Coronavírus

Por Sarah Resende, G1 — São Paulo


Brasil supera as 100 mil mortes por coronavírus — Foto: Guilherme Luiz Pereira/G1

Cerca de cinco meses após os registros oficiais dos primeiros casos do coronavírus Sars-Cov-2 no Brasil, em março desde ano, o país atingiu neste sábado (8) a marca de 100 mil óbitos causados pela Covid-19. O número é o dobro das vidas perdidas pela tropa brasileira na Guerra do Paraguai, segundo estimativas. Também é mais que o dobro do total de brasileiros que contraíram a gripe espanhola. Considerando todas as vítimas de acidentes aéreos do planeta nos últimos 60 anos, só no Brasil a Covid-19 matou três vezes mais.

  • Guerra do Paraguai: cerca de 50 mil integrantes da tropa brasileira morreram, de 1864 a 1870. De acordo com o IBGE, a estimativa da população em 1869 era de 10.415.000. Em 1872, no 1º censo realizado no Brasil, dois anos após o fim do conflito, a população era de 9.930.478
  • Gripe espanhola: cerca de 35 mil brasileiros, de 1918 a 1919. De acordo com o IBGE, em 1920, dois anos após o primeiro caso da doença no país, a população estimada era de 30.635.605.
  • Acidentes aéreos comerciais: 30.330 pessoas perderam a vida em todo o mundo, de 1959 a 2018.

Por causa da falta de registros oficiais, os dados históricos são estimativas de estudiosos. Para comparações com a população das referidas épocas, o G1 consultou as estatísticas do povoamento (evolução da população brasileira) do site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para fazer o cálculo de acidentes aéreos, o G1 consultou o relatório Statistical Summary of Commercial Jet Airplane Accidents (Resumo estatístico de acidentes com aviões comerciais a jato, em tradução livre), publicado pela Boeing em 2019.

Guerra do Paraguai

Soldados brasileiros no povoado de Tuiu-Cuê durante a Guerra do Paraguai. — Foto: Fundação Biblioteca Nacional

Considerado um dos maiores conflitos armados da América Latina, a Guerra do Paraguai matou combatentes das tropas brasileira, uruguaia e argentina (que formavam a Tríplice Aliança), além de ter dizimado a população masculina paraguaia no período em que durou, de 1864 a 1870. Historiadores consideram que até hoje o Paraguai não se recuperou plenamente das consequências do conflito.

No Brasil, a batalha teve como cenários os estados Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. "Muitos pesquisadores apontam mais, mas se considerarmos apenas os mortos brasileiros 50 mil é um número próximo à realidade histórica", diz Mauro César Silveira, historiador, jornalista e autor do livro "A Batalha de Papel, a charge como arma na guerra contra o Paraguai" (Edufsc). A tropa brasileira era formada, inclusive, por escravos trazidos da África e indígenas.

"É mais difícil ainda estimar mortos do outro lado. Mas foram muito, muito mais. Morreram nos combates, de doenças como cólera, e de fome", diz Silveira.

Não há estatísticas precisas sobre o total de habitantes do Paraguai na época, mas diferentes autores afirmam que a população total variava de 400 mil a 1,2 milhão de pessoas. O número de mortos muda conforme a estimativa sobre o total de habitantes. No livro “Genocídio Americano: a Guerra do Paraguai”, Julio José Chiavenatto aponta que o Paraguai tinha aproximadamente 800 mil habitantes no início da guerra e, após o confronto, restariam pouco mais de 2 mil homens acima de 20 anos. O restante da população seria formado por aproximadamente 9 mil meninos até 10 anos e cerca de 180 mil mulheres.

Já o historiador Francisco Doratioto, professor da Universidade de Brasília (UnB), calcula em seu livro “Maldita Guerra” que o total de habitantes do Paraguai variava de 285 mil a 450 mil pessoas, e as perdas ficaram entre 28 mil e 278 mil pessoas.

O confronto terminou somente com a morte do líder paraguaio, Solano López, em março de 1870, quando foi ferido por um golpe de lança e atingido com um tiro de fuzil. As consequências foram nefastas: além de ser saqueado, ter a população dizimada e toda a infraestrutura destruída, o Paraguai ainda teve de pagar uma dívida de guerra ao Brasil até 1943.

Gripe espanhola

Vírus da gripe espanhola de 1918 — Foto: CDC/Phanie/AFP/Arquivo

Há 102 anos, o planeta viveu a maior pandemia do século 20 causada pela chamada gripe espanhola. O vírus da gripe espanhola era um subtipo de outro que hoje conhecemos bem, o Influenza A, também chamado de H1N1.

A falta de registros oficiais dificulta a contagem exata mas, segundo historiadores, o mundo perdeu 50 milhões de vidas nos anos de 1918 e 1919. No Brasil, a estimativa é que 35 mil pessoas tenham sido vítimas da gripe espanhola. Na época, o Rio de Janeiro, então capital do país, era a única cidade brasileira com mais de 1 milhão de habitantes. De acordo com o IBGE, em 1920, dois anos após o primeiro caso de gripe espanhola no país, a população estimada era de 30.635.605.

A doença chegou ao Brasil no navio inglês Demerara, que zarpou de Liverpool, passou por Lisboa (Portugal); Dakar (Senegal) e então chegou ao Brasil, primeiro em Recife (PE), depois em Salvador (BA) e, por fim, no Rio de Janeiro (RJ) no dia 16 de setembro de 1918.

Gripe espanhola, maior pandemia do século 20, matou 50 milhões de pessoas no mundo todo

Gripe espanhola, maior pandemia do século 20, matou 50 milhões de pessoas no mundo todo

Muitas pessoas morreram de um dia para o outro. Os sintomas mais graves incluíam pele azulada, pela falta de oxigênio; e hemorragias internas severas. A gripe espanhola vitimou, inclusive, um presidente do Brasil, Rodrigues Alves, que tinha acabado de ser reeleito e morreu antes de tomar posse.

Diferente do que sugere o nome, a gripe espanhola teria surgido nos Estados Unidos, e então levada pelos soldados americanos que iriam para o combate da 1ª Guerra Mundial na Europa. A doença se alastrou e, no fim do conflito, já matava mais que tiros e explosões do enfrentamento entre países. Neutra no confronto, coube a Espanha divulgar informações sobre a doença, ao contrário de outros países — por isso a enfermidade ficou conhecida como gripe espanhola.

Acidentes aéreos com aviões comerciais em todo o mundo

Avião da Gol que caiu em Mato Grosso em 2006 após bater em jato Legacy vitimou 154 pessoas. — Foto: FAB/Divulgação

De acordo com o levantamento da Boeing com dados apurados de 1959 a 2018, 30.330 pessoas morreram em acidentes aéreos comerciais em todo mundo. Em cinco meses de pandemia só no Brasil, o número de óbitos registrados no país foi mais de 3 vezes que o de acidentes aéreos no mundo todo.

No Brasil, as duas maiores tragédias da aviação mataram 341 pessoas.

Em 18 de setembro de 2006, o avião da Gol que azia o voo 1907, entre Manaus e Rio de Janeiro, caiu após se chocar com um jato Legacy que seguia para os Estados Unidos, com sete pessoas a bordo. O acidente deixou 154 mortos, entre passageiros e tripulantes do avião da Gol. O Legacy conseguiu pousar numa base aérea no Pará e todos os ocupantes sobreviveram.

Em 17 de julho de 2007, um avião da TAM se chocou contra um prédio da empresa ao lado do Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul de São Paulo, e pegou fogo, causando a morte das 187 pessoas (entre gente que estava a bordo e outras que estavam no solo).

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