Vacina

Por G1


Profissional de saúde prepara vacina necessária para retorno às aulas em Los Angeles, Califórnia, no dia 12 de agosto. — Foto: Valerie Macon/AFP

A vacina BNT162b1, uma das candidatas a imunização contra a Covid-19 das farmacêuticas BioNTech e Pfizer, induziu a produção de anticorpos e a resposta de células de defesa nos testes em humanos, mostram resultados preliminares de fases 1 e 2 aceitos para publicação e disponibilizados on-line nesta quarta-feira (30) na revista científica "Nature", uma das mais importantes do mundo.

Não houve efeitos colaterais graves, mas as farmacêuticas já haviam anunciado, no fim de julho, que não testariam a vacina em ensaios de fase 2 e 3 – e sim uma outra candidata, a BNT162b2, que gerou menos reações após a aplicação.

Pouco antes do anúncio, ambém em julho, a BioNTech e Pfizer também haviam recebido autorização para testar ambas as versões no Brasil – em Salvador e São Paulo. As outras que passam por ensaios em solo brasileiro são as vacinas produzidas pela Johnson, pela Universidde de Oxford e pela Sinovac.

Os testes

Os cientistas testaram doses de 1 a 60 µg (microgramas) da BNT162b1, com reforço para todas elas exceto a de 60µg. As doses que foram aplicadas com reforço geraram respostas "robustas" de anticorpos e de células T, um tipo de célula de defesa do organismo que pode indicar uma imunidade a longo prazo contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2). Já houve casos relatados na ciência em que pessoas expostas ao vírus apresentavam células T específicas contra ele mesmo sem os anticorpos.

As células T vistas foram tanto do tipo CD4+ como do tipo CD8+: as primeiras, conhecidas como "auxiliares", sinalizam para a produção de anticorpos e para as células CD8+, que destroem as células infectadas pelo vírus.

As doses da vacina também conseguiram induzir a produção de um tipo de anticorpo, o IgG, em concentrações maiores do que as vistas em pessoas que já haviam se recuperado da Covid-19 (foram coletadas amostras de 38 pacientes convalescentes). A dose de 1µg foi capaz de induzir uma concentração 0,7 vezes maior, e a dose de 50 µg induziu uma concentração 3,5 vezes mais alta (veja detalhes dos testes mais abaixo).

Isso é importante porque a ciência ainda não sabe, exatamente, qual é a quantidade de anticorpos neutralizantes capaz de proteger alguém da doença.

Os resultados, apontam os cientistas, "sugerem múltiplos mecanismos benéficos com potencial para proteger contra a Covid-19".

Os testes foram feitos na Alemanha, entre 23 de abril e 22 de maio, com 60 voluntários saudáveis com 18 a 55 anos de idade, divididos em cinco grupos com 12 integrantes cada um. Eles receberam doses de 1µg, 10µg, 30µg, 50µg ou 60µg da vacina. Os cientistas sinalizaram o pequeno número de participantes como uma limitação do estudo.

Uma segunda dose da vacina foi aplicada em todos os participantes – exceto em dois que saíram do estudo antes da segunda imunização, por motivos pessoais – e nos que receberam a maior dose, de 60µg. Os cientistas decidiram não aplicar uma segunda dose de 60µg por causa da intensidade dos efeitos colaterais vistos no reforço da dose de 50µg. Ao medir a resposta imune gerada pela única aplicação de 60µg, entretanto, concluíram que uma dose de reforço era necessária.

Segundo os cientistas, os anticorpos neutralizantes gerados pelas duas doses da vacina mostraram um declínio no 43º dia após a vacinação; os cientistas ainda pretendem medir, nos próximos seis meses, quanto tempo duraram os anticorpos dos participantes deste estudo. Pesquisas anteriores já haviam mostrado que os anticorpos para o Sars-CoV-2 tendem a desaparecer depois de algum tempo.

Nos testes, os voluntários sabiam que estavam sendo vacinados para a Covid-19 (não foi um estudo do tipo "duplo-cego", em que nem os pesquisadores, nem os participantes sabem quem recebeu a vacina e quem recebeu uma substância inativa, o placebo). Além disso, os voluntários não foram alocados de forma aleatória (randomizados) para receber ou não a vacina, porque também não houve grupo controle (que recebe o placebo).

As farmacêuticas já haviam feito testes randomizados e com duplo-cego e publicado os resultados no mês passado, também na "Nature". Os dados iniciais – pois os resultados ainda estão sendo estudados – apontaram que a BNT162b1, além de segura, tinha conseguido induzir a geração de anticorpos em humanos.

Vacina de RNA

Reprodução em 3D do modelo do novo coronavírus (Sars-CoV-2) criada pela Visual Science. Dentro do verde mais claro, as bolinhas vermelhas representam o 'centro' do vírus, o genoma de RNA; as bolinhas verdes são proteínas 'especiais', que protegem esse material genético. Ao redor do verde, o vermelho mais fraco é a 'casca', feita de uma membrana retirada da célula hospedeira. O vermelho mais vivo são as proteínas 'matrizes' codificadas pelo vírus. As 'pontas' que saem do vírus são as 'lanças de proteínas', que o vírus usa para se conectar às células hospedeiras e infectá-las. — Foto: Reprodução/Visual Science

A vacina candidata da BioNTech e Pfizer usa a tecnologia de RNA, que ainda não foi aplicada em nenhuma imunização no mercado. Nessa técnica, os cientistas introduzem uma sequência de mRNA (a molécula que diz às células o que construir) que codifica uma parte (proteína) específica do vírus, chamada de antígeno.

Quando essa molécula é colocada no corpo, ele mesmo produz esses antígenos do vírus, que passam a ser reconhecidos pelo sistema imune – preparando-o para o "combate" com o vírus "verdadeiro", se um dia entrar em contato com ele.

No caso da vacina da BioNTech e Pfizer, a parte do vírus que é codificada é uma região da proteína S, que o vírus usa para infectar as células humanas.

Como funcionam as 3 fases

Nos testes de uma vacina – normalmente divididos em fase 1, 2, e 3 – os cientistas tentam identificar efeitos adversos graves e se a imunização foi capaz de induzir uma resposta imune, ou seja, uma resposta do sistema de defesa do corpo.

Os testes de fase 1 costumam envolver dezenas de voluntários; os de fase 2, centenas; e os de fase 3, milhares. Essas fases costumam ser conduzidas separadamente, mas, por causa da urgência em achar uma imunização da Covid-19, várias empresas têm realizado mais de uma etapa ao mesmo tempo.

Antes de começar os testes em humanos, as vacinas são testadas em animais – normalmente em camundongos e, depois, em macacos.

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