• Fernando Barbosa
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Alimentos na feira (Foto: Divulgação)

(Foto: Divulgação)

Pelo menos 13 alimentos hortifrutigranjeiros tiveram a produção e a venda afetadas pela pandemia do coronavírus em maio, segundo relatório do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP) divulgado nesta quarta-feira (17/6).

Todos os produtos analisados sofreram impactos, em maior ou menor escala, a depender do momento da safra, disponibilidade no mercado interno e da quantidade exportada. Alguns, com tomate, cenoura e cítricos, tiveram queda nos preços com o aumento na oferta e a demanda reduzida por conta das restrições para o escoamento da produção.

Apesar dos resultados negativos (veja abaixo o detalhamento, por alimento), o relatório do Cepea aponta quatro oportunidades podem ser aproveitadas na pandemia: o preparo das refeições no lar, um maior apelo por alimentos saudáveis, a adoção de canais digitais para a entrega aos consumidores e o incentivo às exportações por conta da valorização do dólar.

“O real desvalorizado e a desorganização parcial do sistema produtivo agrícola de vários países, como os Estados Unidos e nações da Europa e do Mercosul, podem ser uma oportunidade para o setor de frutas e hortaliças, especialmente para o Mercosul”, afirma.

Negócios on-line

Outra tendência apontada pela instituição de pesquisa é a adoção, cada vez mais intensa, do comércio on-line para o setor de alimentos, algo não tão frequente antes da pandemia. Os supermercados passaram a incrementar as vendas por meio de aplicativos, enquanto os feirantes buscam se adaptar com modelos de entrega em casa ou feiras drive-thru.

Por outro lado, entre os principais desafios para o setor, estão o prazo curto de prateleira de produtos, já que boa parte é perecível, a dificuldade nas vendas de frutas e hortaliças em meio à perda no poder de compra da população com a crise, o funcionamento parcial de bares, restaurantes e padarias e a dificuldade de produção de cadeias produtivas mais longas.

"Com a limitada capacidade de compra do consumidor brasileiro daqui por diante e, em especial, no segundo semestre, frutas e hortaliças mais caras podem ter limitação nas vendas por conta da queda de renda do consumidor"

Relatório do Cepea sobre efeitos da pandemia nos hortifrútis

Impacto por produto

tomate-hortifruti (Foto: Andy Rogers/CCommons)

(Foto: Andy Rogers/CCommons)

Tomate

Com o avanço da safra de inverno em maio e a menor demanda por conta dos efeitos da pandemia de Covid-19, as cotações tiveram redução de 23,24% nas roças e de 20,77% nos atacados, com médias de R$ 39,60 e de R$ 30,25 pela caixa, respectivamente.

“As principais regiões produtoras de tomate de mesa devem ter retração de 10% em 2020 frente à safra de inverno 2019", diz o relatório. Segundo o Cepea, antes do coronavírus a projeção era de recuo de 6%, mas "esse ajuste na oferta pode resultar em um equilíbrio maior com a demanda mais restrita no período”.

cenoura (Foto: Max Pixel/Creative Commons)

(Foto: Max Pixel/Creative Commons)


Cenoura

Se por um lado a oferta esteve controlada em maio, devido às chuvas durante o plantio e desenvolvimento em Minas Gerais, por outro, o preço da caixa de 29 quilos de cenoura registrou queda de de 29,5% em São Gotardo (MG) na comparação com abril, a R$ 30,63.

"O isolamento social ainda deve afetar a procura por cenoura. Porém, a flexibilização em alguns estados, como MG, RS, PR e SC, pode contribuir para um melhor escoamento. Com maior produção esperada e demanda ainda instável, os preços devem cair e a rentabilidade do produtor pode se reduzir em junho", afirma a instituição de pesquisa.

cultivar-alface-brs-mediterranea-embrapa (Foto: Ítalo Ludke/Embrapa)

(Foto: Ítalo Ludke/Embrapa)

Alface

O plantio da safra de inverno deste ano segue abaixo ao mesmo período do ano passado. De acordo com os pesquisadores, o menor consumo causado pelas restrições de isolamento social derrubou o preço em 13,34% no último mês, para R$ 11,25 pela caixa com 20 unidades.

“Diante do atual cenário de incertezas, o plantio diminuiu além do esperado, o que pode controlar a oferta e limitar quedas nos preços em junho. Além do impacto negativo na demanda, temperaturas mais baixas também podem favorecer a incidência de doenças fúngicas e bacterioses”, pontua o órgão.

Batata no PR (Foto: Jonathan Campos)

(Foto: Jonathan Campos)

Batata

Em meio à entressafra, a oferta de batatas foi menor aos consumidores em maio. O preço médio da saca de 50 kg variou muito entre as diferentes regiões, de R$ 142,59 até R$ 194, e poderia ser até maior não fossem as dificuldades de comercialização impostas pela pandemia.

“Com a colheita da safra das secas ganhando ritmo em junho, os preços devem recuar. O clima seco e ameno deve aumentar produtividade no Sudoeste Paulista, visto que é favorável ao desenvolvimento das lavouras. A expectativa é de que até o final de junho cerca de 90% da área da safra de inverno tenha sido plantada”, diz o Cepea.

cebola (Foto: Px Here/Creative Commons)

cebola (Foto: Px Here/Creative Commons)

Cebola

No caso da cebola, a temporada foi marcada por boa produção, diante das condições climáticas favoráveis. Entre novembro e janeiro, as cotações ficaram próximas dos custos de produção, mas se recuperaram de fevereiro a maio.

A expectativa é de que o aumento da colheita em Minas Gerais, Goiás e São Paulo deve elevar oferta nacional. "(Os preços) podem se estagnar em junho, por causa do aumento da oferta nacional, mas devem continuar em patamares atrativos ao produtor. O recebimento de cebolas da Europa e da Argentina ainda deve ocorrer em junho, mas em menor intensidade", afirmam os pesquisadores.

mamao-mamão-papay (Foto: Pxhere/CreativeCommons)

(Foto: Pxhere/CreativeCommons)

Mamão

Com exceção do Rio Grande do Norte e Ceará, o volume de mamão aumentou nas principais regiões produtoras em maio, mesmo em meio à demanda limitada em função do coronavírus. Como resultado, sobras e perdas consideráveis da fruta ocorreram nas roças, principalmente para a variedade formosa, que estava com oferta maior do que a fruta tipo havaí. 

A perspectiva é de que o clima mais frio pode desacelerar o desenvolvimento do mamão, restringindo a colheita de ambas as variedades em meados junho. "As cotações devem se manter pressionadas em junho diante da demanda ainda enfraquecida e do considerável volume nas roças”, diz o Cepea.

A guerra sem trégua contra o greening na laranja (Foto: Reprodução/Programa Globo Rural)

(Foto: Reprodução/Programa Globo Rural)

Citrus

Para os cítricos, além do isolamento social, o clima mais ameno impactou a comercialização de frutas em maio. Com o aumento da colheita de precoces, os preços da laranja de mesa no mercado spot paulista recuaram 19,6%. Por outro lado, a tangerina poncã teve preços mais firmes, já que a oferta está controlada.

“O início da moagem pela indústria deve controlar a oferta de precoces no mercado de mesa, amenizando o movimento de queda nos preços. A demanda, contudo, ainda deve ser um limitante. A colheita de tangerina poncã e de lima ácida tahiti deve ter menor ritmo em SP em junho, e os preços podem aumentar”, analisa a instituição de pesquisa.

maça-alimento-mercado (Foto: Globo Rural)

(Foto: Globo Rural)

Maçã

Segundo pesquisadores, a dinâmica do mercado nacional de maçã está diferente nesta safra. Isso porque houve reduções no volume no calibre colhido, cenário que estimulou o aumento dos preços das graúdas, mesmo diante da demanda doméstica enfraquecida, e colaborou para uma maior importação até maio.

“Com escolas, cozinhas industriais e restaurantes fechados, demanda por miúdas Cat 3 pode seguir limitada em junho, pressionando as cotações. A menor oferta de graúdas deve continuar sustentando cotações em junho, com tendência de leve alta”, prevê o Cepea.

como-plantar-melancia (Foto: Pixabay)

como-plantar-melancia (Foto: Pixabay)

Melancia

As cotações da melancia estiveram operaram em alta no último mês. De acordo com agentes, a oferta reduzida no mercado interno impulsionou os preços, ainda que a demanda tenha sido fraca. O clima mais firme em Uruana (GO) foi favorável à colheita, que vem ganhando ritmo.

Ainda assim, a disponibilidade nacional foi baixa, principalmente após o término da safrinha em Itápolis (SP) em abril, já que houve redução de área e de produtividade em Goiás. “A oferta reduzida pode resultar em preços firmes em junho. A demanda, contudo, pode ser um limitante, devido ao clima um pouco mais frio e ao coronavírus”, cita o relatório.

melao-aracati-ceara-frutas (Foto: Drawlio Joca/Ed. Globo)

(Foto: Drawlio Joca/Ed. Globo)

Melão

No caso do melão, maio registrou leve incremento no volume colhido da safra principal no Vale do São Francisco (Bahia e Pernambuco), mas essa oferta permaneceu menor do que a das últimas safras.

Mesmo assim, o preço recuou consideravelmente, visto que a demanda doméstica foi bastante afetada pela continuidade da quarentena, pelo enfraquecimento da economia e pelo clima mais frio nos principais centros consumidores, como o Sudeste.

“A procura deve continuar desaquecida em junho, devido à chegada do inverno e às medidas adotadas para contenção do coronavírus – que estão afetando a economia nacional. Valores do melão amarelo devem continuar pressionados em junho, diante da demanda ainda limitada e da oferta constante do Vale do São Francisco, mesmo que a região não alcance os volumes de outras safras”, pontua o Cepea em seu relatório.

manga-fruta (Foto: Pexels/Creative Commons)

(Foto: Pexels/Creative Commons)

Manga

Os preços da manga tommy e palmer subiram expressivamente no mês passado, por causa da baixa oferta em todas as praças acompanhadas. A demanda externa, por sua vez, esteve aquecida. Para se ter ideia, a valorização da palmer foi de 148% no Vale do Rio São Francisco.

“As temperaturas um pouco mais baixas e a ausência de chuvas auxiliam os pomares em fase de indução floral no Vale do São Francisco. A previsão ainda é de oferta controlada em junho, diante de problemas de produtividade em MG e em Livramento de Nossa Senhora (BA)”, diz trecho do documento.

agricultura_banana (Foto: Thinkstock)

(Foto: Thinkstock)

Banana

Com a intensificação da colheita de banana nanica, o preço da variedade recuou na principais regiões produtoras em maio. Agentes relataram dificuldades nas vendas durante todo o mês, devido à prorrogação da quarentena e ao menor poder de compra dos comerciantes – houve redução até mesmo o volume destinado aos supermercados.

Para a prata, o entrave na comercialização foi preços elevados que vinham sendo praticados anteriormente. Neste cenário, segundo produtores, as exportações ao Mercosul têm sido uma alternativa para escoar a oferta e não sobrecarregar o mercado interno.

“Com o consumo ainda comprometido e o leve aumento da oferta, os preços podem recuar em junho. Sem perspectiva de retorno das aulas neste mês, a demanda deve continuar limitada para pequenos produtores e cooperativas”, analisa a instituição de pesquisa.

hortifruti_uvas (Foto: Divulgação)

(Foto: Divulgação)

Uva

Para a uva, os preços tiveram leve queda em maio, devido ao pico de colheita no Sul e Sudeste, superando patamares registrados em 2019. Em Marialva (PR), apesar da ótima qualidade, a demanda restrita e a alta na produção pressionaram as cotações, e a variedade Itália teve queda de 4,7% no último mês.

Apesar disso, não houve problemas com o escoamento, já que a oferta e a qualidade das uvas do Vale do São Francisco ainda foram limitadas. Esse cenário resultou em grande amplitude nos preços da região nordestina em maio, além de motivar, no final do mês, a colheita de uvas fora da maturação ideal no Paraná.

“O volume de uvas finas deve aumentar no mercado interno em junho, devido ao pico de safra em Marialva (PR). Por outro lado, os produtores de São Miguel Arcanjo e Pilar do Sul (SP) devem iniciar as podas para a safra 2020/21 em meados de julho”, completa o Cepea.