.

— O meu maior desafio é tentar condensar esta história, sem deixar de ser fiel a ela — diz Mizanzuk, que atua como showrunner. — No podcast, que é mais barato, posso fazer até cem episódios.

Ocorrido em abril de 1992, o assassinato de Evandro Ramos Caetano, que foi encontrado em um matagal com a cabeça raspada, as mãos decepadas e a barriga aberta, mobilizou a imprensa e comoveu a opinião pública.

O caso, que envolveu a família da vítima, um clã político local e as polícias civil e militar, arrastou-se por anos. Até 2016, quando uma das acusadas do assassinato, Beatriz Abagge, filha do prefeito da cidade à época, obteve perdão de pena do Tribunal de Justiça paranaense.

Fake news

Com essa carga dramática e uma história cheia de reviravoltas, o podcast “O caso Evandro” ganhou popularidade em questão de meses — só em maio, o site do “Projeto Humanos” registrou um milhão de downloads (sem contar as audições por streaming, já que as plataformas não divulgam o volume).

Uma das razões é a técnica narrativa utilizada por Mizanzuk, inspirada no podcast americano “Serial”, da jornalista Sarah Koenig, cuja primeira temporada foi ao ar em 2014. A receita mistura o rigor da investigação à estética da radionovela, comum também nos anos 1980 em programas como o de Gil Gomes (1940-2018).

— Essa história me fascinava desde que ia com meus amigos para Guaratuba, no início dos anos 2000, e passávamos pela casa dos Abagge. Sempre tinha alguém que dizia: “Aqui é a casa das bruxas” — conta ele, referindo-se a um dos apelidos do caso, “As bruxas de Guaratuba”, como eram chamadas Beatriz e sua mãe, Celina Abagge, acusadas com mais cinco pessoas de terem matado Evandro em um ritual de magia negra.

Ivan Mizanzuk, criador e showrunner do podcast "Caso Evandro" Foto: Divulgação / Agência O Globo
Ivan Mizanzuk, criador e showrunner do podcast "Caso Evandro" Foto: Divulgação / Agência O Globo

De 31 de outubro do ano passado até hoje, Mizanzuk levou ao ar 21 episódios de “O caso Evandro”. Após o 24º, a temporada entrará em uma pausa para produção de novos segmentos.

No total, deverá terminar, segundo o autor, com algo entre 27 e 30 episódios. Desde a estreia, o podcaster teve que ir às suas redes sociais esclarecer pelo menos duas questões controversas:

— Uma foi uma brincadeira dos ouvintes que começaram a dizer: “A história tem tanta reviravolta que no fim o Ivan vai revelar que ele é o Evandro, e seu nome é Ivandro”. Agradeci a audiência, mas isso não tem graça, porque muita gente da cidade estava escutando o programa. O outro caso envolveu a execução de um policial militar, Valdir Copetti Neves, que investigou a morte do Evandro. Começaram a dizer que eu corria perigo, mas esclareci que o assassinato não tinha nada a ver com o caso — explica.

Professor de Design em Curitiba, Mizanzuk começou a trabalhar em “O caso Evandro” no fim de 2015, dedicando muito de seu tempo à leitura do processo.

Pouco antes de levar o primeiro episódio ao ar, em 2018, ele foi abordado por Mayra Lucas, da Glaz Entretenimento, que sugeriu adaptar o podcast para uma série “true crime” — como “Making a murderer” e o nacional “ Bandidos na TV ”, da Netflix.

— Ivan conta a história muito bem. Mas há uma carência visual, existe necessidade de descrever tudo. A transposição para o formato série vai tornar tudo mais completo, complexo e interessante — conta Aly Muritiba. — É uma história de terror que se transforma em um drama político

Paralelamente, Mizanzuk trabalha na produção do livro. E diz que a série está sendo negociada com “emissoras e plataformas”.

— Sempre achei que essa história tinha potencial, porque foi uma tendência que aconteceu nos EUA, de podcasts que acabaram virando séries, como “Homecoming”, da Amazon Prime.