Rio Bairros

Contradições na liderança estadual de Niterói no ranking do IDH

Primeiro lugar no Rio, cidade perde posições a nível nacional e enfrenta desafios em saúde e educação

Longevidade. Idoso se exercita no Campo de São Bento ador obteve 0,854 no IDH
Foto: Márcio Alves
Longevidade. Idoso se exercita no Campo de São Bento ador obteve 0,854 no IDH Foto: Márcio Alves

NITERÓI - Divulgado pela ONU na última semana, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi motivo de comemoração em Niterói. Afinal, a cidade é a única no Estado do Rio no rol de 44 municípios brasileiros considerados detentores de nível muito alto de desenvolvimento. O pioneirismo de Niterói no ranking estadual é antigo: a cidade figura na listagem desde 1991, quando o IDH foi divulgado pela primeira vez no país. Agora, os dados traduzem facetas preocupantes. Niterói era a terceira cidade em qualidade de vida nos anos 90, e hoje está em sétimo lugar nacional.

A derrocada no resultado reflete a realidade percebida nas ruas. A cidade tem problemas de mobilidade urbana e experimentou poucos avanços em saúde e educação, dois dos indicadores em que se baseia o IDH. O terceiro é a renda, no qual a cidade obteve sua melhor nota (0,887). A composição dos três dados resulta numa média de 0 a 1. Este ano, Niterói ficou com 0,837.

- O que leva Niterói ao topo é o indicador de renda. Mas, na verdade, quem concentra a renda da cidade são as classes média e alta, que trabalham em bons empregos no Rio. Os empregos que existem em Niterói estão no comércio e em serviços menos qualificados e são ocupados, em sua maioria, por pessoas que moram em São Gonçalo. Isso mostra que a riqueza de Niterói não é reflexo de um dinamismo econômico do município - analisa o professor da UFRJ Mauro Osório, doutor em planejamento urbano regional. - Os serviços públicos de Niterói pioraram muito nos últimos anos. Houve muito pouco investimento. Então, o IDH é um dado que mais esconde a realidade do que revela.

Professor de Administração Pública da UFF, Cláudio Gurgel alerta que o IDH não pode ser analisado sem se levar em conta o fato de Niterói ser uma cidade-dormitório. Acredita, porém, que ele pode orientar políticas públicas:

- Niterói perdeu posições no ranking porque a renda nacional subiu de forma geral e por causa dos problemas que desqualificam a cidade em relação à saúde. O que aconteceu no Morro do Bumba, por exemplo, é um problema de moradia, considerado dentro do indicador de saúde pela ONU. A situação de Niterói é consequência da proximidade com o Rio e da oferta da rede de ensino privado.

O indicador relativo à educação ficou em 0,773, o que representa um aumento de 13% em relação ao último IDH. Apesar do crescimento, a cidade não atingiu as metas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do Ministério da Educação, em 2012.

Para diminuir o déficit educacional, a prefeitura acena com o projeto Mais Infância, por meio do qual promete construir 20 creches até 2016.

- Nós comemoramos o IDH, que é um dado estatístico importante, porque reflete considerações sobre expectativa de vida, mortalidade infantil, renda e escolaridade. Entretanto, ele é insuficiente para dar conta de todos os aspectos da vida social e política da cidade. Há um descompasso entre o que a cidade arrecada e o que investe. Nossa meta é criar condições para, daqui a dez anos, retomar a posição entre as três melhores cidades do país no IDH. Para isso, é evidente que precisamos ampliar a oferta de ensino, sobretudo na educação infantil, e investir em saúde, como estamos fazendo com o Getulinho - afirma o prefeito Rodrigo Neves.