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Esportes André Kfouri

Kfouri: Messi fora do Barcelona nunca foi tão possível, mesmo que pareça impossível

É obrigação de certos clubes ter um plano para a disponibilidade de contratar o craque

A parte mais interessante dos rumores sobre a insatisfação de Lionel Messi no Barcelona é não ter havido, até agora, qualquer tipo de desmentido. Desde o relato da rádio espanhola Cadena Ser, na última sexta-feira, todas as figuras próximas ao melhor jogador do mundo confirmaram a suspensão das conversas sobre extensão de contrato. O Barcelona jogou bem e venceu no fim de semana, e tudo o que se ouviu do planeta Messi foi um silêncio eloquente que não permite dúvidas: o mais afável dos tiranos do esporte ameaça abandonar o seu reino. Se houvesse uma versão da Escala Richter para avaliar a magnitude de transações no futebol, a ideia de Messi com outra camisa faria com que o logaritmo mudasse de nome.

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Talvez jamais aconteça. Os circuitos que acompanham os movimentos de futebolistas na elite do jogo tratam esse evento como o que existe de mais próximo à impossibilidade, mas respeitam com temor quase religioso a ínfima chance de que se realize. De certo modo, é absolutamente fútil tentar tirar Messi do clube que é sua casa desde a pré-adolescência, mas, num círculo restrito de adversários, é obrigação de todo executivo que se preze ter um plano de como fazê-lo se e quando a oportunidade se apresentar. Mesmo se estivessem solteiros, Sofia Vergara ou George Clooney não aceitariam um convite para jantar com você em nenhuma hipótese, certo? Esqueça. Mas o que você diria se os encontrasse no elevador? Nada? Esse é o paradoxo que se impõe a alguns superclubes desde a semana passada.

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Estão documentados os episódios que poderiam ter alterado a história. Um empréstimo para o Glasgow Rangers por volta de 2002, quando Messi era um projeto de jogador. O pedido de Fabio Capello a Frank Rijkaard, em 2005, para levá-lo para a Juventus. A intenção da Internazionale de Milão de pagar sua cláusula rescisória e lhe dar os minutos em campo que ele ainda não tinha. Nada, porém, chegou perto do que se deu em 2016, quando um processo por sonegação de impostos — caso em que foi condenado, junto com seu pai — levou Messi a desejar deixar a Espanha. De acordo com insiders, ele não só disse a Luis Enrique que queria sair, como telefonou para Pep Guardiola se oferecendo para jogar no Manchester City. Conta-se que Luis Suárez o convenceu de que viver na Inglaterra não seria uma experiência agradável, mas Messi declarou publicamente que, apesar de sua vontade de mudar de país, jamais recebeu uma proposta.

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A situação agora é mais tensa por causa de seu desgosto com uma diretoria que certamente preenche de orgulho o cartola brasileiro médio, tais os níveis de incapacidade e propensão à cafajestagem. O contrato de Messi lhe permite informar o clube, a cada final de temporada, se pretende continuar ou não. Dentro de um ano se saberá se a ameaça de deixar seu castelo foi fruto de irritação momentânea ou uma decisão amadurecida. Na Inglaterra, tradicionalistas com pouca familiaridade com o futebol se perguntam há anos “se Messi é capaz de jogar numa noite fria e chuvosa no campo do Stoke City”, uma tolice que não merece resposta e provavelmente nunca a terá, embora o silêncio fale alto, como se nota.