RIO — Com mais de 3,5 milhões de downloads, a quarta temporada do “Projeto Humanos”, podcast de Ivan Mizanzuk sobre História, política e arte, transformou-se recentemente em um fenômeno popular na internet e está para se converter em um sucesso ainda maior em outros formatos.
Por causa de toda a atenção recebida, “O caso Evandro”, que conta a macabra história do desparecimento e morte de um menino de 6 anos, na cidade de Guaratuba, no litoral sul do Paraná, já tinha despertado a atenção da editora Harper Collins, que a transformará em livro (previsto para 2020), do mesmo autor.
Agora, atrama também vai virar série de TV, com produção da Glaz e direção de Aly Muritiba, que lançou recentemente o longa de ficção “Ferrugem”. A ideia é fazer uma minissérie de oito episódios, com cerca de uma hora de duração cada.
— O meu maior desafio é tentar condensar esta história, sem deixar de ser fiel a ela — diz Mizanzuk, que atua como showrunner. — No podcast, que é mais barato, posso fazer até cem episódios.
Ocorrido em abril de 1992, o assassinato de Evandro Ramos Caetano, que foi encontrado em um matagal com a cabeça raspada, as mãos decepadas e a barriga aberta, mobilizou a imprensa e comoveu a opinião pública.
O caso, que envolveu a família da vítima, um clã político local e as polícias civil e militar, arrastou-se por anos. Até 2016, quando uma das acusadas do assassinato, Beatriz Abagge, filha do prefeito da cidade à época, obteve perdão de pena do Tribunal de Justiça paranaense.
Fake news
Com essa carga dramática e uma história cheia de reviravoltas, o podcast “O caso Evandro” ganhou popularidade em questão de meses — só em maio, o site do “Projeto Humanos” registrou um milhão de downloads (sem contar as audições por streaming, já que as plataformas não divulgam o volume).
Uma das razões é a técnica narrativa utilizada por Mizanzuk, inspirada no podcast americano “Serial”, da jornalista Sarah Koenig, cuja primeira temporada foi ao ar em 2014. A receita mistura o rigor da investigação à estética da radionovela, comum também nos anos 1980 em programas como o de Gil Gomes (1940-2018).
— Essa história me fascinava desde que ia com meus amigos para Guaratuba, no início dos anos 2000, e passávamos pela casa dos Abagge. Sempre tinha alguém que dizia: “Aqui é a casa das bruxas” — conta ele, referindo-se a um dos apelidos do caso, “As bruxas de Guaratuba”, como eram chamadas Beatriz e sua mãe, Celina Abagge, acusadas com mais cinco pessoas de terem matado Evandro em um ritual de magia negra.
De 31 de outubro do ano passado até hoje, Mizanzuk levou ao ar 21 episódios de “O caso Evandro”. Após o 24º, a temporada entrará em uma pausa para produção de novos segmentos.
No total, deverá terminar, segundo o autor, com algo entre 27 e 30 episódios. Desde a estreia, o podcaster teve que ir às suas redes sociais esclarecer pelo menos duas questões controversas:
— Uma foi uma brincadeira dos ouvintes que começaram a dizer: “A história tem tanta reviravolta que no fim o Ivan vai revelar que ele é o Evandro, e seu nome é Ivandro”. Agradeci a audiência, mas isso não tem graça, porque muita gente da cidade estava escutando o programa. O outro caso envolveu a execução de um policial militar, Valdir Copetti Neves, que investigou a morte do Evandro. Começaram a dizer que eu corria perigo, mas esclareci que o assassinato não tinha nada a ver com o caso — explica.
Professor de Design em Curitiba, Mizanzuk começou a trabalhar em “O caso Evandro” no fim de 2015, dedicando muito de seu tempo à leitura do processo.
Pouco antes de levar o primeiro episódio ao ar, em 2018, ele foi abordado por Mayra Lucas, da Glaz Entretenimento, que sugeriu adaptar o podcast para uma série “true crime” — como “Making a murderer” e o nacional “ Bandidos na TV ”, da Netflix.
— Ivan conta a história muito bem. Mas há uma carência visual, existe necessidade de descrever tudo. A transposição para o formato série vai tornar tudo mais completo, complexo e interessante — conta Aly Muritiba. — É uma história de terror que se transforma em um drama político
Paralelamente, Mizanzuk trabalha na produção do livro. E diz que a série está sendo negociada com “emissoras e plataformas”.
— Sempre achei que essa história tinha potencial, porque foi uma tendência que aconteceu nos EUA, de podcasts que acabaram virando séries, como “Homecoming”, da Amazon Prime.