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Educação

Precisaremos de políticas de longo prazo para recuperar perdas com a pandemia

A ampliação da vacinação e as perspectivas de queda sustentável no número de mortes por Covid têm intensificado o movimento de retorno às aulas presenciais. Claro que ainda não se vislumbra a normalidade tal como antes, pois, enquanto o vírus e suas novas variantes estiverem circulando, seguiremos em estágio de atenção e cuidado. Mas a questão principal – além da garantia fundamental de que o retorno aconteça de forma segura – é o que fazer para recuperar perdas.

De certo que serão necessárias ações concentradas nesse primeiro momento, como políticas de busca ativa, acolhimento e reforço pedagógico. Porém, nem o melhor sistema educacional do mundo seria capaz de reverter em poucos meses graves prejuízos acumulados em um ano e meio de pandemia. Precisaremos, portanto, de estratégias de longo prazo. Para algumas delas não é preciso inventar a roda, pois focam em problemas já identificados antes da pandemia e para os quais já temos experiência acumulada de erros e acertos. 

É o caso, por exemplo, da ampliação do número de escolas em tempo integral, meta que inclusive consta do Plano Nacional de Educação. Este é um típico debate que não deve ser feito de forma binária. A depender de como a política é implementada, o aumento da jornada diária pode trazer resultados frustrantes ou positivos.

Na média geral do Brasil, escolas estaduais de ensino médio em tempo integral apresentam Ideb de 4,7 pontos, ante 3,9 das demais. Esse dado, por si só, não prova que a política seja efetiva, pois o melhor resultado pode ser fruto de um viés na seleção dos alunos. Por isso é importante olhar para a experiência de redes que têm conseguido massificar sem perda de qualidade. É o caso de Pernambuco, onde 65% das matrículas no ensino médio já são em tempo integral. A rede estadual tem o terceiro melhor Ideb do país, menor distância na aprendizagem entre alunos de alto e baixo nível socioecômico, e as menores taxas de evasão entre redes estaduais nesta etapa. A política pública que levou a esses resultados não se resume ao ensino integral, mas gestores locais a apontam como uma das principais.

Outra política educacional que não pode ser analisada de forma binária é a expansão do ensino profissionalizante integrado ao médio. Assim como no caso das escolas em tempo integral, os resultados dos alunos nessa modalidade são significativamente melhores, ainda que não possamos descartar que a principal explicação para isso seja um viés na seleção de alunos. Mas é possível também identificar resultados promissores. A rede estadual do Ceará, por exemplo, é a que tem mais escolas profissionalizantes integradas ao ensino médio (18%, ante uma média nacional de 5%). Elas puxam para cima a aprendizagem em matemática e língua portuguesa na rede, um indicativo de que é possível expandir sem perda de qualidade.

Esses são apenas alguns exemplos de políticas no campo da educação que, se bem implementadas, podem ajudar a reverter no médio e longo prazo os prejuízos causados pela pandemia. Mas elas obviamente só serão efetivas para aqueles que permaneceram na escola.  Para os jovens mais vulneráveis e que deixaram de estudar durante a pandemia, o esforço para trazê-los de volta demandará ações além do campo educacional. No curto prazo, essa será a maior de nossas prioridades.

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